Executivo da Toyo Setal incluiu a Andrade Gutierrez entre os comandantes
de cartel.
SÃO PAULO - Era no gabinete
oficial da Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobras, no Centro do Rio, e
entre azeites trufados italianos e vinhos exclusivos de restaurantes badalados
da Zona Sul carioca, que o ex-diretor da estatal Renato Duque e o ex-gerente executivo
Pedro Barusco recebiam empresários e executivos de empreiteiras para acertar
valores de propinas. Desde 2007, ao menos R$ 35 milhões saíram de contas no
exterior para os dois.
Em depoimento prestado à Polícia
Federal no dia 31 de outubro, Julio Camargo, executivo da Toyo Setal, afirmou
que os ex-diretores da Petrobras marcavam encontros na sede da Petrobras
durante o expediente e, lá, eles acertaram o “fluxo de pagamentos” de propinas
de pelo menos três obras. Mas a maioria dos encontros acontecia em restaurantes
da cidade, como o Gero, em Ipanema; o Margutta, em Ipanema, o Alcaparra, no
Flamengo; e o Esch Café, no Leblon, bistrô especializado em charutos cubanos.
Nas primeiras conversas, tratavam
o valor total da propina e um cronograma prévio de pagamentos. De acordo com
Camargo, os valores das propinas se dividiam da seguinte forma: 1% do valor do
contrato para a Diretoria de Engenharia e Serviços e 1% para a de
Abastecimento, comandada por Paulo Roberto Costa.
Em caso de acerto, uma planilha
detalhada era criada para o controle de Duque. Nela, constava o nome do
projeto, o valor da propina acertada, o cronograma previsto, os pagamentos
efetuados e o saldo a pagar.
PLANILHAS FORAM DESTRUÍDAS
Camargo disse que tinha cópia das
planilhas, mas que elas foram destruídas assim que foi deflagrada a Operação
Lava-Jato, em março. Entre 2005 e 2012, Camargo movimentou US$ 73 milhões em
contas na Suíça, no Uruguai e nos Estados Unidos, de onde saíram os R$ 35
milhões de Duque. Boa parte do dinheiro deixou uma conta chamada Pelego, na
Suíça. Na Era Vargas, “pelego" era o homem de confiança do governo nos
sindicatos.
Detalhes do funcionamento do
cartel foram dados também pelo executivo Augusto Mendonça Neto. A novidade é a
inclusão da Andrade Gutierrez no comando do cartel. Na Operação Lava-Jato, a
empresa ainda não foi ouvida. Segundo ele, as regras do cartel foram negociadas
com Duque em 2004 e chegaram a ser escritas em papel, como num campeonato de
futebol. Tinham rodadas definidas, e quem ganhava ia para o final da fila.
O auge, afirmou Mendonça, foram às
obras da refinaria de Abreu e Lima e do Comperj, complexo petroquímico em
Itaboraí (RJ). O executivo disse que Ricardo Pessoa, da UTC, organizava as
reuniões, por SMS ou celular. Os encontros ocorriam nos escritórios da UTC,
onde os convidados recebiam crachás.
Pessoa levava as decisões do
cartel a Duque e Costa, com uma lista de quem deveria ser convidado e quem
ganharia a “partida”. Se o preço máximo da Petrobras era 100, o do cartel
oscilava entre 95 e 120. Segundo Pessoa, as grandes empreiteiras passaram a
dominar e criaram um clube VIP formado por Camargo Corrêa, UTC, Mendes Junior,
OAS (que aderiu em 2006), Odebrecht e Andrade Gutierrez. Esta última informou
que não teve acesso às declarações do executivo nem ao contexto em que foram
dadas, mas negou envolvimento com o cartel.
Fonte: Agência O Globo.
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