Parlamentares se dividem sobre o impacto que o novo partido, se criado,
pode trazer à oposição.
A criação de um novo partido no
Ceará, o PL, conforme noticiou o Diário do Nordeste no último dia 8, pode
esvaziar a oposição no Estado, uma vez que aqueles insatisfeitos com suas
legendas podem ingressar no grêmio. Deputados de oposição na Assembleia
Legislativa acreditam que a legenda pode se tornar uma ameaça ao "Grupo
dos 13", bloco que quer figurar como a representação oposicionista na
Casa.
Em 2011, com a criação do PSD no
Ceará, inúmeros políticos, principalmente de partidos como o PSDB, ingressaram
na agremiação, esvaziando a representação tucana no Legislativo Estadual. O
deputado Roberto Mesquita (PV) destacou que a criação da agremiação visa apenas
abrigar insatisfeitos em partidos de oposição, o que representa uma ameaça. Ele
criticou o sistema partidário no Brasil, ressaltando que os partidos são
comandados por dirigentes que se sentem donos dos grêmios.
"Se tem alguém na oposição
que não está satisfeito ou não se dá bem no partido ou não encontra espaço em
seu partido, com surgimento de nova legenda se abriga para politicamente ter
espaço", disse Mesquita.
Parlamentares confirmam
insatisfação de integrantes da nova bancada oposicionista da Assembleia
Legislativa, como seria o caso do deputado Agenor Neto (PMDB), conforme apontam
lideranças que não quiseram se identificar. Alguns acreditam que ele poderá ser
um dos cooptados pela nova legenda. O Diário do Nordeste tentou contato com o
peemedebista, mas seu celular estava desligado.
Consolidado
Um dos nomes expressivos da nova
oposição da Assembleia, o deputado Wagner Sousa (PR) declarou que, apesar das
diferenças entre os partidos, o grupo está consolidado e a maioria está
contemplada. "Perder um seria natural, mas acho pouco provável que muitos
deixem o bloco", salientou. Carlos Matos (PSDB) também defendeu a
consolidação do bloco e destacou que, sempre ao se criar um novo partido,
"há uma tentação" de parlamentares para ingressar na sigla.
"A reforma política é algo
urgente. Antigamente, o Governo assumia e cooptava as pessoas e hoje não é
permitido porque o mandato é dos partidos. Essa forma de criação de partidos é
uma falta de respeito, pois já há partidos demais no País", disse.
Fernanda Pessoa (PR) acredita que
a saída de deputados para novos partidos, visando à sobrevivência política, é
normal, lembrando que o mesmo ocorreu com o PR, quando Leonardo Pinheiro saiu
do grêmio para se filiar ao PSD, em 2011. "Quando um bloco é criado,
sempre existem pessoas que não são tão ativas. Acho que faz parte da
acomodação, mas a oposição vai estar fortalecida e unida", aponta.
Silvana Oliveira (PMDB) não
descarta deixar o seu partido algum dia, mas relata que isso só aconteceria se
tivesse acirramentos ideológicos na sigla. "Não me vejo sofrendo nada no
PMDB. Até agora não senti necessidade de sair, me sinto confortável".
A criação do PL no Ceará deve
gerar embates na política local e um deles diz respeito àqueles que estão por
trás da criação do novo partido. No Estado, quem encabeça a coleta de
assinaturas para constituição da nova sigla é o presidente do PSD, Almicyr
Pinto, que convidou o irmão, Aramicy Pinto, para dirigir a legenda quando for
formalizada.
Identidade ideológica
Para especialistas em Direito
Eleitoral, não há impedimento legal para que isso corra, mas demonstra a falta
de identidade ideológica de partidos. Segundo o advogado Irapuan Camurça,
eticamente, a atitude é censurada, mas muito praticada. "Demonstra que a
ideologia no País não é sólida. Essa ação está na fronteira da censura ética.
Não é falta de legislação, mas de amadurecimento político", opina.
Já Djalma Pinto ressaltou que a
legislação tem estimulado a proliferação de partidos e defende uma revisão na
legislação. "Os partidos no Brasil, de um modo geral, querem partilhar o
poder e não chegar ao poder. Eles não querem chegar ao comando do poder
político, mas extrair dividendos, participar da partilha de cargos sem critério
nenhum", atesta Djalma Pinto.
Fonte: Agência Diário.
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