Jayme Alves de Oliveira Filho depôs em novembro à Polícia Federal no PR.
Ele disse que era transportador de dinheiro de Youssef, preso na Lava Jato.
Ele disse que era transportador de dinheiro de Youssef, preso na Lava Jato.
O policial federal Jayme Alves de
Oliveira Filho afirmou no último dia 18 de novembro, em depoimento na
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, que, entre 2010 e 2014,
entregou dinheiro a políticos e representantes de empresas a pedido do doleiro
Alberto Youssef, preso pela PF sob a acusação de chefiar esquema de desvio de
dinheiro na Petrobras – ambos são réus em ações penais que tramitam na Justiça
Federal do Paraná.
A TV Globo teve acesso ao
depoimento, o mesmo em que o policial federal apontou o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG) como destinatários de
quantias entregues por ele. Os dois parlamentares negam ter recebido. No total,
Oliveira Filho menciona no depoimento 13 pessoas ou empresas para as quais
teria entregado dinheiro por orientação de Oliveira Filho afirmou no
depoimento, que, por serviço, recebia de Youssef de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. Ele
disse não ter conhecimento de esquema de corrupção e, segundo declarou, julgava
que o dinheiro que transportava era decorrente de "relação comercial entre
empresários".
"Ele Youssef me dava uma
bolsa. Eu não sabia o conteúdo da bolsa. Às vezes, eu sabia que era vinho, mas
às vezes sabia que era dinheiro, mas não sabia a quantidade que estava
transportando", afirmou no depoimento ao ser indagado se transportava
dinheiro para Youssef.
A advogada do policial, Tatiana
Maia, disse que rechaça qualquer tipo de vazamento de informações. Nesta quarta
(7), Oliveira Filho pediu à Justiça Federal do Paraná uma investigação
sobre o vazamento do depoimento prestado por ele à
PF. Segundo Tatiana Maia, o objetivo do pedido é "apurar o vazamento de
informações sigilosas, com vistas a responsabilizar o responsável, uma vez que
tal atitude implica em prejuízo à defesa e à investigação".
Veja abaixo as pessoas e empresas para as quais Oliveira Filho afirmou
que entregou dinheiro e o que disseram essas pessoas e empresas, procuradas
pela TV Globo e pelo G1.
Antonio Anastasia.
No depoimento, Jayme Oliveira
Filho afirma: "Fui numa casa em Belo Horizonte, em 2010, perto de um
shopping, numa rodovia.
Fui fazer uma entrega a pedido do Youssef, e, segundo
ele, o dinheiro era para o Anastasia. Entreguei o dinheiro a uma pessoa que não
se identificou". Oliveira Filho disse a quantia somava
"aproximadamente R$ 1 milhão". Confrontado com uma foto do
ex-governador de Minas e senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG), disse que
era "uma pessoa muito parecida com a que recebeu a mala enviada por
Youssef". Em nota oficial divulgada nesta quinta, Anastasia se disse
"tomado de forte indignação", negou
conhecer ou ter falado com Oliveira Filho. Ele
nega também que conheça, tenha estado ou falado com Youssef. “A ele Anastasia
interessa saber se o indivíduo que prestou o depoimento fantasioso e surreal
está confundindo sua pessoa ou se está mentindo deliberadamente para confundir
as investigações. As falsas declarações, de tão levianas e absurdas, não
resistirão à mínima verificação. Trata-se de uma covardia incomparável, mas, ao
final prevalecerá a verdade e a história de homem público digno e honrado
conhecida por todos", disse o advogado de Anastasia, Maurício Campos.
Camargo Correa.
No depoimento, Oliveira Filho
afirmou que que retirou dinheiro de uma empresa em Belo Horizonte e deu esse
dinheiro a Youssef para ser entregue à Camargo Corrêa. Por meio da assessoria
de imprensa, a Camargo Corrêa informou que "manifesta indignação por ter
sido citada sem nenhum fundamento a partir de vazamento seletivo que
impossibilita qualquer esclarecimento ou contestação."
Eduardo Cunha.
Oliveira Filho disse no
depoimento que há cerca de dois anos entregou dinheiro em uma casa em um
condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que, segundo Youssef teria
dito a ele, pertence ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Nessa casa, fui
atendido e entreguei ao proprietário, mas não posso afirmar com certeza que
seja Eduardo Cunha", afirmou o policial. Por meio de sua conta pessoal no
microblog Twitter, Eduardo
Cunha negou ter recebido dinheiro e atribuiu
a denúncia, publicada inicialmente pelo jornal "Folha de S.Paulo", a
uma suposta tentativa de se prejudicar sua candidatura à presidência da
Câmara.O deputado afirmou que ele não conhece o policial nem o doleiro. Disse
ainda que a casa citada pelo policial não é a dele porque não reside no
condomínio mencionado. Na última segunda-feira (5), os advogados de Oliveira
Filho entregaram um documento à PF com o objetivo de retificar informações
prestadas por Oliveira Filho no depoimento. De acordo com os defensores, o
policial entregou o dinheiro em outro condomínio, não naquele em que tinha
informado inicialmente.
Fernando Baiano.
Oliveira Filho disse que entregou
dinheiro "duas ou três vezes" para Fernando Baiano, lobista apontado
como suposto operador do PMDB no esquema investigado pela Operação Lava Jato; o
partido nega ter vínculo com Baiano. Por telefone, o advogado Ricardo Calil, um
dos defensores de Fernando Baiano, informou que não iria se pronunciar sobre o
assunto porque não teve acesso ao depoimento de Oliveira Filho.
Henry Hoyer de Carvalho.
Ex-assessor do ex-senador Ney
Suassuna, Henry Hoyer de Carvalho é apontado como uma das pessoas que recebeu
dinheiro de Youssef por intermédio de Oliveira Filho. O policial disse que
entregou dinheiro "duas ou três vezes" na casa de Carvalho, no Rio de
Janeiro. Procurado, Henry de Carvalho, não foi localizado.
João Cláudio Genu.
Réu no
processo do mensalão, João Cláudio Genu é citado no
depoimento de Jayme de Oliveira Filho. Segundo o policial, Genu não recebia
pessoalmente - mandava um motorista. "Youssef e Genu marcavam o local do
encontro para entregar o dinheiro na rua mesmo. O carro que o motorista usava
era um Azera, da Hyundai, cor preta". Até a última atualização desta
reportagem, não se conseguiu contato com João Cláudio Genu nem com o advogado
dele. Genu foi assessor parlamentar do PP. A assessoria do partido informou não
ter mais contato com ele.
Julio Camargo.
Jayme de Oliveira Filho disse que
fez "duas ou três entregas" para Julio Camargo, supostamente o executivo
da empresa Toyo Setal denunciado pelo Ministério Público e que fez acordo de
delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato. "Essa é uma criação do
Jayme. O Julio nunca ouviu, nunca esteve com ele, não conhece essa pessoa. Nós
acreditamos que ou é uma criação dentro de um contexto de um depoimento ou uma
confusão", afirmou a advogada de Camargo, Beatriz Catta Preta.
Luiz Argolo.
No depoimento, Oliveira Filho diz
que "uma vez" Youssef pediu a ele que levasse "uma pequena
quantia" para o deputado federal Luiz Argolo (SD-BA), que não se reelegeu.
O dinheiro, segundo o depoimento, estava em um envelope e teria sido entregue
"pessoalmente" ao deputado em um hotel no Rio de Janeiro. Procurado
pelo G1, o deputado não atendeu
às ligações. O repórter deixou recado no gabinete e em um celular do deputado,
mas não obteve resposta.
OAS.
O policial afirmou à PF que levou
dinheiro de Youssef "uma vez" no escritório da construtora OAS na
praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. Ele disse também que levou dinheiro
destinado à empresa a um hotel, no Rio, onde entregou a um funcionário. A
assessoria da OAS foi procurada, mas informou que a empresa não irá se
pronunciar.
Paulo Roberto Costa.
Jayme Oliveira Filho disse que,
"por mais de seis vezes", entregou ao genro de Paulo Roberto Costa
dinheiro destinado ao ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava Jato.
Segundo o policial, o dinheiro era entregue em uma loja de móveis, em Ipanema,
no Rio de Janeiro. O advogado de Paulo Roberto Costa não foi encontrado,
segundo informou a assessoria do escritório de advocacia que o defende.
Pedro Paulo Leoni Ramos.
Oliveira Filho diz que entregou
dinheiro em um escritório de advocacia no Rio de Janeiro, "para um
advogado que não me recordo o nome, a mando do Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni
Ramos", secretário de Assuntos Estratégicos no governo do ex-presidente
Fernando Collor de Mello (1990-1992). A assessoria de Leoni Ramos informou que
ele desconhece o teor do depoimento "e solicitará aos seus advogados que o
acessem para eventuais manifestações".
Tiago Cedraz.
Oliveira Filho disse que levou
"dinheiro do Youssef" duas vezes no escritório de Tiago Cedraz, em
Brasília. Por meio de sua assessoria, o advogado Tiago Cedraz, filho do
presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, afirmou que não
conhece e nunca esteve nem com o policial Jayme de Oliveira Filho nem com
Alberto Youssef e tampouco recebeu dinheiro deles. Ele disse que, se
necessário, coloca à disposição das autoridades o acervo de imagens do
escritório onde trabalha - onde supostamente teria ocorrido a entrega, de
acordo com o depoimento do policial - além de seu sigilo bancário.
UTC.
Na "maioria das vezes"
em que transportou dinheiro para Youssef, o destinatário era a empreiteira UTC,
afirmou Jayme de Oliveira Filho. Ele disse que entregava nos escritórios do Rio
de Janeiro e de Minas Gerais da empresa. A assessoria de imprensa da UTC
informou que não pode comentar trechos de um depoimento ao qual não teve
acesso.
(*) Colaboraram Renan Ramalho, do G1, em Brasília; Fernanda Vivas, da TV Globo, em
Brasília; Lúcia Mollo e Daniela Abreu, da GloboNews.
Fonte: Agência O Globo.
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