COMENTÁRIO
Paulo de Tarso Lustosa da
Costa
A SUCESSÃO: O MESMO DO MESMO OU A TOADA PODE MUDAR?
Embora muitos achem, como o velho
Magalhães Pinto, que a ”política é como nuvem; a gente olha para cima ela está
de um jeito, quando baixa a vista e a levanta outra vez, ela já mudou de
formato”, aparentemente tudo parece demonstrar que a sucessão presidencial não
apresentará novidades e deverá repetir os últimos pleitos: Lula comanda a festa
e o PT se garante por, pelo menos, mais quatro anos de mandato. Isto porque as
pesquisas, até o momento, mostram tal tendências. Os filhos do Bolsa-Família
não demonstram qualquer preocupação com questões tão elitizadas como superávit
primário, déficit da Previdência, o rombo nas contas externas, os descontroles
fiscais, o “pibinho” e uma inflação que teima em resistir, mesmo com uma taxa
de juros básicas nas alturas. E, como não há democracia a não ser pela maioria
votante, a tendência é que, por enquanto nada “balançará” a fidelidade dos
“eleitores da sobrevivência” a Lula e, por tabela, ao PT. A Oposição, até agora, não
estruturou um discurso capaz de sensibilizar os eleitores das classes C, D e, e
de tirar da comodidade os que, na classe A, se beneficiam da proximidade com o
poder. - Por outro lado, os partidos que
poderiam ameaçar a eleição de Dilma, pelas suas características, forma de
atuação e projeto de poder, máxime o PMDB, não tem qualquer preocupação com a
sucessão presidencial, por falta de compromissos doutrinários e históricos com
referido pleito e, por conseguinte, estão por demais enrredados com a
constituição de maiorias parlamentares, tanto a nível nacional como nos
estados, não sendo tentados a, por alguma circunstância, sequer pensar em
romper com Dilma. É muito mais interessante para tais agremiações, acenar para
o eleitor que, além de acalentar seus sonhos de poder local, estarão de bem com
o poder central ou o poder mais elevado! Esse diagnóstico fica bem patente quando se examina o caso do Rio de
Janeiro onde os atuais pré-candidatos; Pezão, Lindenberg, Garotinho e Crivella,
são palanques, já declarados, de Dilma, não restando, até agora, palanque
expressivo para Aécio ou Eduardo Campos. - Sabe-se que o PMDB não interfere nas opções que seus diretórios
regionais fazem em termos de eleição presidencial vez que, a estratégia do
partido é eleger o maior número de parlamentares e continuar sendo a força
política indispensável a garantir a governabilidade e a sustentação parlamentar
de qualquer presidente. Aliás, dizia o velho Tancredo que “ao PMDB não
interessava disputar o Reino, mas, tão somente, ser amigo do Rei”! Assim o velho PMDB das glórias
passadas, navega segundo tal desideratum e, a sua fidelidade a um candidato,
quem quer que seja, é precária e discutível. Embora tenha sido o velho PSD a
criar a figura da “Cristianização”, nos últimos pleitos, desde o início da Nova
República, tem sido o PMDB o partido a fazer uso de tal prática. Cristianizou
aquele que era a sua cara, a sua história e a sua glória que foi Ulysses
Guimarães, quando lhe fez amargar a pior das suas derrotas, terminando em sexto
lugar na disputa presidencial. Até o esperto do ex-governador de São Paulo,
Orestes Quércia, o “carcamano” como lhe chamava Ulysses, também foi traído pelo
partido. E até a musa do outrora MDB, a bela Rita Camata, candidata a vice de
José Serra, foi vítima do seu próprio partido. - Mas, agora, dizem alguns, comandado pelos homens mais espertos que a
política brasileira produziu nos últimos anos; Renan, Sarney, Henrique Eduardo
Alves, Eunício Oliveira, Eduardo Cunha, Valdyr Raupp, Eduardo Braga, Romero
Jucá, entre outros –, o PMDB ensaia uma insatisfação com a Presidente, tudo
“para inglês ver, com certeza, encenar e enganar a sua base para que ela
acredite que o rompante é para valer. E todos estão “carecas” de saber que, ao
fim e ao cabo, o PMDB vai se manter como aliado de Dilma, claro, aguardando os
tempos e as circunstâncias. Mas,
diriam alguns mais esperançosos, a insatisfação agora não é só do PMDB, que não
recuperou o Ministério da Integração além dos Fereira Gomes que não conseguiram
emplacar Ciro como Ministério da Saúde e, parece, não conseguirão manter o seu
aliado, Ministro Interino da Integração no cargo. Por outro lado, os demais
aliados tem reivindicações objetivas de cargos e posições, como é o caso do
PROS e do PP, este último pode perder o Ministério das Cidades enquanto os
primeiros não conseguirão fazer o ministro da Integração nem a Secretaria dos
Portos. Aí, a base fica balançada e, pode ocorrer que os palanques de Dilma fiquem
prejudicados. É claro
que o PT, ao agredir, gratuitamente, Eduardo Campos e Marina, ao desestabilizar
Ciro Gomes num trabalho de sapa para impedir o seu retorno a Esplanada, ao
gerar insatisfações mis na base aliada, contribui para que as coisas fiquem um
pouco mais complicadas para Dilma, levando-a, provavelmente a ter que disputar
um segundo turno. - E o que pode mudar a toada da sucessão? O que pode quebrar o marasmo, o
dejavú? Claro que os problemas de conciliação dos interesses partidários de
PMDB e PT, em estados expressivos como o Rio, São Paulo, Minas, Pernambuco,
Bahia, Ceará, Maranhão e Pará, poderão criar sérias dificuldades para Dilma.
Mas, quando Lula ingressar direto na negociação, ele tem uma ascendência tal
sobre o PT que ele pode reverter situações que o seu partido tornou Complicadas. - Porém outro fato pode mudar as
tendências, hoje previsíveis, da sucessão. É aquele relativo a, se a Oposição,
se recriar e conseguir construir alianças sustentáveis, nos estados, a partir
da capacidade de aproveitar as dissidências e rachas que estão a surgir na base
aliada. Mas também é preciso montar um discurso, não para as elites e para o
poder econômico, pois esse está dado (vide a análise de Cesar Maia), mas para
os filhos do Bolsa Família. E, só há uma maneira de chegar, com sucesso, a tal
resultado. E qual seria? - Fundamentalmente encontrando
bases e argumentos para contestar as três bandeiras básicas da plataforma de
Dilma. A primeira é a que diz respeito ao Bolsa-Família que Aécio, sabiamente,
acabou de propor ao Congresso para que ela seja uma conquista, em definitivo,
da sociedade, transformando-a em lei e, com isso, acabará com o discurso de que
alguém, o adversário do PT, ameaça acabar com tal programa. Ou seja, além de
suplantar a chantagem atual, ainda pode dar tempo para tirar a falsa
paternidade do programa das mãos do PT, haja visto que tal iniciativa foi do
antigo prefeito de Campinas, Magalhães Teixeira, já falecido. - A segunda bandeira diz respeito
ao PRONATEC, o grande programa de formação de mão de obra técnica que o país
tanto carece. Aécio deveria propor que uma lei específica deverá estabelecer
convênio com o sistema S, transferindo recursos para o mesmo, além de conclamar
as escolas técnicas públicas, sob o comanda das forças armadas e das polícias
militares, para um grande mutirão, com tempo e prazo determinado, para suprir
as carências do crescimento econômico do País. - A terceira bandeira diz respeito
ao programa Mais Médicos, onde Aécio ou Eduardo Campos, deveria, qualquer um
deles, antecipar que, proporia um esquema de estímulos especiais para os
médicos brasileiros irem para o interior, não só com a promessa de equipar as
unidades médicas do essencial e, ampliar as matrículas nas escolas de medicina,
odontologia, farmácia, etc, por todo o país, com ênfase nos municípios e
estados que apresentem uma relação médico por habitante, inferior a média
nacional, aí se tenha uma proposta consistente e sensibilizadora. - Fora a desmontagem de tais
bandeiras, a Oposição deverá chamar a atenção para as chagas ora sofridas, como
as secas do nordeste, as inundações e enchentes no Sul/Sudeste, a violência
urbana e o caos penitenciário, bem como a todas as promessas feitas e não
cumpridas, o que poderá se constituir na complementação do discurso. E, mais
que tudo, vender esperança, mesmo que inconsequente, como fazem populistas e
outros espertos!
*Paulo Lustosa – economista – político – foi
secretário de Planejamento CE – Ministro de Estado do governo Sarney – deputado
federal e foi candidato a governador e senador pelo Ceará.
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