João Batista Pontes
PRODUZIR É PRECISO.
Lembro que a Nova Russas da minha
infância (década de 50 do Século passado) contava com diversos armazéns que
comercializavam cereais e, até mesmo, oiticica, algodão e outros produtos.
Recordo-me dos estabelecimentos do Oseas Pinto, Carneiro & Veras, Casa
Machado, Zequinha Gildo, Charles Maia, Zé Rosa, A. Martins e tantos outros.
Tínhamos uma unidade de beneficiamento de algodão (a Algodoeira Gomes) e alguns
estabelecimentos que comercializavam a oiticica e até um grande depósito de
bananas (da família Pedrosa).
Recentemente, numa conversa com o
Chico Rosa, perguntei a ele (a minha memória as vezes falha) se toda aquela
riqueza era produzida no Município de Nova Russas. E ele me respondeu que sim.
Tudo aquilo era produzido em nossa terra e, pasmem, numa época que não
contávamos com energia elétrica, com grandes açudes, poços profundos etc.

E eu fico pensando: se naquela
época não tínhamos energia elétrica, possibilidades de contar com poços
profundos, com os grandes açudes que temos atualmente, como conseguíamos
produzir tanto? E vejam que já lutávamos com os mesmos fatores adversos de
hoje, principalmente os longos períodos de estiagem… a temível seca.
E pensei que isto é muito
preocupante. Parece que paramos no tempo, que nos contentamos em viver com os
recursos que o resto da sociedade brasileira nos destina: bolsas, fundos de
participação, repasses para educação e saúde (que, muitas vezes, nem ao menos
são aplicados em benefício do povo, como deveriam). Sim, porque a nossa
contribuição para a economia do Estado e do País é praticamente zero.
Por isto, tenho escrito e
continuarei a escrever, alertando os meus irmãos novarussenses e as autoridades
que é preciso, urgentemente, voltar a pensar em produção, em geração de renda,
em desenvolvimento. É absolutamente necessário uma retomada do desenvolvimento
socioeconômico municipal. E, mais, sugiro e clamo por um desenho de
desenvolvimento solidário, com base em um modelo cooperativo, que não vise a
geração de ricos, mas que tenha como base a distribuição equitativa e justa da
renda gerada. Isto porque, penso que o modelo capitalista gerador da
concentração de renda é a causa de todos os nossos problemas sociais – a enorme
exclusão social.
Insisto sobre a necessidade de
reorganização da produção do croché, com o desenho cooperativo que sugeri em
artigo anterior – “O Croché de Nova Russas”. Dizem alguns que é um projeto
audacioso. E eu concordo: de fato é um projeto audacioso, mas absolutamente
viável. Precisamos pensar grande; projetar o futuro com cautela, mas com
ousadia e grande disposição para executá-lo. Estou certo que temos inteligência
suficiente para fazer isto.
É hora de despertar, Nova-Russas!
Vamos retomar o ideal grego das cidades autônomas, com capacidade para gerar a
renda e a riqueza que seu povo precisa para viver feliz e para o seu desenvolvimento.
Para viver com dignidade, afinal.
No próximo artigo abordarei a
problemática de conviver, sobreviver e se desenvolver com a escassez de água –
sobre a cultura econômica da água.
*João Batista Pontes – Escritor
Geólogo – sociólogo - matemático – bacharelando em
direito.
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