terça-feira, 21 de janeiro de 2014

JOÃO BATISTA PONTES

 COMENTÁRIO

João Batista Pontes

PRODUZIR É PRECISO.

Lembro que a Nova Russas da minha infância (década de 50 do Século passado) contava com diversos armazéns que comercializavam cereais e, até mesmo, oiticica, algodão e outros produtos. Recordo-me dos estabelecimentos do Oseas Pinto, Carneiro & Veras, Casa Machado, Zequinha Gildo, Charles Maia, Zé Rosa, A. Martins e tantos outros. Tínhamos uma unidade de beneficiamento de algodão (a Algodoeira Gomes) e alguns estabelecimentos que comercializavam a oiticica e até um grande depósito de bananas (da família Pedrosa).

Recentemente, numa conversa com o Chico Rosa, perguntei a ele (a minha memória as vezes falha) se toda aquela riqueza era produzida no Município de Nova Russas. E ele me respondeu que sim. Tudo aquilo era produzido em nossa terra e, pasmem, numa época que não contávamos com energia elétrica, com grandes açudes, poços profundos etc.

Hoje, infelizmente, com as facilidades que temos, não produzimos mais nada ou quase nada. Nos censos do IBGE aparecemos apenas com uma pequena produção de feijão, milho e mamona. Nada mais. Até os cajus, as atas, as cajás e outras frutas que produzíamos no passado estão desaparecendo (quem se lembra do sítio do “seu Brígido”?).

E eu fico pensando: se naquela época não tínhamos energia elétrica, possibilidades de contar com poços profundos, com os grandes açudes que temos atualmente, como conseguíamos produzir tanto? E vejam que já lutávamos com os mesmos fatores adversos de hoje, principalmente os longos períodos de estiagem… a temível seca.

E pensei que isto é muito preocupante. Parece que paramos no tempo, que nos contentamos em viver com os recursos que o resto da sociedade brasileira nos destina: bolsas, fundos de participação, repasses para educação e saúde (que, muitas vezes, nem ao menos são aplicados em benefício do povo, como deveriam). Sim, porque a nossa contribuição para a economia do Estado e do País é praticamente zero.

Por isto, tenho escrito e continuarei a escrever, alertando os meus irmãos novarussenses e as autoridades que é preciso, urgentemente, voltar a pensar em produção, em geração de renda, em desenvolvimento. É absolutamente necessário uma retomada do desenvolvimento socioeconômico municipal. E, mais, sugiro e clamo por um desenho de desenvolvimento solidário, com base em um modelo cooperativo, que não vise a geração de ricos, mas que tenha como base a distribuição equitativa e justa da renda gerada. Isto porque, penso que o modelo capitalista gerador da concentração de renda é a causa de todos os nossos problemas sociais – a enorme exclusão social.
Insisto sobre a necessidade de reorganização da produção do croché, com o desenho cooperativo que sugeri em artigo anterior – “O Croché de Nova Russas”. Dizem alguns que é um projeto audacioso. E eu concordo: de fato é um projeto audacioso, mas absolutamente viável. Precisamos pensar grande; projetar o futuro com cautela, mas com ousadia e grande disposição para executá-lo. Estou certo que temos inteligência suficiente para fazer isto.

É hora de despertar, Nova-Russas! Vamos retomar o ideal grego das cidades autônomas, com capacidade para gerar a renda e a riqueza que seu povo precisa para viver feliz e para o seu desenvolvimento. Para viver com dignidade, afinal.

No próximo artigo abordarei a problemática de conviver, sobreviver e se desenvolver com a escassez de água – sobre a cultura econômica da água.

*João Batista Pontes – Escritor
Geólogo – sociólogo - matemático – bacharelando em direito.



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