CÂMARA CASSA MANDATO DE EDUARDO CUNHA POR 450 VOTOS A 10.
Ex-presidente da Casa foi acusado de
mentir a CPI sobre contas no exterior.
Processo se arrastou por 10 meses;
Cunha chegou a ser afastado pelo STF.
O plenário da
Câmara cassou nesta segunda-feira (12), por 450 votos a favor, 10 contra e 9
abstenções, o mandato do ex-presidente da Casa deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Para a cassação, eram necessários os votos de 257 dos 513 deputados
(veja como cada deputado votou)
A cassação foi
motivada por quebra do decoro parlamentar. O deputado foi acusado de mentir à
CPI da Petrobras ao negar, durante depoimento em março de 2015, ser titular de
contas no exterior.
Na sessão desta
segunda, o advogado de Cunha e o próprio deputado foram à tribuna da Câmara
para apresentar a defesa. Eles reafirmaram que Cunha não tem contas no
exterior. Após o anúncio do resultado da votação, Cunha disse ter sido alvo de
"vingança política".
Com a decisão do
plenário, Cunha, atualmente com 57 anos, fica inelegível por oito anos a partir
do fim do mandato. Com isso, está proibido de disputar eleições até 2026.
Assim, ele só poderá se candidatar novamente aos 67 anos.
Além disso,
perderá o chamado "foro privilegiado", isto é, o direito de ser
processado e julgado somente no Supremo Tribunal Federal (STF). Com isso, os
inquéritos e ações a que responde na Operação Lava Jato deverão ser enviados
para a primeira instância da Justiça Federal.
Caberá ao
próprio STF definir se esses inquéritos e ações serão enviados para o juiz
Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato no Paraná, ou para outro estado onde possam
ter ocorrido os supostos crimes imputados ao agora ex-deputado.
Contra a
cassação,
Os dez deputados
que votaram contra a cassação de Cunha foram:
- Carlos Marun
(PMDB-MS);
- Paulo Pereira
da Silva (SD-SP);
- Marco
Feliciano (PSC-SP);
- Carlos Andrade
(PHS-RR);
- Jozi Araújo
(PTN-AP);
- Júlia Marinho
(PSC-PA);
- Wellington (PR-PB);
- Arthur Lira (PP-AL);
- João Carlos
Bacelar (PR-BA);
- Dâmina Pereira
(PSL-MG).
Abstenções
Os nove
deputados que se abstiveram foram: - Laerte Bessa (PR-DF);
- Rôney Nemer
(PP-DF);
- Alfredo Kaefer
(PSL-PR);
- Nelson Meurer
(PP-PR);
- Alberto Filho
(PMDB-MA);
- André Moura
(PSC-SE);
- Delegado Edson
Moreira (PR-MG);
- Mauro Lopes
(PMDB-MG);
- Saraiva Felipe
(PMDB-MG)
Cassados,
Desde novembro
de 2013, quando uma emenda constitucional acabou com o voto secreto nos
processos de cassação de parlamentares, perderam o mandato, além de Cunha, os
deputados André Vargas (sem partido-PR) e Natan Donadon (sem partido-RO). Antes
deles, tinham sido cassados Pedro Correa (PP-PE), José Dirceu (PT-SP), Roberto
Jefferson (PTB-RJ) e André Luiz (sem partido-RJ).
Dez meses.
A votação desta
segunda ocorreu dez meses após o início do processo ao qual Cunha respondeu.
Desde novembro
do ano passado, quando o caso foi aberto no Conselho de Ética, o andamento do
processo sofreu diversas reviravoltas, por recursos da defesa e manobras de
aliados.
Relator.
Ao falar no
plenário nesta segunda-feira, o relator do caso, deputado Marcos Rogério
(DEM-RO), voltou a dizer que o peemdebista é dono e beneficiário de contas na
Suíça. Segundo Rogério, Cunha omitiu ter milhões de dólares no exterior para
esconder a prática de crimes, como evasão de divisas e recebimento de valores
indevidos.
Em sua defesa,
Cunha sempre negou ser o titular de conta fora do país, mas diz apenas ser o
beneficiário de recursos geridos por trustes (empresas que administram fundos e
bens).
Para o relator,
há "provas incontestes" de que os trustes dos quais Cunha alega ser
apenas o beneficiário, são "meros instrumentos para dissimular evasão de
divisas, a lavagem de dinheiro e o recebimento de propina".
Cunha se
defendeu.
Durante a
sessão, nesta segunda-feira, ao se defender, Cunha afirmou que a votação é
"puramente de natureza política".
No plenário da
Câmara, ele atacou o PT e relacionou as investigações contra ele ao pedido de
impeachment de Dilma Rousseff, que Cunha aceitou quando era presidente da Casa.
"Esse
processo de impeachment é que está gerando tudo isso. O que quer o PT? Um
troféu, para dizer que houve um golpe. Golpe foi dado pela presidente. Golpe é
usar o dinheiro do petrolão para pagar caixa 2 de campanha. Isso que é golpe,
com o conhecimento da presidente [Dilma Rousseff]", disse o deputado
afastado, que falou logo depois do seu advogado, Marcelo Nobre.
Afastamento.
Em maio, numa
decisão inédita, o STF determinou o afastamento de Cunha da presidência da
Câmara e também a suspensão do mandato parlamentar. A Suprema Corte entendeu
que Cunha usou o cargo para interferir nas investigações contra ele. Isolado
politicamente, Cunha acabou renunciando ao cargo de presidente em julho.
Antes da votação
desta segunda, parlamentares próximos ao peemedebista reconheciam que as
chances de ele conseguir salvar o seu mandato eram mínimas. Alguns deles, no
entanto, tentaram substituir a punição do deputado, de cassação para suspensão
do mandato.
Questão de ordem.
Fieis aliados de
Cunha, os deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Edson Moreira (PR-MG) foram os
únicos a subir à tribuna da Câmara para defender o correligionário.
Marun disse que
a Casa estava condenando um deputado "à morte política" em um
processo "frágil, desprovido de provas".
O integrante da
"tropa de choque" de Cunha chegou a apresentar uma questão de ordem,
rejeitada, pedindo a votação de um projeto de resolução, em vez do parecer
aprovado pelo Conselho de Ética.
A diferença
entre os dois é que, regimentalmente, o parecer não pode ter o seu teor
alterado. Ou seja, os deputados só podem decidir se cassam ou absolvem Cunha.
No caso do projeto, caberiam emendas, o que permitiria, por exemplo, colocar em
votação texto com pena mais branda, como a suspensão do mandato.
Maia, porém,
rejeitou o pedido argumentando que é tradição na Casa votar o parecer oriundo
do Conselho de Ética. Marun, então, recorreu à Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da decisão de Maia, dizendo que solicitava ainda que a sessão
fosse suspensa até que a comissão analisasse o mérito do recurso.
Conforme manda o
Regimento Interno da Câmara, Maia consultou o plenário, duas vezes, para saber
se pelo menos um terço dos deputados apoiava colocar em votação o efeito
suspensivo da sessão. No entanto, poucos levantaram as mãos. O recurso foi
encaminhado à CCJ, que não tem prazo para analisá-lo, mas a sessão continuou.
Marun também
afirmou várias vezes que truste não é conta e, por isso, na visão dele, Cunha
não mentiu à CPI da Petrobras.
O parlamentar
disse ainda que as provas produzidas contra o ex-presidente da Câmara se
basearam em relatos de delatores que não comprovaram o envolvimento de Cunha em
esquemas de corrupção.
A deputada Moema
Gramacho (PT-BA) foi uma das que fizeram um discurso inflamado contra Cunha.
“Ele utilizou o cargo de presidente para chantagear deputados”, acusou Moema.
Na orientação
feita às bancadas para a votação do requerimento, vários deputados fizeram
duras críticas a Eduardo Cunha.
A deputada
Clarissa Garotinho (PR-RJ) chegou a chamá-lo de “psicopata” por “acreditar nas
próprias mentiras” e “mafioso” por usar “a família para encobrir as suas
falcatruas”.
No total, 39
deputados se inscreveram para debater o parecer do Conselho de Ética. No
entanto, após quatro terem discursado, foi aprovado um requerimento para
encerrar a fase de discussão.
Fonte: G1 – DF.
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