COMENTÁRIO
João Batista Pontes
PROPOSTA DE DIÁLOGO POR
NOVA RUSSAS
Nova Russas, terra
onde nasci e que tanto adoro. Como gostaria de ter ver dando passos seguros
para vencer as tuas dificuldades. E como fico triste toda vez que a ti retorno
e vejo que os problemas continuam os mesmos ou até mais graves. Como gostaria
de te ver agitada por movimento transformador, capaz de te conduzir a um futuro
melhor.
É certo que não tenho um
conhecimento aprofundado da tua realidade, assim como também é certo que a
aridez do teu meio ambiente oferece grandes obstáculos. Mas vejo que a cada dia
perdes oportunidade de avançar na solução dos teus problemas, que parecem se
avolumam.
Vejo que perdestes valiosas
oportunidades de desenvolvimento: com o programa nacional do biodiesel,
mediante a retomada da exploração da oiticicas e da mamona; com a produção do
algodão, que já foi uma das fontes de renda regional e que hoje não mais
existe; com a produção do croché – que hoje se caracteriza por um produto de
baixa qualidade, tanto no que se refere aos insumos empregados (linhas), como
em relação à própria confecção (mão-de-obra) -, e está em pleno declínio. A
própria agricultura de subsistência, que chegou a produzir no passado alguns
excedentes, a cada ano vejo diminuindo.
Penso que todas essas
oportunidades foram perdidas por falta de estudos e aprimoramento das técnicas
de produção; por falta de planejamento; por falta de um projeto de
desenvolvimento, nos moldes de uma economia solidária, com condições para nele
integrar os esforços de todos os produtores; e por falta de uma visão de futuro
dos governantes e das elites locais. Ao que eu saiba, jamais houve um projeto
com objetivo de organizar os produtores locais em um trabalho cooperativo e
solidário. E cada um, isoladamente, foi incapaz de vencer os obstáculos
naturais e perfeitamente previsíveis (a exemplo de uma praga, uma estiagem
prolongada, a comercialização da produção excedente etc).
Será que estamos condenados a
viver sempre de renda, bolsas e favores governamentais; destinados a vivermos
eternamente na mais completa exclusão econômica e social? E é bom não esquecer
que as políticas públicas compensatórias – a exemplo de bolsas, rendas, cotas
raciais e sociais etc -, ainda que promovam a elevação dos índices de
desenvolvimento humano -, não são permanentes. A melhoria na qualidade de vida
que elas promovem deve ser aproveitada pelos beneficiários para se prepararem
e, por meio de seus próprios esforços, conquistarem formas de obtenção de
rendas permanentes.
Será que não temos um caminho,
uma chance sequer, para vencer as enormes dificuldades de desenvolvimento?
Penso que sim! E tenho forte convicção de que com educação adequada – que
inclua desde cedo a conscientização dos jovens sobre o contexto ambiental,
cultural, econômico e social em que vivem -estudo/pesquisa, união dos esforços,
criatividade e foco no interesse comum, tudo isto aliado a uma vontade coletiva
para a mudança, poderemos encontrar meios de geração de renda que nos permitam
viver com dignidade e qualidade de vida – e não simplesmente sobreviver.
As dificuldades existem para nos
impulsionar na busca de soluções. Os vencedores são os que ousam, os que
acreditam no sucesso, apesar das adversidades. É preciso acordar, encarar de
frente a ingrata realidade da nossa “terrinha” e ter confiança que podemos
alterá-la para melhor, bem melhor. Exemplos existem no mundo inteiro de
populações que conseguiram se desenvolver, apesar das dificuldades do meio
ambiente.
Sou um sonhador? Sim, admito. Mas
o que seria de nós e do mundo se não sonhássemos? O que precisamos é nos
esforçar para tornar os nossos sonhos realidade. Nada se consegue sem sonho,
planejamento e muita ação. E os meus sonhos, creio, são os sonhos de todos:
- Sonho com um governo local que
confira empoderamento à sociedade local, convocando-a a participar mais
efetivamente na administração dos interesses públicos, nas decisões e na
definição das políticas públicas locais.
- Sonho com um governo que
convoque a população para discutir e definir um plano de desenvolvimento local,
com a finalidade de fomentar a geração de renda e emprego, capaz de restituir a
dignidade aos enorme contingente dos excluídos, retirando-os da triste exclusão
econômica e social.
- Sonho com um Governo que
administre corretamente cada centavo público e preste contas ao povo do uso que
dele fez, numa atitude de total transparência, que possa ser considerada
modelar;
- Sonho com uma integração dos
esforços de todos os teus filhos – irmanados e superando as divergências
motivadas por interesses partidários, particulares ou de grupos – na busca de
alternativas de ações que possam enfrentar com êxito as adversidades
climáticas, do meio ambiente e todas as demais dificuldades para o
desenvolvimento econômico e, principalmente, social.
- Sonho, afinal, com o vale do
Rio Curtume, ao longo de todo o perímetro urbano, plenamente recuperado,
saneado e incorporado ao lazer e ao convívio da comunidade, com pistas para
caminhadas, áreas verdes extensas e arborizadas etc.
É preciso com urgência dialogar
pela construção de um futuro melhor para Nova Russas. E uma coisa também é
certa: ninguém de fora virá solucionar os nossos problemas; somos nós mesmos,
os filhos desta terra e os que, por opção, nela habitam que teremos que nos
unir na busca e implementação de projetos capazes de promover o tão almejado
desenvolvimento econômico e social.
*João Batista Pontes – Escritor
-
Geólogo – sociólogo - matemático
– bacharelando em direito. Novarrussense – residente em
Brasília DF.
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