PROTESTOS CONTRA A COPA NO BRASIL GANHAM
REPERCUSSÃO EM JORNAIS E REVISTAS NO EXTERIOR.
Revista alemã “Der Spiegel” faz previsão sombria sobre jogos, mostra
atraso em obras e insatisfação dos brasileiros com custos do evento.
RIO - Os protestos contra a
realização da Copa do Mundo no Brasil ganharam repercussão internacional. A um
mês dos jogos, a revista “Der Spiegel”, a mais importante da Alemanha e os sites
do jornal “El País”, da Espanha, e da inglesa “The Economist”, trazem
reportagens sobre a insatisfação dos brasileiros com a realização dos jogos. A
mais contundente é a reportagem da “Der Spiegel”, que traz em sua capa uma
imagem da bola oficial do torneio caindo em chamas sobre o Rio de Janeiro. Em
três reportagens, que somam dez páginas, o semanário apresenta um retrato dos
atrasos em obras, da insatisfação dos brasileiros com os altos custos do evento
e dos prováveis embates nas ruas das cidades-sede. Segundo o texto, assinado
pelo jornalista alemão Jens Glüsing, justamente no país do futebol, a Copa do
Mundo pode virar um fiasco por conta de “protestos, greves e tiroteios em vez
de festa".
O jornalista faz um retrato
sombrio da situação do Brasil às vésperas da Copa. E diz que, enquanto os
alemães estão comprando camisas da sua seleção, “nas favelas do Rio, policiais
e traficantes se enfrentam de maneira sangrenta. Em São Paulo, gangues queimam
ônibus quase todas as noites”, afirma. A “Der Spiegel” indaga ainda se o país
viverá uma onda de violência caso a seleção brasileira não ganhe: "Os
jogos vão terminar em pancadaria nas ruas? Políticos e funcionários da Fifa
serão perseguidos por uma multidão enfurecida?"
A revista ressalta os valores
gastos com a construção de novos estádios, "cerca de 2,7 bilhões de euros
(...), talvez até mais, ninguém sabe ao certo", e não poupa sequer o
Maracanã. Apontado como um símbolo contra o racismo e a ditadura, o estádio é
descrito agora como um shopping center com grama no meio. “Os franceses tinham
a Torre Eiffel. Os americanos, a Estátua da Liberdade. Os brasileiros, o
Maracanã."
“The Economist” diz que Brasil é país do
improviso
O site da “The Economist” diz que
a Copa mostra que o improviso ainda é uma marca do Brasil e que, a menos de um
mês dos jogos, os organizadores ainda lutam para ter tudo pronto a tempo. Ele
cita que, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por exemplo, um novo
terminal foi aberto, mas somente oito companhias aéreas vão utilizá-lo, e não
as 25 previstas. O site também diz que o secretário-geral da Fifa, Jérome
Valcke, descreveu que lidar com autoridades brasileiras é infernal.
O espanhol “El País” também
publica no seu site uma reportagem sobre a insatisfação dos brasileiros com a
Copa. Sem falar das manifestações que acontecem hoje no país, o jornal cita uma
pesquisa, publicada na semana passada pela Unicarioca, que mostra que somente
55% da população do Rio de Janeiro apoiará a seleção brasileira durante os
jogos. O texto lembra que na última Copa, realizada na África do Sul, as ruas
do Rio estavam enfeitadas com bandeiras e cartazes de apoio à seleção
brasileira, fenômeno que não se repete agora. No entorno do Maracanã, diz a
publicação, há poucos postes pintados de verde e amarelo. Em Copacabana e
Ipanema, não se nota nenhuma decoração especial.
— Há quatro anos havia mais
ambiente, disse ao jornal espanhol Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getúlio
Vargas. — O governo não se preocupou com a inclusão do povo na Copa. Primeiro,
vendeu como obras do Mundial infraestruturas de transporte que nada têm a ver
com a Copa, gerando muitas expectativas. Em segundo lugar, muito poucos têm
entradas para as partidas, não participam da festa. O governo prometeu demais e
entregou de menos. A consequência é um clima de desânimo e frustração.
Os protestos contra a realização
da Copa do Mundo, que acontecem desde a manhã desta quinta-feira em
cidades-sede dos jogos no país, também ganharam destaque. O site do jornal “The
New York Times” publicou uma reportagem, com o título “Onda de protestos contra
o governo começa no Brasil”, dizendo que pneus foram furados e avenidas
bloqueadas em manifestações que tentam chamar a atenção para os problemas de
habitação e educação, às vésperas da competição. O jornal americano afirma que
centenas de pessoas, incomodadas com os bilhões de reais gastos para sediar a
competição, protestaram em São Paulo, perto do Itaquerão, um dos estádios
construídos para o Mundial. Um dos entrevistados diz que vários moradores foram
forçados a sair de suas casas por conta do aumento do valor dos aluguéis na
vizinhança do Itaquerão.
Segundo a reportagem, as
manifestações são um teste para o governo brasileiro, que tem que mostrar sua
habilidade em garantir a segurança durante a Copa do Mundo. O jornal também
afirma que os líderes brasileiros esperavam que sediar a Copa e, depois as
Olimpíadas, em 2016, seria uma forma de chamar atenção positiva ao Brasil e
mostrar avanços em relação à década passada, com a melhoria da economia.
O jornal argentino “El Clarín”
também destacou as manifestações em seis cidades brasileiras durante a manhã.
Segundo a reportagem, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre,
Salvador e Fortaleza tiveram ruas bloqueadas por ativistas que reivindicavam
“Um dia de luta contra a Copa”. O site do jornal destaca que os manifestantes
têm demandas diversas, mas que todos são contrários aos gastos públicos com o
Mundial. De acordo com o jornal, a Copa era vista pelo governo Dilma Rousseff
como uma forma de desenvolver e ampliar uma infraestrutura urbana que requeria
intervenções urgentes. Até agora, porém, ela não teria trazido os benefícios
econômicos esperados.
Fonte: Agência O Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário