O jornal Financial Times publicou um duro editorial
sobre a crise política e econômica no Brasil. Com o título "Recessão e
politicagem: a crescente podridão no Brasil", o texto diz que a
"incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia" do País. A
publicação diz que os recentes fatos levam o Brasil a ser comparado com um
"filme de terror sem fim" e que, diante do risco de impeachment da
presidente Dilma Rousseff, "tempos piores ainda podem estar por vir".
O FT reconhece, porém, que as instituições brasileiras têm mostrado força e
exalta a prisão de executivos das maiores construtoras brasileiras.
"Incompetência, arrogância e corrupção abalaram a
magia do Brasil. Combinado com o fim do boom das commodities, tudo isso tem
levado a oitava maior economia do mundo para uma recessão profunda. O escândalo
de corrupção na Petrobras só agrava a podridão. Mais de 50 políticos e dezenas
de empresários estão sob investigação por terem levado US$ 2,1 bilhões em
propinas. Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado sob a acusação de tráfico de
influência. Há cada vez mais rumores de que a presidente Dilma Rousseff, no
sétimo mês do segundo mandato, pode ser cassada. Isso ainda parece improvável,
mas a probabilidade cresce a cada dia", diz o editorial desta
quinta-feira, 23, publicado ontem na internet.
Diariamente, o FT publica na web os editoriais que serão
veiculados na edição impressa do dia seguinte. O editorial explica que dois
motivos explicam a piora do quadro. Primeiro, o jornal cita a volta atrás de
Dilma Rousseff na economia após a malsucedida experiência com a "nova
matriz econômica".
Com o aumento dos juros e corte de gastos, a economia
sofre e o apoio político dos aliados diminui, explica o jornal. "A maior
razão, no entanto, é o escândalo de corrupção. Embora ela tenha presidido o
conselho da Petrobras entre 2003 e 2010, poucos acreditam que Rousseff é
realmente corrupta. Isso não significa, porém, que ela esteja segura.
Dilma
enfrenta acusações de que seu governo quebrou regras de financiamento de
campanha e adulterou contas do governo, ambos os motivos para
impeachment." O editorial reconhece que, por enquanto, políticos
brasileiros têm preferido que a presidente continue no poder. "Mas esse
cálculo pode mudar à medida que eles tentam salvar suas peles", cita o
texto que lembrar que o "chefe do Congresso" sem citar o nome de
Eduardo Cunha, migrou para a oposição e que Lula pode ser processado.
Diante do quadro, o FT diz que "não é à toa que o
Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim". O editorial
diz que a presidente Dilma tende a ter "três anos solitários como
presidente". "Brasileiros são pragmáticos. Então, o pior cenário de
um impeachment caótico pode ser evitado. Ainda assim, mercados começam a
colocar no preço esse risco. Pode ser muito bem que tempos piores ainda estejam
por vir para o Brasil", completa o texto.
Apesar do tom pesado, o editorial reconhece que o
escândalo de corrupção na Petrobras tem "demonstrado a força das
instituições democráticas do Brasil". "Em um país onde os poderosos
dizem estar acima da lei, Marcelo Odebrecht, chefe da maior empresa de
construção do Brasil, está preso. Esta semana, três executivos da Camargo
Corrêa, outra construtora, receberam sentença de mais de dez anos na
prisão", diz o editorial.
O texto lembra ainda que contratos de empreiteiras
brasileiras estejam sendo investigados em Portugal, países da América Latina e
também podem ser alvo nos Estados Unidos, já que empresas como a Odebrecht têm
títulos emitidos em Nova York. "Isso leva a políticos e líderes
empresariais a pensarem duas vezes antes de pagar um suborno, o que é um grande
avanço na luta da região contra a corrupção".
Fonte: Agência Estadão.
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