SCARCELA JORGE
O ESQUEMA DA CORRUPÇÃO COMUM.
Nobres:
Para nossa ponderação, foi Sérgio Machado o mais “didático”
do que outros delatores. Explicou minuciosamente que o esquema ilícito de
financiamento de campanhas eleitorais e de enriquecimento de políticos e
servidores corruptos vem funcionando a pleno e de forma tão esquematizada, que
os empresários prestadores de serviços ao governo já moldavam seus orçamentos
com a incorporação do chamado custo político o pagamento de propina aos
padrinhos dos diretores de empresas do governo, mediante a garantia de novos
contratos. Nem é preciso dizer que os valores das propinas eram incluídos no
custo do serviço prestado, de modo que a estatal e o contribuinte brasileiro
pagavam a conta superfaturada. O novo candidato a delator-geral da República
também foi tristemente irreverente e irônico ao afirmar que "a Petrobras é
a nadame mais honesta dos cabarés do Brasil". E justificou a ironia
nomeando vários órgãos estatais que utilizariam práticas menos ortodoxas de
corrupção, o que os investigadores têm o dever de aferir. Essas revelações,
somadas a tantas outras já apuradas pela Operação Lava-Jato, evidenciam que o
estágio de degradação ética atingido pela política brasileira só será revertido
com reformas radicais e com a punição exemplar dos envolvidos. A corrupção
generalizada também evidencia a fragilidade e a inoperância dos mecanismos de
controle da administração pública, sejam eles os conselhos fiscais e
administrativos das estatais ou os tribunais de contas e cortes judiciais.
Quando um juiz ou um procurador-geral da República se destacam no enfrentamento
de corruptos e corruptores, os cidadãos ficam no direito de indagar: por que
outras autoridades com iguais atribuições não fizeram o mesmo, incluindo
antecessores e atuais? Talvez a conseqüência natural que possa empreender para
minimizar ações imorais, se tornou insuportável para a sociedade.
Antônio Scarcela Jorge.
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