SCARCELA JORGE
A CORRUPÇÃO INFLEXIBILIZA O POVO.
Nobres:
A se referir ao atual estado que infelizmente
experimenta o Brasil em termos de corrupção que em recente manifestação no
Supremo Tribunal Federal (STF), durante mais um julgamento de caso envolvendo
corrupção, o ministro Luís Roberto Barroso chamou a atenção para um aspecto que
está cada vez mais na mente da maioria dos brasileiros ao questionar:
"Alguém imaginava que os partidos disputavam diretorias de estatais para
fazerem coisa boa?". A resposta, apontada pelo próprio ministro, é a
óbvia: "O propósito é este mesmo: desviar recursos". O comentário
coincidiu com a fase de expansão dos limites das investigações da Lava-Jato
para além da Petrobras, com impacto em um número cada vez maior de Estados. E
ocorreu na mesma semana em que o Congresso aprovou os limites mais rígidos para
as nomeações de diretores e membros de conselhos de estatais. Ambas as medidas
atendem a pressões cada vez maiores da sociedade pelo cerco à cultura da
propina. A exigência de critérios técnicos para nomeações em empresas públicas
e de nomes, preferencialmente, do próprio quadro da empresa pode não ser
suficiente como blindagem contra maus servidores. Muitos dos principais
envolvidos em irregularidades investigadas pela Lava-Jato eram funcionários de
carreira que acabaram se aliando a corruptores, ou sendo cooptados por
corporações privadas, interessados nas oportunidades escancaradas de
enriquecimento ilícito. Por isso, é positivo que a nova lei se preocupe também
com maior rigor nas licitações, além de dar mais ênfase à governança e à
transparência. O descaso com esses e outros aspectos ajuda a explicar tantos
descalabros registrados hoje no setor público. Em conseqüência da falta de
controle e de preocupação com a ética, há cada vez menos políticos e menos
partidos imunes a denúncias, o que prenuncia impacto nas próximas eleições e
também nas próprias legendas. O mesmo esquema criminoso de desvio de dinheiro
público servia para irrigar não apenas as campanhas presidenciais, mas também
as de âmbito municipal e estadual, transformando políticos de maneira geral em
péssimos exemplos de cidadãos. O alento, diante da roubalheira, é que a
sociedade está cada vez menos disposta a aceitar práticas lesivas aos
interesses do país, respaldando assim as investigações. É justamente o que leva
o ministro Luís Roberto Barroso a concluir que, assim como ocorre em outras
áreas casos da intolerância ao racismo e à violência contra a mulher,
"estamos vivendo o fim de uma era de aceitação do inaceitável" pelo
menos é o que estima a sociedade brasileira.
Antônio
Scarcela Jorge.
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