O DESTINO DE CUNHA APÓS A CASSAÇÃO.
Sem foro
privilegiado no STF, ex-deputado terá futuro decidido pela Justiça Federal.
Especialista
afirma que Cunha está mais perto da prisão por causa da ação rígida dos
promotores e juízes da Lava Jato.
Desde que
a Operação Lava Jato revelou o envolvimento do agora ex-deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) com os desvios da Petrobras, uma pergunta surgiu na cabeça dos
brasileiros: quando ele será preso?
Os
primeiros indícios contra Cunha apareceram em março de 2015.
Nos meses
seguintes, surgiram outras acusações: documentos mostraram que ele era detentor
de contas secretas na Suíça; surgiram indícios de que ele aceitou propina em
esquemas de corrupção na Caixa Econômica Federal, em Furnas e no projeto de
renovação do porto do Rio de Janeiro, além de ter participação na suposta venda
de emendas parlamentares.
A
acusação de obstrução da Justiça acabou resultando, em maio, no afastamento de Cunha
da Câmara dos Deputados e conseqüentemente da presidência, que ele ocupava na
época por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
No
momento, sua mulher e filha são alvos de ações na Justiça Federal do Paraná,
berço da Lava Jato, por causa das contas na Suíça.
Cunha
também é alvo de sete inquéritos no Supremo e já é réu em dois processos sob as
acusações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, corrupção e falsidade
ideológica.
Sua
residência já foi alvo de um mandado de busca e apreensão, e seus bens estão bloqueados.
Por que o
Supremo não ordenou a prisão?
Em junho,
a Procuradoria Geral da República (PGR) chegou a pedir sua prisão sob a
acusação de que, mesmo afastado da Câmara, ele continuava a agir para
atrapalhar as investigações contra ele que tramitavam na casa parlamentar.
Na mesma
leva, a PGR incluiu outros políticos do PMDB, como os senadores Renan Calheiros
e Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney, por outros motivos.
O STF
rejeitou os pedidos de prisão dos três, mas não se manifestou sobre Cunha.
O pedido
continua nas mãos do ministro Teori Zavascki, o relator da Lava Jato.
Nos
últimos três meses, a pergunta original sobre a prisão ganhou, assim, uma
variante: por que o Supremo não ordenou a prisão de Cunha?
Segundo o
professor de Direito Constitucional Rubens Glezer, da Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo, a indecisão do STF se deve à prudência habitual do tribunal ao
analisar pedidos de prisão. "O pedido de prisão nesses casos é uma
exceção.
Em
tribunais de primeira instância, os números de prisões são altos, mas isso
baixa em tribunais superiores. Os advogados são mais bem remunerados, os juízes
são mais cuidadosos.
Já foi
uma inovação o STF ter agido para afastar Cunha do mandato.
“A prisão
de um deputado exigiria um flagrante de crime inafiançável”, afirmou.
De acordo
com Glezer, a tendência agora é que o pedido de prisão feito pelo MP perca
efeito, já que, cassado, Cunha não pode fazer mais nada para atrapalhar as
investigações contra ele na Câmara.
Sem foro
privilegiado no STF.
De
qualquer forma, a maior parte das ações contra Cunha deve agora ser remetida à
primeira instância, já que, sem mandato, ele perdeu o foro privilegiado no STF.
Alguns
dos inquéritos e processos contra ele deverão ser assumidos pela Justiça
Federal do Paraná, onde trabalha o juiz Sérgio Moro, que concentra os casos da
Lava Jato que envolve figuras sem mandato político, como empreiteiros e
tesoureiros de partidos, muitos deles já cumprindo pena na prisão.
Outros
devem ser enviados para as Justiças Federais do Rio de Janeiro e do Distrito
Federal, já que incluem suspeita de fraude praticadas nesses Estados, como a
propina envolvendo o porto do Rio.
Portanto,
outros juízes deverão decidir se Cunha pode ser alvo de um mandado de prisão
preventiva.
Chances
de prisão aumentam.
Segundo
Cristiano Maronna, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais (IBCCRIM), as chances de Cunha eventualmente ser preso devem
aumentar, especialmente por causa do histórico de Sérgio Moro e dos
procuradores da Lava Jato.
Mesmo que
uma prisão cautelar não seja decretada logo, o deputado vai enfrentar
dificuldades em eventuais julgamentos na Justiça Federal do Paraná que tem
aplicado penas duras, e cujas decisões raramente são reformadas por tribunais
superiores e eventualmente deve cumprir pena.
"A
Lava Jato tem ido atrás de alvos preferenciais, e Cunha pode se tornar
facilmente um deles", afirma Maronna.
Ainda
segundo ele, os investigadores de Curitiba, pelo seu histórico de atuação,
talvez nem precisem esperar por um fato novo (como mais uma acusação de
obstrução) para determinar a prisão.
"Podem
apontar, por exemplo, que ele continuou a movimentar recursos financeiros e reincidiu
na prática de lavagem de dinheiro.
Sérgio
Moro costuma ver a prisão cautelar como uma punição antecipada.
A
pergunta é se Cunha vai colaborar.
A mulher
e filha também estão sofrendo problemas com a Justiça.
Fonte: Agência Brasil.
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