segunda-feira, 26 de maio de 2014

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA 26 DE MAIO DE 2014

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.

A INCONTESTÁVEL REALIDADE.

Nobres:
Por volta de cinco anos o Brasil vivia um momento "última bolachinha do pacote". Era como se dependesse da habilidade dos gringos de pegar carona no nosso futuro de bonança e prosperidade. A gente era o cara. Naquela época o pré-sal, a ascensão da classe C, o Eike bilionário ajudaram a reproduzir, entre nós, aquele repentino (e inédito) surto de otimismo. O Brasil era como aquela mocinha sem graça que passa o filme todo usando óculos e que um banho de loja subitamente revela a beleza escondida: PIB crescendo, distâncias sociais diminuindo, miscigenação, sincretismo, democracia. O presidente Lula anunciava o fim da dívida brasileira do FMI e repassava a seus seguidores da religião lulopetista que o Brasil não tinha dívida nenhuma a pagar estava na plenitude do Paraíso da economia universal, até ao ponto que ouvimos dizer por um metido a intelectual de uma cidade adjacente! (lá é o centro do universo da intelectualidade ignorante) em uma “roda de cerveja” vizinho à casa que ora visitamos em que “venerava o imaculado protetor divino do Brasil o ex-presidente por sí, ter alcançado o utópico mérito. Finalmente temos a nossa audição para que também não se que ouvir tamanha heresia! Retomando as apreciações contextuais, chegamos a implícita realidade dos fatos que assinalou o fim da farra do otimismo do resto do mundo com relação a nós – sem falar, obviamente, das manifestações de junho passado como foco especial. Hoje acabou o baile, e Cinderela voltou para o seu quartinho de serviço com a roupinha simples de sempre. Ao olhar externo crescentemente desconfiado da nossa capacidade de dar conta de eventos como a Copa e as Olimpíadas, veio se juntar um surto de pessimismo interno com o qual, mesmo nas piores situações, também não estamos tão acostumados. Nos últimos dias, declarações desesperançadas de artistas como Ney Matogrosso, que em uma entrevista em Portugal pintou um quadro tenebroso do Brasil, e Wagner Moura, que declarou que estava feliz por ir passar um tempo fora do país, deram voz a um desânimo que não é só deles e que não se explica apenas com análises políticas e econômicas: está no ar. A boa (?) notícia é que o mal-estar contemporâneo não é só econômico ou político e com certeza não é só brasileiro. É bem provável que o Brasil, na média, não esteja nem no fundo do poço nem flanando na estratosfera do futuro glorioso, mas a percepção cotidiana nem sempre é baseada apenas em dados concretos.  O excesso de otimismo de 2009 com certeza contribuiu para o clima de ressaca moral e o baixo-astral generalizado que se instalou no país nos últimos tempos. A politização de todos os aspectos da vida cotidiana certamente acirra o clima de conspiração (se você é dos que defendem o governo) ou descalabro que parece ter contaminado todas as conversas. Copa e eleições, por sua vez, fornecem a cortina de fumaça ideal para nublar ainda mais a visão sensata dos fatos. Quem sabe, em 2015, a gente volte a morar naquele país com qualidades e defeitos, passado e futuro, em que o derrotismo espantoso não era levado tão a sério assim. Afinal precisamos contemplar a realidade e deixar de enganar os outros.

Antônio Scarcela Jorge.

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