sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

PROFESSOR ANTÔNIO ROBERTO - NR.

DESCRIÇÃO DO PROFESSOR ANTÔNIO ROBERTO

O PRIMEIRO JEGUE APOSENTADO.

Antônio Roberto Mendes Martins

            A estrada de ferro chegou a Nova Russas nos bro-o-brós de 1910. Como não havia o ramal entre Sobral e Fortaleza, o algodão viajava para a Europa e os Esteites via o porto de Camocim. Pelo oeste NVA recolhia toda a produção do “pé da serra” da Ibiapaba e pelo leste desta região dos contrafortes da Serra das Matas. Como era uma grande quantidade, careceu de ter algum valor agregado, e este valor foi o “beneficiamento” que consistia do descaroçamento, produção e  prensamento da pluma. Daqui seguia para eles fazerem suas roupas, indústria química, tais como explosivos e etc. para se matarem nas suas guerras.

            Tal beneficiamento trouxe para NVA alguns motores (coisas raras) a vapor. As usinas principais foram a do Sr. Alfredo Gomes com Gildo Martins, que também produzia energia elétrica. Do Sr. Antonio Joaquim, do Sr. José Rosa e Casa Machado. Todas levavam a água para refrigeração e produção do vapor, daquelas cacimbas do nosso conhecido e “famigerado” rio Curtume. Foi aí que na pequena cidade ficou famoso um jegue.

              Jurema, jumentão grande e inteiro, ou seja, não era castrado, tinha como sina levar quatro barricas que nós chamávamos canecos, cheios de água para a usina. Dolentemente ele subia e descia esta rua que hoje é a mais central. Nada perturbava o Jurema. Nada, não! Neste tempo jegues pululavam pelas ruas. Muitos, logicamente, com suas fêmeas. Aí  tava, quando Jurema sentia o cheiro do cio da “colega”, adeus! Ninguém o segurava. Derrubava cangalha com canecos, com tudo, até o fato consumado, fosse onde fosse. Nada o parava.

            Diante da força e potencia do animal, seu dono acresentou-lhe uma bolandeira. Bolandeira é uma grande roda que girando com velocidade angular pequena, transmite através de uma correia uma grande velocidade para o “caititu”, pequeno cilindro com pontas metálicas que ralam a mandioca para fazer farinha. No caso da Jurema foi um cilindro cheio d’água que ele puxava além dos quatro tonéis que levava nas costas.

              Jurema, sobrecarregado comportou-se? Qual o que? Certo dia uma cara metade cruzou-lhe o caminho. Na subida da rua, Jurema rinchou,... e arrancou. Quebrou tudo que foi arreios e se danou atrás da “de cujas”.  Correu quase a cidade toda, no tempo que as portas ficavam abertas. A jumenta entrou logo na casa do juiz, Jurema também. A senhora dona da casa correu com as filhas e trancou-se na cozinha. Não deu outra, foi na sala de visitas da casa.

                O juiz que estava viajando, ao chegar teve uma reunião com o proprietário de Jurema. Conversa vai e conversa vem, o juiz, de comum acordo com o Sr. Alfredo Gomes, aposentou Jurema. Talvez o primeiro jegue aposentado por “bravura”.

*Antônio Roberto Mendes Martins
- Mestre em Física –
Professor Universitário (UFC) - novarrussense – residente em Nova-Russas.



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