sábado, 18 de janeiro de 2014

COMENTÁRIO - JOÃO BATISTA PONTES

 A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA

João Batista Pontes

A democracia não é um sistema de governo que vem de fora, pronto, só para ser aplicado. Ela tem que ser construída pouco a pouco, por meio do nosso próprio esforço e de acordo com a consciência coletiva alcançada. E precisa de cuidados diários para que não seja sufocada pelas ervas daninhas e pelos espinhos.

A escolha dos governantes, aqueles que serão responsáveis pela gestão dos interesses da coletividade, é um dos momentos mais importantes do processo democrático. Deve prevalecer o bom senso, a razão e a responsabilidade de todos os eleitores, acima das paixões, simpatias e interesses pessoais, para se evitar que a administração pública seja colocada nas mãos de pessoas sem o devido preparo – moral e intelectual – para gerenciar os interesses e promover o bem comum.

E a captação ilícita de votos (compra de votos) é, sem dúvida, o primeiro e um dos maiores empecilhos à consolidação de uma verdadeira democracia. Todo cidadão de bem, que tem consciência cívica e responsabilidade pelo futuro de sua cidade, deve repudiar e lutar de todas as formas possíveis para impedir essa vergonhosa e perniciosa prática. Enquanto ela predominar nas eleições não se pode esperar um governo compromissado com os interesses da comunidade e com a gestão honesta dos recursos públicos.

E a corrupção, que se materializa no desvio de recursos públicos (estimado, no Brasil, em cerca de R$100 bilhões por ano), é a causa direta de todos os problemas sociais. De fato, se bem empregados, os recursos desviados pela corrupção poderiam garantir melhor prestação de bens e serviços públicos à sociedade; ampliar as possibilidades de investimento em saúde pública, educação, segurança, saneamento básico promover incentivos à produção e à geração de renda etc.

É inexplicável que a nossa sociedade seja tão complacente e tolerante com este tipo de crime. Talvez porque seja a corrupção normalmente praticada por pessoas simpáticas, alegres e envolventes (verdadeiros psicopatas)[i]. Ou, também, por não deixar o crime de corrupção vestígios dos inúmeros óbitos e outros malefícios que dele decorrem diretamente. Ou seja, por não se vê o sangue das vítimas a escorrer pelas calçadas.

Caríssimos conterrâneos, ainda que tardia, chegou a hora de uma radical mudança cultural e de elevação da consciência sobre a importância do voto. Precisamos estudar, analisar o perfil e os programas de governo de cada candidato e procurar escolher o melhor. Votar por interesse é prostituir a consciência e, portanto, uma indignidade que macula para sempre tanto quem compra como quem vende. Pense bem: aquele que se propõe a comprar o seu voto não tem o mínimo respeito por você e pela sua comunidade.

Além de indicar a influência do poder econômico, a compra de votos é um indicativo claro de que o candidato não tem respeito pela comunidade e nem condições morais para governá-la. E, se eleito, procurará ressarcir-se, por meio de práticas corruptas, de todos os gastos realizados na campanha. E, claro, procurará desviar mais e mais recursos públicos para, no mínimo, garantir recursos para os gastos nas próximas eleições, buscando a perpetuação no poder, bem como o enriquecimento ilícito.

A construção de uma sociedade mais justa, mais democrática e solidária é tarefa de todos nós. Não se omita. Dê a sua contribuição para desmascarar os corruptos e evitar de todas as formas que eles cheguem ao poder. Esta é uma luta que deve ser abraçada por todos os cidadãos de bem, sob pena de comprometimento do futuro da sua cidade e de todas as vindouras gerações.

Tenho a esperança que os jovens – por ainda não estarem comprometidos com essa maléfica prática eleitoreira – se organizem para atuar ativamente em campanhas contra a corrupção e contra a prática da compra de votos.

Precisamos dispensar a intermediação do voto – os chamados “cabos eleitorais” -, que em geral são os primeiros que se vendem e que lucram com o seu voto. Discuta com seus amigos, peça a opinião de pessoas de bem, descompromissadas com os interesses eleitoreiros, e decida você mesmo quem tem melhores condições para governar os destinos de sua comunidade, de seu Estado e de seu País.

*João Batista Pontes – Geólogo – sociólogo - matemático – escritor - bacharelando em direito.
Novarrussense – residente em Brasília DF.



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