João Batista Pontes
A democracia não é um sistema de
governo que vem de fora, pronto, só para ser aplicado. Ela tem que ser
construída pouco a pouco, por meio do nosso próprio esforço e de acordo com a
consciência coletiva alcançada. E precisa de cuidados diários para que não seja
sufocada pelas ervas daninhas e pelos espinhos.
A escolha dos governantes,
aqueles que serão responsáveis pela gestão dos interesses da coletividade, é um
dos momentos mais importantes do processo democrático. Deve prevalecer o bom
senso, a razão e a responsabilidade de todos os eleitores, acima das paixões,
simpatias e interesses pessoais, para se evitar que a administração pública
seja colocada nas mãos de pessoas sem o devido preparo – moral e intelectual –
para gerenciar os interesses e promover o bem comum.
E a captação ilícita de votos
(compra de votos) é, sem dúvida, o primeiro e um dos maiores empecilhos à
consolidação de uma verdadeira democracia. Todo cidadão de bem, que tem
consciência cívica e responsabilidade pelo futuro de sua cidade, deve repudiar
e lutar de todas as formas possíveis para impedir essa vergonhosa e perniciosa
prática. Enquanto ela predominar nas eleições não se pode esperar um governo
compromissado com os interesses da comunidade e com a gestão honesta dos
recursos públicos.
E a corrupção, que se materializa
no desvio de recursos públicos (estimado, no Brasil, em cerca de R$100 bilhões
por ano), é a causa direta de todos os problemas sociais. De fato, se bem
empregados, os recursos desviados pela corrupção poderiam garantir melhor
prestação de bens e serviços públicos à sociedade; ampliar as possibilidades de
investimento em saúde pública, educação, segurança, saneamento básico promover
incentivos à produção e à geração de renda etc.
É inexplicável que a nossa
sociedade seja tão complacente e tolerante com este tipo de crime. Talvez
porque seja a corrupção normalmente praticada por pessoas simpáticas,
alegres e envolventes (verdadeiros psicopatas)[i]. Ou, também,
por não deixar o crime de corrupção vestígios dos inúmeros óbitos e outros
malefícios que dele decorrem diretamente. Ou seja, por não se vê o sangue das
vítimas a escorrer pelas calçadas.
Caríssimos conterrâneos, ainda
que tardia, chegou a hora de uma radical mudança cultural e de elevação da
consciência sobre a importância do voto. Precisamos estudar, analisar o perfil
e os programas de governo de cada candidato e procurar escolher o melhor. Votar
por interesse é prostituir a consciência e, portanto, uma indignidade que
macula para sempre tanto quem compra como quem vende. Pense bem: aquele que se
propõe a comprar o seu voto não tem o mínimo respeito por você e pela sua
comunidade.
Além de indicar a influência do
poder econômico, a compra de votos é um indicativo claro de que o candidato não
tem respeito pela comunidade e nem condições morais para governá-la. E, se
eleito, procurará ressarcir-se, por meio de práticas corruptas, de todos os
gastos realizados na campanha. E, claro, procurará desviar mais e mais recursos
públicos para, no mínimo, garantir recursos para os gastos nas próximas
eleições, buscando a perpetuação no poder, bem como o enriquecimento ilícito.
A construção de uma sociedade
mais justa, mais democrática e solidária é tarefa de todos nós. Não se omita.
Dê a sua contribuição para desmascarar os corruptos e evitar de todas as formas
que eles cheguem ao poder. Esta é uma luta que deve ser abraçada por todos os
cidadãos de bem, sob pena de comprometimento do futuro da sua cidade e de todas
as vindouras gerações.
Tenho a esperança que os jovens –
por ainda não estarem comprometidos com essa maléfica prática eleitoreira – se
organizem para atuar ativamente em campanhas contra a corrupção e contra a
prática da compra de votos.
Precisamos dispensar a
intermediação do voto – os chamados “cabos eleitorais” -, que em geral são os
primeiros que se vendem e que lucram com o seu voto. Discuta com seus amigos,
peça a opinião de pessoas de bem, descompromissadas com os interesses
eleitoreiros, e decida você mesmo quem tem melhores condições para governar os
destinos de sua comunidade, de seu Estado e de seu País.
*João Batista Pontes – Geólogo – sociólogo -
matemático – escritor - bacharelando em direito.
Novarrussense – residente em Brasília DF.
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