quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

COMENTÁRIO DE JOÃO BATISTA PONTES

 EDUCAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE.

João Batista Pontes.

Todos sabemos que viver ou sobreviver nas regiões semiáridas se torna, a cada ano, mais difícil. A escassez de água e a degradação ambiental, com a crescente intensificação do processo de desertificação ­- fenômenos originados pelas mudanças climáticas e pela intervenção humana desordenada no meio ambiente – estão a agravar a dramática situação das populações que habitam o semiárido brasileiro. 
- E o cenário que os pesquisadores desenham para o futuro não é nada animador: na região da Caatinga, deverá haver, nas próximas três décadas (portanto, até 2040), aumento de até 1ºC na temperatura e decréscimo das chuvas, entre 10 e 20% (INPE, Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e outros). São previsões preocupantes e que não parecem distantes da realidade, pelo que estamos vivenciando atualmente. - O que fazer para assegurar condições de permanência e de desenvolvimento das populações humanas nessas regiões? Como assegurar a sustentabilidade da vida e dos processos ecológicos? Em primeiro lugar, transparece a necessidade de se desenvolver uma readaptação do ser humano ao meio em que ele vive uma verdadeira mudança cultural. - Recentemente conversei com alguns educadores em Nova Russas – minha cidade natal, que se localiza em pleno semiárido nordestino – e fiquei surpreso em saber que o currículo escolar ainda não contemplava uma preocupação central na conscientização dos jovens em relação à problemática do meio em que vivem. Isto depois de décadas que o educador Paulo Freire tanto ter alertado sobre a necessidade cogente de a educação conduzir o ser humano à compreensão do contexto em que ele vive – cultural, político, ambiental etc. - E, penso, que hoje essa orientação educativa é essencial e deve ser adotada com urgência, notadamente para quem habita regiões formadas por biomas tão frágeis, a exemplo da Caatinga. O ser humano que aí vive precisa ser conscientizado de que a permanência de sua cidade, que a sua vida e a de todos os seres vivos que com ele integram o bioma dependem dos cuidados e das técnicas apropriadas que ele adotar no seu relacionamento com o meio ambiente circundante – fauna, flora, água, solo etc. - E não se trata só do desenvolvimento de uma cultura da economia de água, sem desconsiderar que esta é a mais relevante. De fato, o crescente agravamento da falta de água deve levar as pessoas a adotar uma nova forma de pensar, agir e usar esse recurso natural essencial à vida, inclusive mudando seus hábitos e costumes. É imprescindível que essa mudança ocorra em todos os aspectos envolvidos com os recursos hídricos: gestão adequada das reservas disponíveis; uso racional, que evite todas as formas de desperdício; desenvolvimento de práticas que possibilitem o reaproveitamento; proteção dos mananciais; despoluição dos rios; captação e armazenamento da água das chuvas etc. - A iniciativa de promover essa mudança cultural é do poder público, a quem cabe a missão de cuidar dos interesses coletivos. No entanto, todos os segmentos da sociedade devem dela participar de forma ativa, notadamente as associações da sociedade civil e as instituições de ensino de todos os níveis.
Aos educadores, de uma maneira muito especial, cabe uma participação importante na formação dessa nova cultura. Numa região com tanta escassez, a escola tem o dever de formar cidadãos que saibam maximizar a utilidade dos recursos disponíveis, sejam os naturais (água, solo, fauna, flora), sejam os patrimoniais, especialmente os públicos. Saber usar adequadamente cada gota de água, cada palmo de terra agricultável; cada árvore; cada centavo do dinheiro público; e preservar, proteger e respeitar a vida, em todas as suas manifestações. - E atenção senhores administradores públicos, parlamentares, educadores e líderes comunitários: não esperem que pessoas de fora venham resolver esse grave problema. São vocês mesmos que terão que enfrentá-lo, por meio de ações educativas voltadas à conscientização de toda a coletividade quanto à necessidade inafastável de uma nova forma de integração com o meio e de uso racional dos recursos disponíveis. E isto exige mudanças na educação; formação de recursos humanos; e desenvolvimento de técnicas apropriadas a essa nova mentalidade. - E não deixem para começar amanhã. A mudança é urgente. A sua postergação poderá colocar em risco a sobrevivência de todos os seres vivos e a permanência das próprias cidades na região.

*João Batista Pontes – Geólogo – sociólogo - matemático – bacharelando em direito.
Novarrussense – residente em Brasília DF.





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