Manifestantes
fecharam entrada para aeroporto e depois protestaram no saguão.
A seleção brasileira se
apresentou nesta segunda-feira em meio a um clima de tumulto e protestos no
Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, onde o grupo se
reuniu antes de seguir para a concentração na Granja Comary, em Teresópolis.
A 17 dias do jogo de abertura da
Copa do Mundo, o primeiro dia da programação oficial do time brasileiro foi
marcado pelo protesto de cerca de 150 professores da rede pública fluminense e
aproximadamente 15 membros do grupo que foi despejado da ocupação na Favela da
Telerj semanas atrás.
Em greve, os educadores exigem
reajustes salariais e melhores condições de trabalho. Após uma série de
passeatas e marchas no centro da cidade nas últimas semanas, a classe pretendia
ir a Teresópolis para protestar, mas, segundo integrantes do grupo, foi
impedida pela polícia.
Os manifestantes dizem que ônibus
e vans que os levariam à serra foram apreendidos pela polícia logo no início da
manhã, e que por isso decidiram ir ao Galeão.
Os jogadores foram chegando aos
poucos, em voos diferentes, e sendo trazidos até um hotel a poucos metros da
área de desembarque do aeroporto.
Ainda cedo, o clima em frente ao
hotel era de calmaria, com dezenas de jornalistas de diferentes países,
policiais e funcionários da CBF, e a única agitação ocorria quando um carro ou
um táxi chegava ao local – sempre na expectativa de que trouxesse mais um
integrante da seleção.
O técnico Luiz Felipe Scolari
está na Granja Comary desde domingo. Os jogadores se apresentam e fazem exames
médicos nesta segunda e terça-feira, e a bola começa a rolar para os treinos
somente na quarta-feira.
Protesto reuniu cerca de 150 professores, que entraram em greve.
Por volta das 10h, a BBC Brasil
testemunhou a chegada de um grupo de 150 professores à área de desembarque
internacional do Terminal 2 do Galeão.
Ao contrário de Copas anteriores,
quando os jogadores eram recepcionados por uma multidão de verde e amarelo, cornetas,
e recebiam pedidos de autógrafos, não havia torcedores para recepcioná-los no
Galeão.
Pouco depois os manifestantes
seguiram para o hotel, perto dali, chamando a atenção da imprensa nacional e
internacional e colocando os policiais de prontidão.
Com faixas pedindo investimentos
em educação e aos gritos de "Pode acreditar, educador vale mais do que o
Neymar!", o grupo manteve sua manifestação pacífica, e não houve confronto
com os policiais, que poucos minutos depois receberam reforço da tropa de choque
da Polícia Militar.
"Vão ver nossas salas de
aula, as condições que a gente tem para lecionar. Precisamos de muito mais do
que um aumento salarial", disse a manifestante Vívian, que preferiu
informar apenas o primeiro nome.
O ônibus da seleção só saiu com a
ação da tropa de choque, que empurrava os manifestantes aos gritos, seguida por
uma viatura da Polícia Federal e batedores. Apesar da tensão e do
empurra-empurra, não houve confronto e não foram usadas bombas de gás
lacrimogêneo, spray de pimenta ou balas de borracha.
Havia duas ou três famílias com a
camisa verde e amarela, e Jarbas Meneghini, que fabrica réplicas da Taça da
Fifa. "Sei que vai haver muitos protestos, mas eu estou aqui para
comemorar e desejar boa sorte ao time", disse.
Transtornos e bloqueio
Após a saída do ônibus que levava
os jogadores, o grupo interrompeu o tráfego da Avenida Vinte de Janeiro, que dá
acesso ao aeroporto. A tropa de choque tentou negociar a liberação de meia
pista, mas os manifestantes não cederam.
Depois o grupo cruzou para o
outro lado da avenida, bloqueando a saída dos terminais. A ideia era impedir
que o ônibus deixasse o aeroporto, mas os batedores abriram caminho por uma
rota alternativa.
As interrupções causaram
problemas. Consultado pela BBC Brasil, o escritório da Infraero no Galeão disse
que os bloqueios provocaram transtornos aos passageiros e que as companhias aéreas
gerenciavam a situação, mas que nenhum voo sofreu atraso devido aos protestos.
O clima se exaltou quando as vias
foram liberadas e o grupo conseguiu entrar no saguão do aeroporto, e além de
gritos, faixas e bandeiras era possível ver passageiros correndo para não
perderem seus voos.
O amazonense Laércio chegou sem
fôlego ao check-in. Seu voo decolava em meia hora para Manaus. "Quando vi
o trânsito parado, achei que fosse a seleção passando. Me surpreendi ao ver
tropa de choque e protesto", disse.
Pouco depois, um grupo de
moradores que foi despejado da Favela da Telerj foi fotografado com sua faixa.
"Os professores nos apoiaram, e agora é nossa vez de apoiá-los. Nossa luta
é por moradia, não temos para onde ir", disse Jo, que ajuda a liderar o
grupo.
Ela explica que das 6 mil pessoas
que foram removidas semanas atrás, cerca de 200 que não tinham para onde ir
permanecem numa igreja na Ilha do Governador, não muito longe do Galeão.
Agentes da Polícia Federal
acompanhavam o protesto, guardando a saída do desembarque internacional.
"É legítimo, são as demandas deles. Só não podem entrar aqui, mas o saguão
é público, eles têm direito de protestar", disse um dos agentes sem se
identificar.
A própria PF ameaça greves
durante a Copa.
Fonte: BBC Brasil.
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