COMENTÁRIO.
Scarcela
Jorge.
CRISE NOS DEMAIS SETORES.
Nobres:
Mesmo que o
governo federal relute em aceitar, especialistas asseguram que o Brasil está à
beira de um colapso energético, resultante da conjugação perversa entre a falta
de planejamento dos administradores, o chamado estresse hídrico (pouca chuva) e
a pouca conscientização dos consumidores. De todos esses fatores, o primeiro é
o que mais contribui para que a crise do setor tenha chegado ao atual estágio.
Uma sucessão de omissões, deste e de governos anteriores, subestimou a
capacidade de geração e de distribuição do país. Uma estrutura que há anos está
aquém da demanda expõe agora suas fragilidades, com apagões eventuais que,
conforme advertências de analistas da área possam, sim, se transformar em
interrupções generalizadas de energia. A prova disso foi o recente corte, que
atingiu 11 Estados. A situação é grave, especialmente no momento em que o país
enfrenta uma onda de calor que eleva consideravelmente o consumo. Surpreende
que, nesse contexto, as declarações das autoridades não contribuam para
transmitir confiança aos consumidores. Nesta semana, o ministro de Minas e
Energia fez uma afirmação inútil para as tentativas de compreensão da ameaça de
falta de luz. Disse o senhor Eduardo Braga que “Deus é brasileiro” e que ele
fará alguma coisa para que volte a chover em determinadas regiões, elevando assim
os níveis dos reservatórios. É óbvio que a geração das hidrelétricas depende
das chuvas, mas não só disso. Mesmo que o ministro tenha relacionado uma série
de investimentos, obviamente todos sabem que muitos deles chegam tardiamente. O
risco de déficit de energia vem crescendo a cada ano, de acordo com
prognósticos de organismos que monitoram o setor. Essa ameaça só não foi
ampliada porque a economia brasileira não cresce no ritmo desejável. Mesmo
assim, houve expressivo impacto de consumo pela melhoria de renda da população.
O dado mais cruel disso tudo é que os mesmos cidadãos beneficiados pela
ascensão social são agora punidos pelos exagerados aumentos nas tarifas, que em
alguns casos ultrapassam os 50%. Nesse contexto, a energia elétrica não pode
ser vista apenas por sua relevância econômica. É também uma conquista social
que expressa melhoria na qualidade de vida. O consumidor saberá fazer a sua
parte, com o uso racional desse recurso. E o governo deve cumprir com suas
atribuições, sem transferir responsabilidades para Deus e para o acaso, é um
“normativo” inconsequente deste e do governo anterior.
Antônio Scarcela
Jorge.
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