João Batista Pontes
Este ano vamos participar de uma importante
eleição. Nela teremos condições de avaliar o quanto a consciência política do
nosso povo se elevou, desde os movimentos ocorridos no ano passado, quando uma
grande parcela da nossa sociedade sinalizou que foi ultrapassado o limite
aceitável de corrupção, de falta de ética e de compromisso dos políticos e governantes
com os interesses da sociedade. Antes de tudo, precisamos relembrar que, sendo
o voto constitucionalmente assegurado a todos os cidadãos, com valor igual, sem
nenhuma distinção ou exigência adicional (e isto é cláusula pétrea), o esforço
pela sua qualificação (elevação da consciência política) foi transferido do
indivíduo/cidadão - do qual nada se exige para ser eleitor - para toda a
sociedade. Por isto, todos que têm um mínimo de consciência política e
interesse no avanço da nossa democracia, devem agir para explicar aos outros a
importância do processo eletivo e as consequências maléficas do escabroso
mercado de compra/venda de votos e de todos os demais artifícios usados para
alcançar uma captação ilícita de sufrágio. Infelizmente, algumas pessoas
indignadas com a situação do País estão a incentivar o voto nulo, um protesto
ingênuo que não resolve nada. Isto porque, tanto no sistema eleitoral
majoritário (eleição para presidente, governador e senador), como no sistema
proporcional (eleição para vereador, deputado estadual, deputado federal e
deputado distrital) apenas os votos válidos são considerados para o sufrágio
(excluem-se do total os votos em branco e os nulos). Portanto, em ambos os
sistemas, o voto em branco ou nulo é solenemente desprezado, sem exercer
nenhuma influência. E nós temos uma forma muito melhor e mais efetiva de
demonstrar a nossa insatisfação, conforme a seguir exposta e justificada:
1. Um dos fundamentos do sistema da democracia
representativa é a alternância do poder, ou seja, a oportunidade de os
eleitores avaliarem, a cada eleição, a conveniência de substituir os seus
representantes que não estejam exercendo corretamente os cargos para os quais
foram eleitos, indicando outros no seu lugar;
2. Não é segredo que o sonho de todo político é
perpetuar-se no poder, como ocorria no passado, quando predominava o sistema de
monarquia. E como eles apostam na falta de consciência da maioria do
eleitorado, ao assumirem os cargos procuram, por diversos meios, desviar
recursos públicos para a formação de fundos com vistas a aumentar a capacidade
de comprar aliados e votos. E esta estratégia espúria vem dando certo, como
indicam os elevados percentuais de políticos que são reeleitos, vez que a
maioria do eleitorado troca o seu voto por alguma vantagem material;
3. Por isto, enquanto predominar a influência do
poder econômico – notadamente a indigna e vergonhosa compra/venda de votos -,
nós perdemos essa vantagem que a democracia nos possibilita: a substituição dos
representantes que, na nossa avaliação, não estejam exercendo adequadamente os
cargos para os quais foram eleitos;
4. No momento atual, não resta dúvida que os
governantes esqueceram que a maneira correta de continuar no poder, de garantir
a sua reeleição, é exercer o cargo de forma honesta e competente, em benefício
de toda a coletividade e não por meio do desvio de recursos públicos para a
formação de “caixa” com objetivo de comprar aliados e votos. Neste contexto,
propomos uma renovação total do atual quadro político: vamos todos decidir não
votar em nenhum dos nossos atuais representantes. Vamos substituir todos eles!
Esta sim seria uma atitude de grande eficácia, com força para provocar uma
mudança no comportamento dos nossos políticos. E se continuarmos a agir dessa
forma – substituição a cada eleição dos representantes que não demonstrem
competência e honestidade no exercício do poder – poderemos, em longo prazo,
fazê-los entender que não é pela acumulação de recursos desviados dos cofres
públicos que eles irão permanecer no poder, mas sim pelo exercício do cargo com
foco na realização daquilo que genuinamente representa o interesse da
coletividade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário