sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

"BANDO DA PETROBRAS"

 POLICIAL INVESTIGADO DIZ QUE ENTREGOU DINHEIRO A POLÍTICOS E EMPRESAS.

Jayme Alves de Oliveira Filho depôs em novembro à Polícia Federal no PR.
Ele disse que era transportador de dinheiro de Youssef, preso na Lava Jato.

O policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho afirmou no último dia 18 de novembro, em depoimento na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, que, entre 2010 e 2014, entregou dinheiro a políticos e representantes de empresas a pedido do doleiro Alberto Youssef, preso pela PF sob a acusação de chefiar esquema de desvio de dinheiro na Petrobras – ambos são réus em ações penais que tramitam na Justiça Federal do Paraná.

A TV Globo teve acesso ao depoimento, o mesmo em que o policial federal apontou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG) como destinatários de quantias entregues por ele. Os dois parlamentares negam ter recebido. No total, Oliveira Filho menciona no depoimento 13 pessoas ou empresas para as quais teria entregado dinheiro por orientação de Oliveira Filho afirmou no depoimento, que, por serviço, recebia de Youssef de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. Ele disse não ter conhecimento de esquema de corrupção e, segundo declarou, julgava que o dinheiro que transportava era decorrente de "relação comercial entre empresários".

"Ele Youssef me dava uma bolsa. Eu não sabia o conteúdo da bolsa. Às vezes, eu sabia que era vinho, mas às vezes sabia que era dinheiro, mas não sabia a quantidade que estava transportando", afirmou no depoimento ao ser indagado se transportava dinheiro para Youssef.

A advogada do policial, Tatiana Maia, disse que rechaça qualquer tipo de vazamento de informações. Nesta quarta (7), Oliveira Filho pediu à Justiça Federal do Paraná uma investigação sobre o vazamento do depoimento prestado por ele à PF. Segundo Tatiana Maia, o objetivo do pedido é "apurar o vazamento de informações sigilosas, com vistas a responsabilizar o responsável, uma vez que tal atitude implica em prejuízo à defesa e à investigação".

Veja abaixo as pessoas e empresas para as quais Oliveira Filho afirmou que entregou dinheiro e o que disseram essas pessoas e empresas, procuradas pela TV Globo e pelo G1.

Antonio Anastasia.

No depoimento, Jayme Oliveira Filho afirma: "Fui numa casa em Belo Horizonte, em 2010, perto de um shopping, numa rodovia. 

Fui fazer uma entrega a pedido do Youssef, e, segundo ele, o dinheiro era para o Anastasia. Entreguei o dinheiro a uma pessoa que não se identificou". Oliveira Filho disse a quantia somava "aproximadamente R$ 1 milhão". Confrontado com uma foto do ex-governador de Minas e senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG), disse que era "uma pessoa muito parecida com a que recebeu a mala enviada por Youssef". Em nota oficial divulgada nesta quinta, Anastasia se disse "tomado de forte indignação", negou conhecer ou ter falado com Oliveira Filho. Ele nega também que conheça, tenha estado ou falado com Youssef. “A ele Anastasia interessa saber se o indivíduo que prestou o depoimento fantasioso e surreal está confundindo sua pessoa ou se está mentindo deliberadamente para confundir as investigações. As falsas declarações, de tão levianas e absurdas, não resistirão à mínima verificação. Trata-se de uma covardia incomparável, mas, ao final prevalecerá a verdade e a história de homem público digno e honrado conhecida por todos", disse o advogado de Anastasia, Maurício Campos.

Camargo Correa.

No depoimento, Oliveira Filho afirmou que que retirou dinheiro de uma empresa em Belo Horizonte e deu esse dinheiro a Youssef para ser entregue à Camargo Corrêa. Por meio da assessoria de imprensa, a Camargo Corrêa informou que "manifesta indignação por ter sido citada sem nenhum fundamento a partir de vazamento seletivo que impossibilita qualquer esclarecimento ou contestação."

Eduardo Cunha.

Oliveira Filho disse no depoimento que há cerca de dois anos entregou dinheiro em uma casa em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que, segundo Youssef teria dito a ele, pertence ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Nessa casa, fui atendido e entreguei ao proprietário, mas não posso afirmar com certeza que seja Eduardo Cunha", afirmou o policial. Por meio de sua conta pessoal no microblog Twitter, Eduardo Cunha negou ter recebido dinheiro e atribuiu a denúncia, publicada inicialmente pelo jornal "Folha de S.Paulo", a uma suposta tentativa de se prejudicar sua candidatura à presidência da Câmara.O deputado afirmou que ele não conhece o policial nem o doleiro. Disse ainda que a casa citada pelo policial não é a dele porque não reside no condomínio mencionado. Na última segunda-feira (5), os advogados de Oliveira Filho entregaram um documento à PF com o objetivo de retificar informações prestadas por Oliveira Filho no depoimento. De acordo com os defensores, o policial entregou o dinheiro em outro condomínio, não naquele em que tinha informado inicialmente.

Fernando Baiano.

Oliveira Filho disse que entregou dinheiro "duas ou três vezes" para Fernando Baiano, lobista apontado como suposto operador do PMDB no esquema investigado pela Operação Lava Jato; o partido nega ter vínculo com Baiano. Por telefone, o advogado Ricardo Calil, um dos defensores de Fernando Baiano, informou que não iria se pronunciar sobre o assunto porque não teve acesso ao depoimento de Oliveira Filho.
Henry Hoyer de Carvalho.

Ex-assessor do ex-senador Ney Suassuna, Henry Hoyer de Carvalho é apontado como uma das pessoas que recebeu dinheiro de Youssef por intermédio de Oliveira Filho. O policial disse que entregou dinheiro "duas ou três vezes" na casa de Carvalho, no Rio de Janeiro. Procurado, Henry de Carvalho, não foi localizado.

João Cláudio Genu.

Réu no processo do mensalão, João Cláudio Genu é citado no depoimento de Jayme de Oliveira Filho. Segundo o policial, Genu não recebia pessoalmente - mandava um motorista. "Youssef e Genu marcavam o local do encontro para entregar o dinheiro na rua mesmo. O carro que o motorista usava era um Azera, da Hyundai, cor preta". Até a última atualização desta reportagem, não se conseguiu contato com João Cláudio Genu nem com o advogado dele. Genu foi assessor parlamentar do PP. A assessoria do partido informou não ter mais contato com ele.

Julio Camargo.

Jayme de Oliveira Filho disse que fez "duas ou três entregas" para Julio Camargo, supostamente o executivo da empresa Toyo Setal denunciado pelo Ministério Público e que fez acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato. "Essa é uma criação do Jayme. O Julio nunca ouviu, nunca esteve com ele, não conhece essa pessoa. Nós acreditamos que ou é uma criação dentro de um contexto de um depoimento ou uma confusão", afirmou a advogada de Camargo, Beatriz Catta Preta.

Luiz Argolo.

No depoimento, Oliveira Filho diz que "uma vez" Youssef pediu a ele que levasse "uma pequena quantia" para o deputado federal Luiz Argolo (SD-BA), que não se reelegeu. O dinheiro, segundo o depoimento, estava em um envelope e teria sido entregue "pessoalmente" ao deputado em um hotel no Rio de Janeiro. Procurado pelo G1, o deputado não atendeu às ligações. O repórter deixou recado no gabinete e em um celular do deputado, mas não obteve resposta.

OAS.

O policial afirmou à PF que levou dinheiro de Youssef "uma vez" no escritório da construtora OAS na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. Ele disse também que levou dinheiro destinado à empresa a um hotel, no Rio, onde entregou a um funcionário. A assessoria da OAS foi procurada, mas informou que a empresa não irá se pronunciar.

Paulo Roberto Costa.

Jayme Oliveira Filho disse que, "por mais de seis vezes", entregou ao genro de Paulo Roberto Costa dinheiro destinado ao ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava Jato. Segundo o policial, o dinheiro era entregue em uma loja de móveis, em Ipanema, no Rio de Janeiro. O advogado de Paulo Roberto Costa não foi encontrado, segundo informou a assessoria do escritório de advocacia que o defende.

Pedro Paulo Leoni Ramos.

Oliveira Filho diz que entregou dinheiro em um escritório de advocacia no Rio de Janeiro, "para um advogado que não me recordo o nome, a mando do Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos", secretário de Assuntos Estratégicos no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992). A assessoria de Leoni Ramos informou que ele desconhece o teor do depoimento "e solicitará aos seus advogados que o acessem para eventuais manifestações".

Tiago Cedraz.

Oliveira Filho disse que levou "dinheiro do Youssef" duas vezes no escritório de Tiago Cedraz, em Brasília. Por meio de sua assessoria, o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, afirmou que não conhece e nunca esteve nem com o policial Jayme de Oliveira Filho nem com Alberto Youssef e tampouco recebeu dinheiro deles. Ele disse que, se necessário, coloca à disposição das autoridades o acervo de imagens do escritório onde trabalha - onde supostamente teria ocorrido a entrega, de acordo com o depoimento do policial - além de seu sigilo bancário.

UTC.

Na "maioria das vezes" em que transportou dinheiro para Youssef, o destinatário era a empreiteira UTC, afirmou Jayme de Oliveira Filho. Ele disse que entregava nos escritórios do Rio de Janeiro e de Minas Gerais da empresa. A assessoria de imprensa da UTC informou que não pode comentar trechos de um depoimento ao qual não teve acesso.

(*) Colaboraram Renan Ramalho, do G1, em Brasília; Fernanda Vivas, da TV Globo, em Brasília; Lúcia Mollo e Daniela Abreu, da GloboNews.
Fonte: Agência O Globo.

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