COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge.
ARTÉRIA POLÍTICA.
Nobres:
O mundo está estarrecido sobre a
evidência terrorista que atacou París. A chacina de agora não foi só um ato
contra a liberdade de expressão, ou contra a cultura e a arte da sátira
expressada nas caricaturas do Charlie Hebdo. Reduzi-lo a isto é desconhecer os
assassinos, pensar que pensam ou raciocinam, quando de fato são máquinas de
ódio geradas pela deformação fanática do islamismo. Chama-me a atenção, porém,
a imperturbável brandura com que tratamos os tais “radicais islâmicos”. Matam
“em nome de Alá” cada vez mais, como se os crimes superassem nossa capacidade
de evitar ou punir o terror que praticam até na França, país que os acolheu e
os livrou da fome e da opressão do mundo muçulmano. Mais do que a liberdade de
expressão, está em jogo um estilo de vida e de comportamento. Ou o boçal
“pensamento único” irá se impuser pela força à convivência e ao diálogo? No
Brasil, em matanças de outro tipo e com outros deuses, também está em jogo um
estilo de vida. Além do assalto de rua, a mentira mata a cada dia. Mentem-nos
num bombardeio diário, sempre para roubar. E, vindo de cima, o roubo mata os
valores morais, nos assassina sem tirar a vida. O escândalo das próteses
ortopédicas é o elo novo do grande embuste que assola o país e transforma em
crime o que devia ser honesta dedicação à saúde humana. Médicos, advogados e
laboratórios unem-se para enganar enfermos e fazer da Justiça uma grotesca
fábrica de “liminares” e, assim, roubar do Estado ou de cada um de nós, pois o
povo é o Estado. Imitam governantes, políticos e empresários que, com idêntico
despudor, mentem para assaltar a administração pública. A roubalheira na Petrobras, por exemplo, foi comandada por três partidos (PMDB,
PP e PT) que nada teriam em comum. Em teoria, o PT é de esquerda; o PP é de
direita e o PMDB é ampla e aceita tudo, mas se juntam para saborear o apetitoso
butim clandestino. Os partidos menores ficam com as sobras do banquete. A
mentira domina tudo, como vírus que se propaga e contamina a todos. Quem irá
salvar-se? A fraude das próteses ortopédicas, por exemplo, colide com o espírito da
medicina em si. Os médicos lidam diretamente com a vida, não devem mentir ou
enganar. No máximo, dirão uma “piedosa fantasia” a um doente terminal. Mas
somos o único país do mundo em que a maioria dos nascimentos (uns 60%) ocorre
por cesárea, como se o ventre das brasileiras exigisse parto antinatural,
diferente das mulheres do planeta. Ou é só um ardil para cobrar mais, mesmo
submetendo a mulher ao risco inerente de uma cirurgia? Onde começa o emaranhado
comportamental? Os políticos levaram a mentira à sociedade, ou a sociedade os
inoculou com a mentira? Repete-se a dúvida insolúvel da biologia e da
filosofia: quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? E se colocássemos uma
prótese mental nessa gente dedicada ao crime, que se insta sobre a proteção do governo.
Antônio Scarcela Jorge.
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