COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
FINURA
DE RETIDÃO
Nobres:
De princípio neste viés de
contradição o Brasil aparentemente mudou: A não ser para quem observa o cenário
político apenas pelo ideológico, começou com uma sensação de justiça,
decorrente da prisão de alguns condenados no julgamento do mensalão. Ao mandar
para a cadeia lideranças políticas importantes, empresários, banqueiros e
publicitários, entre outros, o Supremo Tribunal Federal passou à nação uma
mensagem inequívoca: chega de impunidade. Certamente o regime de cumprimento
das penas ainda terá que ser adequado à situação de cada um, mas é inequívoco o
efeito pedagógico do encarceramento, ainda que temporário, de pessoas que
traíram a confiança dos cidadãos e se envolveram em corrupção. A verdadeira
conforme os escritores juristas não ficam sentados diante de sua balança, vendo
os pratos oscilar: julga e executa a sentença. É o que está fazendo a Corte
Suprema o que precisa ocorrer, também, com outros processos em todos os
tribunais brasileiros para que a histórica sensação de impunidade seja finalmente
erradicada. Mas sempre é bom ressaltar que justiça não pode ser confundida com
vingança. Humilhações e masmorras medievais são intoleráveis na atualidade. Uma
sociedade justa tem que ser, acima de tudo, humana. É imprescindível dizer
também que os mensaleiros não são mártires, como alguns tentam dar a entender
com gestos teatrais e frases de efeito. Ninguém é preso político nesse
episódio, até mesmo porque o país vive um momento de plena democracia e todos
os condenados passaram por julgamentos absolutamente transparentes, com amplo
direito de defesa. Mais: foram presos em decorrência de condenações
definitivas, para as quais inexistem outros recursos. Aparentemente, não há
qualquer dúvida sobre a legalidade das prisões, ainda que seja direito dos
defensores dos presos questioná-la. Mesmo quando contaminado por posições
políticas e ideológicas preestabelecidas, algumas das quais imutáveis, o debate
em torno do episódio faz bem ao país. Amplia a consciência dos brasileiros
sobre ética e justiça. E abre caminho para uma vigilância maior da sociedade
sobre a administração pública, seus ocupantes do poder e até mesmo sobre o
sistema prisional, que vem apresentando falhas inadmissíveis, e sobre a própria
Justiça. Para que a agudeza de justiça persista, as instituições têm que
continuar se aperfeiçoando. Enquanto a nossa geração saia de um processo de
civilização e ganhe plena consciência.
Antônio Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário