REFORMA POLÍTICA.
Cláusula de barreira restringiria ação de 14 partidos se já estivesse em vigor.
Partidos perderiam também acesso ao fundo partidário e tempo de TV.
A cláusula de barreira atualmente em tramitação no
Senado, que impõe requisitos eleitorais para a manutenção de partidos,
limitaria o funcionamento de 14 siglas no Congresso e restringiria o acesso
delas as verbas partidárias caso as regras previstas pelo texto já estivessem
valendo.
Entre as legendas que seriam afetadas estão algumas
tradicionais, como o PC do B, e PPS, além de partidos de criação mais recente,
caso do PSOL e PROS.
O G1 usou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
referentes às eleições de 2014, para simular um cenário em que as regras da
cláusula de barreira já estivessem em vigor.
O texto, apresentado em formato de Proposta de Emenda
à Constituição (PEC), prevê as mudanças a partir das eleições de 2018.
Segundo a PEC, um partido que não atingir resultados
eleitorais mínimos perde o funcionamento parlamentar.
Isso significa, por exemplo, que o partido seria
obrigado a ter uma estrutura menor na Câmara, sem direito a cargos de
liderança, deputados em comissões permanentes e cargos na Mesa Diretora.
Além disso, os partidos perderiam direito ao ‘Fundo Partidário’
e ao tempo gratuito de televisão e rádio.
Os requisitos que a PEC exige dos partidos a partir da
eleição de 2018 são:
- obter pelo menos 2% dos votos válidos para deputado
federal em todo o país;
- conseguir 2% dos votos para deputado federal em, no
mínimo, 14 unidades da federação.
Pelo levantamento do G1, das 27 legendas que existem
hoje na Câmara, restariam, com a cláusula de barreira, somente 13 com
funcionamento parlamentar. Seriam elas:
-PMDB
- PT
- PSDB
- DEM
- PDT
- PP
- PR
- PRB
- PSB
- PSC
- PSD
- PTB
- SD
Perderiam o funcionamento parlamentar as seguintes
legendas:
- PPS
- PROS
- PV
- PC do B
- PEN
- PHS
- PRP
- PRTB
- PSL
- PSOL
- PT do B
- Rede (não disputou as eleições de 2014. Mesmo com os
quatro deputados que tem hoje, não atingiria o mínimo previsto pela PEC)
- PTN
- PMB (também não disputou as eleições de 2014.
Com os (dois deputados que tem hoje, não atingiria o
mínimo previsto pela PEC)
A PEC prevê ainda que, a partir das eleições de 2022,
a taxa mínima de votos apurados nacionalmente seja de 3%.
Com isso, PSC e SD
também entrariam na lista dos que ficariam sem funcionamento parlamentar.
O texto, que é de autoria dos senadores do PSDB
Ricardo Ferraço (ES) e Aécio Neves (MG), já foi aprovado pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e agora está na pauta do plenário da
Casa.
A expectativa é que seja votado pelos senadores depois
das eleições municipais, em outubro. Para virar lei, precisa ainda ser aprovado
pela Câmara.
Argumentos a favor e contra.
Defensores da cláusula de barreira afirmam que a regra
diminuiria a quantidade de partidos no país, considerada excessiva pelos que apóiam
o texto.
O alvo é acabar principalmente com os chamados
"partidos nanicos".
Com restrições ao funcionamento parlamentar e sem
acesso ao fundo partidário e horário de rádio e TV, a tendência é as siglas
menores deixarem de existir ou se fundirem a uma maior.
No dia em que o texto foi aprovado na CCJ, o senador
Aécio Neves afirmou que a proposta vai diminuir negociações em troca de tempo
de TV das chamadas "legendas de aluguel".
"O texto limita o número de partidos, acabando
com as legendas de aluguel, aquelas que existem exclusivamente para se
apropriar do fundo partidário e negociar tempo de televisão e isso permite,
como conseqüência, o ordenamento das discussões políticas", afirmou o
senador.
O professor de Ciência Política da Universidade de
Brasília (UnB) David Fleischer acredita que a redução no número de partidos
melhoraria o diálogo entre Executivo e Legislativo.
“O argumento de que daria melhores condições de
governabilidade ao governo é válido, porque com 28 partidos no Congresso a
governabilidade é bastante afetada.
Com sete, oito, nove partidos, isso seria
melhor. Menos partidos, mais governabilidade”, opinou Fleischer.
Outro benefício da cláusula de barreira, de acordo com
o cientista político, é evitar a corrupção daqueles que chamou de “donos de
partidos nanicos”.
“A barreira elimina a corrupção dos donos de partidos
nanicos. Esses partidos recebem dinheiro do fundo partidário, mas o dono do
partido não coloca esse dinheiro à disposição do partido, para os candidatos. O
dono do partido coloca esse dinheiro na sua conta bancária, no seu bolso.
Ele
aproveita o partido nanico para o seu próprio enriquecimento”, explicou o
especialista.
Para Fleischer, a cláusula de barreira também poderia
esvaziar esquemas de corrupção que têm origem nas formações de bases de apoio
parlamentar, como, por exemplo, o mensalão e o petrolão.
“Talvez com menos de dez partidos também não seja
necessário ao governo federal ‘comprar’ tantos partidos para formar sua base de
sustentação. Isso seria outro benefício”, afirmou Fleischer.
Para quem é contrário á proposta, no entanto, a
cláusula de barreira diminuiria a representatividade política no país e
restringiria as opções de ideologias à disposição do eleitor, já que poderia
eliminar partidos que, apesar de ter poucos votos, possuem posições políticas
marcantes.
A presidente nacional do PC do B, a deputada
pernambucana Luciana Santos, considera que a aprovação da PEC pelo Congresso
seria um “retrocesso”.
“O problema do sistema eleitoral brasileiro, que é ruim,
não reside nesse aspecto do desempenho dos partidos.
Não é aí que se medem os
partidos, eles se medem por sua história, pelo seu programa, então é uma
inversão completa do que deve ser um sistema eleitoral pujante e sólido”,
opinou Santos.
A parlamentar concorda que uma reforma partidária é
necessária, mas com outros aspectos, baseada no fortalecimento de siglas com
programa político mais estabilizado.
“Nós precisamos fortalecer a instituição, o programa.
Evitar essa guerra que existe numa disputa eleitoral proporcional.
Acho que precisaríamos de uma reforma que
possibilitasse ao eleitor votar no partido, e não no candidato.
Assim seria
criada uma cultura de as pessoas votarem pelo programa, pela ideia, e não nas
pessoas”, argumentou a deputada.
Legalidade da proposta.
Outra discussão que divide aqueles que são contrários
e favoráveis à proposta diz respeito à legalidade jurídica do texto.
Para o cientista político da Universidade de Brasília
(UnB) David Fleischer, a proposta é “inconstitucional” e, caso fosse
questionada junto ao Supremo Tribunal Federal, seria derrubada, a exemplo do
que aconteceu em 2006 com uma cláusula de barreira aprovada em 1995.
Na ocasião, o texto previa que os partidos com menos
de 5% dos votos nacionais também teriam estrutura menor na Câmara e ficariam
sem direito a liderança, deputados em comissões e cargos na Mesa Diretora.
“Isso cria duas classes de deputados: os deputados de
primeira classe, de partidos que tiveram bom desempenho eleitoral, com mais
direitos que os deputados de segunda classe, que não atenderam aos requisitos
previstos. É inconstitucional”, opinou David Fleischer.
“Uma verdadeira cláusula de barreira impediria que os
partidos que não atenderam aos requisitos tomassem assento nas Casas
legislativas, como acontece em outros países.
A barreira prevista nessa
proposta é uma barreira de meia tigela”,
ironizou o especialista.
A falha, segundo o professor da UnB, está na
possibilidade de um candidato de um partido com baixo desempenho tomar posse na
Câmara ainda que com os restrição de direitos, o que em tese não diminuiria o
alto número de partidos.
Defensores da proposta, no entanto, dizem que as
regras não podem barrar totalmente os partidos porque seria uma afronta à
manifestação da vontade popular, traduzida pelo voto, de escolher ser
representada pelo candidato de uma legenda com cujo programa político concorda.
Para eles, as restrições financeiras e de tempo de
televisão forçariam os candidatos a procurar partidos com melhores desempenhos,
esvaziando siglas menos votadas.
Isso seria somado ao fim das coligações
partidárias em 2022, que também é previsto pela PEC. Esse mecanismo permite que
candidatos se elejam deputados com as sobras dos votos de concorrentes de
partidos diferentes, mas unidos na disputa.
A expectativa dos defensores da PEC é que o fim das
coligações partidárias também faça com que os candidatos procurem legendas mais
expressivas, uma vez que um partido “nanico” não poderia se unir a outros para
aumentar sua força.
Além disso, os autores da PEC dizem que desde 2006,
quando o STF declarou inconstitucional a cláusula de barreira, os magistrados
têm mudado o entendimento sobre o assunto.
“A nova composição do STF tem sinalizado publicamente
para a necessidade de se incorporar ao ordenamento jurídico pátrio uma
cláusula de desempenho, de forma a se conter a proliferação dos partidos e
evitar a criação de legendas sem alicerces programáticos e ideológicos”,
justificam os parlamentares.
Fonte: G1 – DF.
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