João Batista Pontes
Nas minhas andanças por este País
a fora, quando trabalhava como Geólogo, sempre atento às realidades
socioeconômicas, políticas e culturais das cidades que visitava, conheci muitas
situações interessantes. Passei algum tempo trabalhando no interior de um
determinado Estado da Federação, bem distante da capital, e tomei conhecimento
da evolução histórica e política de duas cidades vizinhas, Chapada Alta e Morro
Alegre. Fiquei sabendo que cada uma delas, alguns anos atrás, contava com cerca
de 25 mil habitantes.
Por motivos políticos
circunstanciais, Chapada Alta foi escolhida para ser a sede regional dos órgãos
públicos estaduais e federais, que lá se instalaram e ainda hoje estão
funcionando.
No entanto, as elites políticas e
a população em geral dessas comunidades agiam de modo bem diferente. Em Chapada
Alta parecia que todos estavam ali de passagem. Procuravam apoderar-se, numa
frenética ânsia, de tudo que fosse possível dos recursos naturais e
patrimoniais, inclusive os públicos. Foi governada, por um longo período, por
uma elite política sem expressão e em permanente conflito, que esteve sempre
dividida, engalfinhada na luta do poder pelo poder. Frequentemente se via envolvida
em clamorosos casos de corrupção, empreguismo e nepotismo. As eleições eram
sempre decididas pela compra de votos.
Ao contrário, as elites políticas
e a população em geral de Morro Alegre demonstravam entender que era
imprescindível construir um lugar bom para viver, no qual todos pudessem se
sentir felizes. Tinham um cuidado e um carinho especial no seu relacionamento
com a cidade, com os seus semelhantes e com o meio ambiente.
Diante das dificuldades de
desenvolvimento, a elite política de Morro Alegre, principalmente os
pretendentes a cargos públicos, compreendendo que a boa convivência humana só é
possível com justiça, bondade e amor, reuniram-se e fizeram um pacto, incluindo
os seguintes pontos básicos:
1.
Declararam compreender que os
interesses da coletividade devem sempre preponderar sobre quaisquer outros e
que todos deviam sempre atuar buscando verdadeiramente o bem comum;
2.
Comprometeram-se em abolir a
“compra de votos” nas eleições; todos se compromissaram a lutar pela
conscientização do eleitorado, para que a escolha dos governantes fosse feita
com base nos programas de governo dos candidatos;
3.
Acordaram que os eleitos se
comprometiam, desde logo, a governar com probidade e eficiência, sempre
buscando alcançar objetivos identificados com as demandas e as necessidades da
coletividade;
4.
Concordaram que todos os grandes
projetos seriam aprovados por consenso e considerados projetos do município (de
estado) e não projetos de um ou outro partido ou facção;
5.
Comprometeram-se a respeitar os
resultados das eleições e que, aos vencidos, caberia exercer o papel de fiscal
dos que estavam no poder, porém nada fariam para impedir ou atrapalhar o
desenvolvimento dos programas, salvo na hipótese de ocorrência de
irregularidades claras;
6.
Acordaram que a promoção do desenvolvimento
socioeconômico (incentivos à produção e geração de renda) constitui obrigação
fundamental da administração pública.
Depois de cerca de 20 anos, a
cidade de Morro Alegre já alcançava uma população de cerca de 100 mil
habitantes, que viviam alegres, felizes e orgulhosos de sua cidade e dos seus
governantes, os quais tinham em grande estima, gratos pelos benefícios que eles
lhes propiciaram.
Ao contrário, Chapada Alta passou
a declinar e, hoje, não ultrapassa os vinte mil habitantes, apesar de lá
continuarem instaladas as sedes regionais dos principais organismos públicos
estaduais e federais. Passou a ser conhecida como uma cidade sem lei, sem ordem
e sem princípios. Sua população vive entristecida e muito sofre com a
deficiência dos serviços básicos de saúde, educação, saneamento ambiental e
segurança. Vivem todos praticamente das bolsas, rendas e outros benefícios
governamentais.
Com qual dessas duas a sua cidade
se parece? Amigo, se a sua cidade se parece mais com Chapada Alta é hora de
interferir e procurar alterar a sua história evolutiva, procurando afastar do
meio político aquelas pessoas que não têm espírito público; que não sabem
diferenciar os interesses da coletividade dos seus próprios interesses; que têm
projetos pessoais, de família ou de grupos, e não projetos para beneficiar a
coletividade; que não sabem dialogar e conviver com a diversidade; que não
demonstram condições para promover, ou mesmo participar, de um pacto pelo bem
do povo; que não têm, afinal, condições morais e intelectuais para cuidarem dos
interesses de sua comunidade.
Observação: Os nomes
das cidades são fictícios, mas as situações descritas retratam, em termos
gerais, fatos reais.
João Batista
Pontes – Geólogo – sociólogo - matemático – bacharelando em direito.
Novarrussense
– residente em Brasília DF.
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