terça-feira, 20 de janeiro de 2015

COMENTÁRIO DO JORNALISTA RICARDO GUZZO

 COMENTÁRIO.
Ricardo Guzzo.

ESPEREM O BARÍTONO.

A presidente Dilma Rousseff começou seu segundo governo com mais uma exibição desta sua estranha habilidade em escolher, entre todas as opções possíveis, sempre aquela que é a pior. Nem foi preciso esperar pelo discurso de posse, mais um fenômeno na arte de anunciar o bem e fazer o mal que tanto atrai a presidente. Bastava, logo de cara, ver os seus ministros. Pelo manual mais elementar do bom-senso, deveriam ser os 
melhores entre os melhores. 
Mas Dilma é Dilma. Nomeou os piores que encontrou à disposição no momento, mais uma prodigiosa manada de nulidades, com apenas duas exceções, Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura – e mesmo aí conseguiu se meter em confusão, pois ambos já estão jurados de morte pelo PT e terão de gastar boa parte do seu horário de trabalho simplesmente tentando sobreviver. É típico da presidente: em 39 possibilidades, o número dos cargos que tinha a preencher, acertou duas. Obstinação? Como Dilma jamais explicará ao público nenhuma das escolhas que fez, fica realmente parecendo que estamos diante de um caso de ideia fixa. Em resumo: o ministério do seu segundo mandato é um hino à perseverança no erro. O primeiro governo de Dilma foi um espetáculo praticamente sem intervalos de corrupção, incompetência coletiva e culto à farsa. O Brasil teve um crescimento miserável nos últimos quatro anos, fracasso para o qual não há desculpa. O melhor investimento possível, na média de 2011 para cá, foi o dólar, marca de todas as economias derrotadas; é o que há, em matéria de subdesenvolvimento. A presidente se irrita quando os fatos indicam que o Brasil é um país vira-lata – mas como governante ela insiste em fazer tudo o que pode para garantir que continuemos exatamente assim. Sua última contribuição é esse ministério. É como se Dilma, a exemplo do tenor vaiado que ameaça a plateia (“Esperem só o barítono”), estivesse dizendo: “Vocês acham que o meu primeiro governo foi ruim? Esperem só o segundo”. Vai-se ver a lista de novos ministros e quem está lá? Ninguém menos que Jader Barbalho, por exemplo. O nomeado é seu filho, mas nem Dilma acredita nisso; o ministro é Jader mesmo, ex-presidiário por denúncia de corrupção e gigante na história da treva política nacional. É a opção deliberada pelo deboche. Fica pior no Ministério da Educação, responsável por lidar com o problema estratégico número 1 do Brasil. Entre os 200 milhões de brasileiros hoje vivos, é impossível, pela lei das probabilidades, que não haja profissionais com competência para tirar a educação brasileira da miséria em que está enterrada. 

Mas Dilma nomeia o ex-governador Cid Gomes, do Ceará, um espetacular zé-ninguém na área. O que fez esse Gomes, em toda a sua vida, que o tornasse capaz de ser promovido ao posto de maior autoridade na educação brasileira? O que ele sabe, além de pedir verba, gastar dinheiro e nomear amigos? O ponto de maior destaque em sua biografia é ter fretado um jatinho, quando governador, para um passeio com a sogra pela Europa. É o grande nome de Dilma para comandar a “Pátria Educadora”.

*J. R. Guzzo, grande jornalista que durante 15 anos foi Diretor de Redação de VEJA.




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