O fluxo cambial, entrada e saída
de moeda estrangeira do país, registrou déficit de 12,261 bilhões de dólares em
2013, o pior resultado em mais de uma década, num sinal de que as saídas de
recursos devem continuar neste ano e colocar mais pressão sobre a cotação do
dólar em relação ao real.
O resultado negativo do ano
passado, segundo informou o Banco Central nesta quarta-feira, é o pior desde
2002, quando o saldo foi negativo em 12,989 bilhões de dólares, e foi afetado
pelo forte déficit na conta financeira --por onde passam os investimentos
estrangeiros diretos e em portfólio, entre outros-- de 23,396 bilhões de
dólares no período. Só em dezembro, houve saldo negativo de 6,898 bilhões de
dólares.
Já a conta comercial registrou,
segundo o BC, entrada líquida de 11,136 bilhões de dólares no ano passado, com
o resultado de dezembro ficando negativo em 1,881 bilhão de dólares.
"O cenário internacional
está mais complexo para o Brasil e para todos os países emergentes. Isso não
significa fuga de capitais e não é esse o cenário adiante para o país, mas uma
saída (de dólares) persistente a moderada", afirmou o economista da
Rosenberg & Associados Rafael Bistafa.
O resultado do ano passado também
é o primeiro negativo desde 2008, no auge da crise financeira global. Em dezembro
passado, as saídas líquidas somaram 8,780 bilhões de dólares, ainda segundo o
BC.
Com os sinais mais consistentes
de recuperação dos Estados Unidos, a avaliação de especialistas é de que os
investidores continuem deixando o Brasil, ainda que não num movimento mais
acelerado, de acordo com avaliação do economista-chefe do banco Fator, José
Francisco de Lima Gonçalves.
"Devemos ter uma recuperação
na conta comercial e uma estabilização financeira, com saídas ainda, mas com
menor volatilidade que vimos no ano passado", afirmou, acrescentando que
as saídas pela conta financeira serão maiores do às possíveis entradas pela
conta comercial.
2014 NO VERMELHO
O BC informou ainda que o fluxo
cambial começou o ano no vermelho. Nos três primeiros dias de janeiro, o déficit
estava em 480 milhões de dólares e, diante da expectativas de saídas contínuas,
deve contribuir para manter o dólar valorizado.
O déficit no fluxo cambial de
2013 coincide com a forte valorização do dólar no Brasil, que acumulou alta de
15,11 por cento ante o real, diante do crescente pessimismo de investidores com
o desempenho da economia brasileira e da possibilidade de mudança no programa
de estímulos do Federal Reserve.
Em maio, o Fed deu os primeiros
sinais de que poderia reduzir sua compra mensal de ativos de 85 bilhões de
dólares, o que reduziria a liquidez internacional. O anúncio efetivo de corte
aconteceu somente em dezembro, o que deixou os mercados nervosos durante todos
esses meses.
Diante desse cenário, o BC
iniciou em agosto passado forte programa de intervenção cambial através de
leilões de contratos de swaps cambiais e de venda de dólares com compromisso de
recompra.
O Brasil tem registrado forte
déficit em transações correntes e que não tem sido mais financiado pelos
investimentos produtivos vindos de fora. O BC informou também que os bancos
encerraram dezembro com posição cambial vendida de 18,124 bilhões de dólares,
maior do que os 13,608 bilhões de dólares vistos em 16 de dezembro passado.
Fonte: Reuters.
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