COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
A INCONTESTÁVEL REALIDADE.
Nobres:
Por volta de
cinco anos o Brasil vivia um momento "última bolachinha do pacote".
Era como se dependesse da habilidade dos gringos de pegar carona no nosso
futuro de bonança e prosperidade. A gente era o cara. Naquela época o pré-sal,
a ascensão da classe C, o Eike bilionário ajudaram a reproduzir, entre nós,
aquele repentino (e inédito) surto de otimismo. O Brasil era como aquela
mocinha sem graça que passa o filme todo usando óculos e que um banho de loja
subitamente revela a beleza escondida: PIB crescendo, distâncias sociais
diminuindo, miscigenação, sincretismo, democracia. O presidente Lula anunciava
o fim da dívida brasileira do FMI e repassava a seus seguidores da religião
lulopetista que o Brasil não tinha dívida nenhuma a pagar estava na plenitude
do Paraíso da economia universal, até ao ponto que ouvimos dizer por um metido a
intelectual de uma cidade adjacente! (lá é o centro do universo da
intelectualidade ignorante) em uma “roda de cerveja” vizinho à casa que ora
visitamos em que “venerava o imaculado protetor divino do Brasil o ex-presidente
por sí, ter alcançado o utópico mérito. Finalmente temos a nossa audição para
que também não se que ouvir tamanha heresia! Retomando as apreciações
contextuais, chegamos a implícita realidade dos fatos que assinalou o fim da
farra do otimismo do resto do mundo com relação a nós – sem falar, obviamente,
das manifestações de junho passado como foco especial. Hoje acabou o baile, e
Cinderela voltou para o seu quartinho de serviço com a roupinha simples de
sempre. Ao olhar externo crescentemente desconfiado da nossa capacidade de dar
conta de eventos como a Copa e as Olimpíadas, veio se juntar um surto de
pessimismo interno com o qual, mesmo nas piores situações, também não estamos
tão acostumados. Nos últimos dias, declarações desesperançadas de artistas como
Ney Matogrosso, que em uma entrevista em Portugal pintou um quadro tenebroso do
Brasil, e Wagner Moura, que declarou que estava feliz por ir passar um tempo
fora do país, deram voz a um desânimo que não é só deles e que não se explica
apenas com análises políticas e econômicas: está no ar. A boa (?) notícia é que
o mal-estar contemporâneo não é só econômico ou político e com certeza não é só
brasileiro. É bem provável que o Brasil, na média, não esteja nem no fundo do
poço nem flanando na estratosfera do futuro glorioso, mas a percepção cotidiana
nem sempre é baseada apenas em dados concretos.
O excesso de otimismo de 2009 com certeza contribuiu para o clima de
ressaca moral e o baixo-astral generalizado que se instalou no país nos últimos
tempos. A politização de todos os aspectos da vida cotidiana certamente acirra
o clima de conspiração (se você é dos que defendem o governo) ou descalabro que
parece ter contaminado todas as conversas. Copa e eleições, por sua vez,
fornecem a cortina de fumaça ideal para nublar ainda mais a visão sensata dos
fatos. Quem sabe, em 2015, a
gente volte a morar naquele país com qualidades e defeitos, passado e futuro,
em que o derrotismo espantoso não era levado tão a sério assim. Afinal precisamos
contemplar a realidade e deixar de enganar os outros.
Antônio Scarcela
Jorge.
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