No ano passado, foi registrado déficit primário de R$ 32,53 bilhões, diz
BC.
Após pagar juro, resultado é um dos piores do mundo e dívida pública sobe.
Após pagar juro, resultado é um dos piores do mundo e dívida pública sobe.
Influenciadas pelo resultado
ruim do governo federal, as contas de todo o setor
público consolidado – que englobam também os estados, municípios e empresas estatais
– registraram o primeiro déficit primário (receitas menos despesas, sem contar
juros) da história em 2014.
Segundo números divulgados pelo
Banco Central nesta sexta-feira (30), o setor público consolidado teve um
déficit primário de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do Produto Interno Bruto (PIB),
em todo ano passado.
É o pior resultado desde 2001,
quando começou a série histórica do BC. Até o momento, o menor valor (na
comparação com o PIB) havia sido registrado em 2013 – quando houve superávit
primário de 1,9% do PIB, equivalente a R$ 91 bilhões.
No ano passado, as contas
públicas tiveram forte deterioração devido ao aumento de gastos em ano
eleitoral, à ajuda para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e à queda
real da arrecadação – resultado do fraco nível de atividade da economia e das
desonerações de tributos anunciadas nos últimos anos pelo governo.
"A moderação da atividade
econômica afetou a arrecadação pública, um dos fatores que explica a redução do
resultado primário das contas públicas. Outro fator são as desonerações. A
Receita Federal estima em um pouco mais de 100 bilhões em impacto das reduções
de tributos em 2014. E por fim destaca-se o crescimento das despesas com
investimentos", avaliou Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento
Econômico do Banco Central.
Estados e municípios.
Os números da instituição mostram
que a deterioração das contas públicas, registrada em 2014, não se limitou ao
governo federal. Os estados da federação também registraram déficit em suas
contas – o primeiro da série histórica, que começa em 2001. No último ano, os
estados, capitais e seus principais municípios, tiveram um déficit primário de
R$ 7,79 bilhões.
Segundo o Banco Central, os
estados de São Paulo e Rio de Janeiro, junto com capitais e principais cidades,
tiveram forte piora nas suas contas no ano passado.
São Paulo, por exemplo, que havia
registrado superávit primário de R$ 8,32 bilhões em 2013, passou para um
resultado negativo (déficit primário) de R$ 3,44 bilhões no ano passado. No Rio
de Janeiro, também contando com a capital e principais municípios, que teve
superávit de R$ 1,5 bilhão em 2013, houve um déficit de R$ 7,18 bilhões em
2014.
O Distrito Federal, que passa por
uma crise em suas contas públicas, com atraso de pagamento de servidores, teve
um déficit de R$ 2,14 bilhões em 2014, contra um superávit de R$ 685 milhões em
2013. Na contramão, Minas Gerais melhorou o resultado primário, passando de um
superávit de R$ 267 milhões em 2013 para um saldo positivo de R$ 3,14 bilhões
no ano passado.
Meta fiscal.
No início de 2014, a equipe
econômica informou que o objetivo para as contas de todo o setor público
(governo, estados e municípios), em 2014, seria de um superávit de R$ 99
bilhões – o equivalente a 1,9% do PIB, o mesmo percentual registrado em 2013.
Deste total, R$ 80,8 bilhões corresponderiam ao esforço que somente o governo
central estaria buscando em 2014.
Em novembro de 2014, porém, com o
fraco resultado das contas públicas, o governo enviou um projeto de lei ao
Congresso Nacional para alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e abandonar
a meta fiscal acertada no início do ano passado. O projeto, que admitia a possibilidade de haver até mesmo déficit
primário em 2014 (como de fato aconteceu), provocou debates intensos no
Legislativo, mas acabou sendo aprovado pelos parlamentares.
Compromisso da nova equipe econômica.
O ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, informou em novembro que foi fixada, para este ano, uma meta
de superávit primário para o setor público de 1,2% do PIB para 2015 e de pelo menos 2% do PIB para 2016 e 2017
Para 2015, o esforço de 1,2% do
PIB equivale a uma economia de R$ 66,3 bilhões para o setor público.
Segundo ele informou naquela
ocasião, o objetivo imediato do governo foi estabelecer uma meta de superávit
primário para os três próximos anos que contemple a estabilização e declínio da
dívida pública. Para Levy, essa meta é fundamental para o aumento da confiança
na economia e para a consolidação dos avanços sociais.
Resultado após pagamento de juros.
Após o pagamento de juros da
dívida pública, resultado que é conhecido no jargão econômico como
"nominal" e é uma das principais formas de comparação do resultado
das contas públicas com outros países, foi registrado um déficit de R$ 343
bilhões em 2014 - o equivalente a expressivos 6,7% do PIB. Em 2013, o resultado
nominal havia sido negativo em R$ 157 bilhões, ou 3,25% do PIB. Para 2015, o BC
prevê melhora do resultado, com queda do déficit nominal para 4,5% do PIB.
Segundo estimativas do Fundo
Monetário Internacional (FMI), o déficit nominal da ordem de 6,7% do PIB para o
Brasil em 2014 é um dos piores do mundo, colocando o país em situação parecida
a Argentina, que passa por grave crise econômica. Para 2014, o FMI previu em
outubro (última estimativa disponível) um déficit nominal de 4,48% do PIB para
o país vizinho.
Ainda segundo expectativa do FMI,
o Brasil ficará em situação pior que várias economias emergentes, como o Chile
(déficit de 1,75% do PIB) em 2014, a China (-1% do PIB), a Colômbia (-1,45% do
PIB), Indonésia (-2,46% do PIB), México (-4,2% do PIB), Equador (-4,27% do
PIB), Peru (-0,1% do PIB), Rússia (-0,9% do PIB), Portugal (-4% do PIB),
Turquia (-2% do PIB) e Uruguai (-3,5% do PIB) e França (-4,4% do PIB).
Para a Itália, a expectativa é de
um resultado negativo de 3% do PIB e, para a Alemanha, um superávit de 0,3% do
PIB neste ano. Também terá ficado pior do que a África do Sul (-4,9% do PIB),
Espanha (-5,7% do PIB), Reino Unido (-5,28% do PIB), Estados Unidos (-5,5% do
PIB)
Por outro lado, o Brasil ainda
estará melhor, de acordo com as estimativas feitas pelo Fundo Monetário
Internacional em outubro, do que a Índia (-7,22% do PIB), Japão (-7% do PIB) e
Venezuela (-14% do PIB).
Dívida pública sobe.
Com a piora do resultado das
contas públicas em 2014, resultado de aumento de despesas e fraco comportamento
da arrecadação, a dívida pública voltou a crescer.
Segundo números do Banco Central,
a dívida líquida do setor público (governo, estados, municípios e empresas
estatais) somou 36,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro, contra 33,6%
do PIB no mesmo mês de 2013. A dívida líquida considera os ativos do país como,
por exemplo, as reservas internacionais - atualmente acima de US$ 370 bilhões.
Este foi o primeiro aumento anual
da dívida líquida desde 2009 - quando o governo baixou o superávit primário foi
reduzido pelo governo para combater os efeitos da crise financeira
internacional no nível de atividade brasileiro.
No caso da dívida bruta, uma das
principais formas de comparação internacional, e que não considera os ativos
dos países, mas apenas seu endividamento, a dívida brasileira também subiu em
2014. No fim do ano passado, estava em 63,4% do PIB (R$ 3,25 trilhões), em
comparação com 56,7% do PIB, ou R$ 2,74 trilhões. Este foi o primeiro aumento
da dívida pública bruta desde 2012.
A expectativa da autoridade
monetária é de novo crescimento da dívida pública neste ano. Segundo Fernando
Rocha, do BC, a dívida líquida deve avançar para 37,3% do PIB no fim de 2015 e
a dívida bruta deve subir para 63,6% do PIB. A estimativa do Banco Central
considera um superávit primário de 1,2% do PIB para o setor público neste ano e
as previsões do mercado, da última semana, para dólar, juros e inflação.
Questionado se o BC prevê piora da nota brasileira pelas agências de
classificação de risco por conta dos resultados ruins das contas públicas neste
ano, Rocha afirmou que a instituição "não leva em consideração esse
cenário".
Fonte:
Agência Brasil.
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