Carlos Alberto Di Franco.
Risco de
radicalizar
O Brasil está ficando esquisito.
Violência sempre existiu. A decantada cordialidade brasileira dissimulou,
frequentemente, o lado sombrio do nosso cotidiano. Mas agora é diferente. Não
se põe o sol sem que imagens brutais alimentem a edição dos telejornais da
noite. Linchamentos começam a fazer parte da rotina informativa. Para onde
vamos? Como é que chegamos a isso? As perguntas estão subjacentes em inúmeras
cartas, e-mails e comentários nas redes sociais. Todos sentem que a coisa está
mal. A sociedade está exaurida. A incompetência e a impunidade são o estopim da
radicalização. Os problemas de mobilidade urbana, falta de segurança, carências
na saúde e na educação passaram da conta. Pronunciamentos na TV e transferência
de responsabilidade não funcionam mais. O povo cansou. E a exaustão pode
despertar forças incontroláveis. Os linchamentos, assustadoramente frequentes,
refletem a perigosa e radical descrença das pessoas nas instituições. O risco
do caos social não é só hipótese. E a possibilidade de uma solução radical e
autoritária também não. Os políticos e governantes precisam acordar.
Os justiçamentos, terríveis, são
o primeiro passo de comunidades que começam a virar as costas para as
estruturas do Estado. A "justiça" direta é terrível. É preciso dar
uma resposta efetiva aos legítimos apelos da sociedade e não um discurso
marqueteiro. A crise que está aí é brava. O isolamento mental de Maria
Antonieta, em 1789, acabou na queda da Bastilha. A história é boa conselheira.
Os políticos precisam sair um pouco da Ilha da Fantasia e sentir a temperatura
do Brasil real.
*Carlos Alberto de Franco – Professor e Doutor em Comunicação.
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