Ricardo Guzzo.
A presidente Dilma Rousseff
começou seu segundo governo com mais uma exibição desta sua estranha habilidade
em escolher, entre todas as opções possíveis, sempre aquela que é a pior. Nem
foi preciso esperar pelo discurso de posse, mais um fenômeno na arte de
anunciar o bem e fazer o mal que tanto atrai a presidente. Bastava, logo de
cara, ver os seus ministros. Pelo manual mais elementar do bom-senso, deveriam
ser os
Mas Dilma é Dilma. Nomeou os piores que
encontrou à disposição no momento, mais uma prodigiosa manada de nulidades, com
apenas duas exceções, Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu
para o Ministério da Agricultura – e mesmo aí conseguiu se meter em confusão,
pois ambos já estão jurados de morte pelo PT e terão de gastar boa parte do seu
horário de trabalho simplesmente tentando sobreviver. É típico da presidente:
em 39 possibilidades, o número dos cargos que tinha a preencher, acertou duas.
Obstinação? Como Dilma jamais explicará ao público nenhuma das escolhas que
fez, fica realmente parecendo que estamos diante de um caso de ideia fixa. Em
resumo: o ministério do seu segundo mandato é um hino à perseverança no erro. O
primeiro governo de Dilma foi um espetáculo praticamente sem intervalos de
corrupção, incompetência coletiva e culto à farsa. O Brasil teve um crescimento
miserável nos últimos quatro anos, fracasso para o qual não há desculpa. O
melhor investimento possível, na média de 2011 para cá, foi o dólar, marca de
todas as economias derrotadas; é o que há, em matéria de subdesenvolvimento. A
presidente se irrita quando os fatos indicam que o Brasil é um país vira-lata –
mas como governante ela insiste em fazer tudo o que pode para garantir que
continuemos exatamente assim. Sua última contribuição é esse ministério. É como
se Dilma, a exemplo do tenor vaiado que ameaça a plateia (“Esperem só o
barítono”), estivesse dizendo: “Vocês acham que o meu primeiro governo foi
ruim? Esperem só o segundo”. Vai-se ver a lista de novos ministros e quem está
lá? Ninguém menos que Jader Barbalho, por exemplo. O nomeado é seu filho, mas
nem Dilma acredita nisso; o ministro é Jader mesmo, ex-presidiário por denúncia
de corrupção e gigante na história da treva política nacional. É a opção
deliberada pelo deboche. Fica pior no Ministério da Educação, responsável por
lidar com o problema estratégico número 1 do Brasil. Entre os 200 milhões de
brasileiros hoje vivos, é impossível, pela lei das probabilidades, que não haja
profissionais com competência para tirar a educação brasileira da miséria em
que está enterrada.
Mas Dilma nomeia o ex-governador Cid Gomes, do Ceará, um espetacular
zé-ninguém na área. O que fez esse Gomes, em toda a sua vida, que o
tornasse capaz de ser promovido ao posto de maior autoridade na educação
brasileira? O que ele sabe, além de pedir verba, gastar dinheiro e nomear
amigos? O ponto de maior destaque em sua
biografia é ter fretado um jatinho, quando governador, para um passeio com a
sogra pela Europa. É o grande nome de Dilma para comandar a “Pátria Educadora”.
*J. R. Guzzo, grande jornalista que durante 15 anos foi
Diretor de Redação de VEJA.
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