COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
QUE SEJA PELAS BOAS INTENÇÕES.
Nobres:
Ao reiterar o pacto de combate à
corrupção, para se acautelar contra os efeitos de escândalos do porte do que
abala a Petrobras, e definir a educação como prioridade de seu segundo mandato,
a presidente Dilma Rousseff acabou aproximando ainda mais duas questões que
estão interligadas. Países com menos corrupção conseguem investir mais em
programas essenciais, como educação. Ao mesmo tempo, nações com melhor nível de
ensino têm menos corrupção e melhores serviços públicos. A razão é clara:
cidadãos mais educados têm mais acesso à informação, praticam e cobra mais ética
e mais retorno dos impostos que pagam. Os dados do Pisa avaliação feita a cada
três anos pela OCDE em 65 países confirmam uma relação evidente entre essas
duas questões, o que reforça a necessidade de o compromisso ir muito além das
pretensões de início de novo mandato. Essa é a ressalva que se faz à
manifestação de boas intenções da presidente. Se ficar na retórica, como boa
parte de seus planos para o primeiro mandato incluindo os que não evitaram a
estagnação econômica, o governo terá, ao final de mais quatro anos, frustrado
expectativas que não podem ser criadas impunemente. O compromisso com o lema
lançado durante seu pronunciamento de posse, Brasil, pátria educadora, terá de
se traduzir em ações que até agora não fizeram parte das prioridades do Planalto.
Tanto que o Brasil continua nas posições retardatárias do ranking Pisa, com
performances vergonhosas. Na lista de 2014, por exemplo, baseada em dados de
2012, nossos estudantes do ensino médio ficaram em 38º lugar, entre alunos de
44 países, em exames de matemática. O desempenho também foi pífio em leitura.
Ficamos atrás de chilenos, uruguaios, romenos, tailandeses. A situação ideal,
em que avanços sociais andem ao lado de conquistas na educação, já foi
desperdiçada pelo Brasil. Precisamos agora compensar o erro de ter dado atenção
apenas ao acesso à universidade, enquanto o ensino básico era negligenciado.
Nesse sentido, os governos da senhora Dilma Rousseff e de seus antecessores
foram descuidados com as oportunidades surgidas, enquanto ocorria a melhoria
generalizada na qualidade de vida da população. Investir em educação é dar
solidez a conquistas que não podem se restringir a ganhos representados por
emprego e renda. Países asiáticos têm provado, com a cultura da
responsabilidade, que cidadãos melhor educados propiciam progressos
particulares, que são compartilhados por todos. Uma pátria educadora será
também uma nação mais ética. Esperamos que seja uma política consolidada, mas
não chegue a informalidade das “boas intenções”.
Antônio Scarcela Jorge.
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