COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O ABRANDAMENTO DA CORRUPÇÃO.
Nobres:
Quando existe resistência por
parte de elementos aliado s ao governo e maioria de seu partido, há uma tolerância
e até solidariedade de segmentos favorável a este tipo de conduta,
principalmente do “mensalão” em que grupos se cotizam para “criar fundos” para
uma causa vergonhosa (larápio). Essas ações estão sendo fomentada por um
poderoso grupo contra o presidente do STF em que procuram “manobrar segmentos
ideólogos e de populares de conhecimento limitado que em contrapartida procuram
se absorver em programas sociais de cunho eleitoreiro”. Para que estas gestões
não dispensam no erário como principal fonte para reverter em atos escusos (que
a popularidade “traz” como um grande favor que será retribuído com os votos). Afinal
se colima com esses atos corruptos, há, comumente, uma vertente interpretativa
do pensamento político e social brasileiro que é mobilizada para explicar os
casos de malversação de recursos públicos e uma suposta imoralidade do
brasileiro. O problema do patrimonialismo é comumente mobilizado para descrever
a corrupção, tendo em vista a cultura política, a economia, a política e a
sociedade, de acordo com o problema da modernização, do surgimento das modernas
burocracias e da legitimação da política moderna. A incorporação do conceito
weberiano de patrimonialismo, no âmbito de algumas interpretações do Brasil,
normalmente é o foco analítico para o problema da corrupção, os quais
recortarão a fim de compreender o modo como o conceito de corrupção é
construído no contexto das disputas intelectuais do pensamento social e
político brasileiro. É demonstração real da potencialidade corrupta que faz
império no País. Quando se abre o jornal, ou vê televisão, é raro não nos defrontarmos
com escândalos no mundo político. Casos de malversação de recursos públicos,
uso indevido da máquina administrativa, redes de clientelas e tantas outras
mazelas configuram uma sensação de mal-estar coletivo, em que sempre olhamos de
modo muito cético os rumos que a política, no Brasil, tem tomado. Criam-se,
dessa forma, um clamor moral e um clima de caça às bruxas que geram
instabilidade e um muro de lamentações e barreiras a projetos de políticas
públicas. Contudo, apesar dessa sucessão de escândalos no Brasil, existe uma
sensação de impotência por parte da sociedade; a corrupção é tolerada e os
cidadãos ficam apenas aguardando qual será o próximo escândalo que circulará
nos jornais. Essa sensação de mal-estar coletivo com a corrupção cria concepções
de senso comum acerca de uma natural desonestidade do brasileiro. Um dos traços
característicos do senso comum no Brasil é que o brasileiro típico tem um
caráter duvidoso e que, a princípio, não se nega a levar algum tipo de vantagem
no âmbito das relações sociais ordinárias. Por isso, vários indicadores de
confiança apontam o Brasil como um país onde a desconfiança impera. Para além
do senso comum, esse tipo de leitura da realidade social brasileira converge
para termos centrais das interpretações do país e a produção de conceitos no
mundo acadêmico também incorpora esse tipo de visão, sendo o brasileiro típico
um cidadão voltado para seus desejos agonísticos, que se expressam em formas
sociais tais como o jeitinho e a malandragem. Culpa-se, sobremaneira, nossa
herança histórica deixada pelo mundo ibérico, que teria feito com que o Brasil
não conhecesse o processo de racionalização típico do Ocidente e incorporasse
os valores e princípios do mundo protestante, ascético e voltado para uma ética
dos deveres e do trabalho. O projeto de interpretação do Brasil fornecido pela
vertente do patrimonialismo tende a tomar esse pressuposto como característica
antropológica, alicerçado em uma visão muitas vezes derivada de outras
experiências sociais. o problema da corrupção no Brasil a partir da antinomia
entre normas morais e prática social, defendendo a hipótese de que a prática de
corrupção não está relacionada a aspectos do caráter do brasileiro, mas à
constituição de normas informais que institucionalizam certas práticas tidas
como moralmente degradantes, mas cotidianamente toleradas. A antinomia entre
normas morais e prática social da corrupção no Brasil revela outra antinomia: a
corrupção é explicada, no plano da sociedade brasileira, pelo fosso que separa
os aspectos morais e valorativos da vida e a cultura política. Isso acarreta
uma tolerância à corrupção que está na base da vida democrática pós-1985. Vamos
aguardar mais um cotidiano corrupto na certeza de lançar mais, e mais, uma vez,
na impunidade.
Antônio Scarcela Jorge.
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