DESCRIÇÃO DO PROFESSOR ANTÔNIO ROBERTO
O
PRIMEIRO JEGUE APOSENTADO.
Antônio Roberto Mendes Martins
A estrada de ferro chegou a Nova Russas nos
bro-o-brós de 1910. Como não havia o ramal entre Sobral e Fortaleza, o algodão
viajava para a Europa e os Esteites via o porto de Camocim. Pelo oeste NVA
recolhia toda a produção do “pé da serra” da Ibiapaba e pelo leste desta região
dos contrafortes da Serra das Matas. Como era uma grande quantidade, careceu de
ter algum valor agregado, e este valor foi o “beneficiamento” que consistia do
descaroçamento, produção e prensamento da pluma. Daqui seguia para eles
fazerem suas roupas, indústria química, tais como explosivos e etc. para se
matarem nas suas guerras.
Tal beneficiamento trouxe para NVA alguns motores (coisas raras) a vapor. As
usinas principais foram a do Sr. Alfredo Gomes com Gildo Martins, que também
produzia energia elétrica. Do Sr. Antonio Joaquim, do Sr. José Rosa e Casa
Machado. Todas levavam a água para refrigeração e produção do vapor, daquelas
cacimbas do nosso conhecido e “famigerado” rio Curtume. Foi aí que na pequena
cidade ficou famoso um jegue.
Jurema, jumentão grande e inteiro, ou seja, não era castrado, tinha como sina
levar quatro barricas que nós chamávamos canecos, cheios de água para a usina.
Dolentemente ele subia e descia esta rua que hoje é a mais central. Nada
perturbava o Jurema. Nada, não! Neste tempo jegues pululavam pelas ruas.
Muitos, logicamente, com suas fêmeas. Aí tava, quando Jurema sentia o
cheiro do cio da “colega”, adeus! Ninguém o segurava. Derrubava cangalha com
canecos, com tudo, até o fato consumado, fosse onde fosse. Nada o parava.
Diante da força e potencia do animal, seu dono acresentou-lhe uma bolandeira.
Bolandeira é uma grande roda que girando com velocidade angular pequena,
transmite através de uma correia uma grande velocidade para o “caititu”, pequeno
cilindro com pontas metálicas que ralam a mandioca para fazer farinha. No caso da
Jurema foi um cilindro cheio d’água que ele puxava além dos quatro tonéis que
levava nas costas.
Jurema, sobrecarregado comportou-se? Qual o que? Certo dia uma cara metade
cruzou-lhe o caminho. Na subida da rua, Jurema rinchou,... e arrancou. Quebrou
tudo que foi arreios e se danou atrás da “de cujas”. Correu quase a
cidade toda, no tempo que as portas ficavam abertas. A jumenta entrou logo na
casa do juiz, Jurema também. A senhora dona da casa correu com as filhas e
trancou-se na cozinha. Não deu outra, foi na sala de visitas da casa.
O juiz que estava viajando, ao chegar teve uma reunião com o proprietário de
Jurema. Conversa vai e conversa vem, o juiz, de comum acordo com o Sr. Alfredo
Gomes, aposentou Jurema. Talvez o primeiro jegue aposentado por “bravura”.
*Antônio Roberto
Mendes Martins
- Mestre em
Física –
Professor Universitário
(UFC) - novarrussense – residente em Nova-Russas.
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