sábado, 20 de dezembro de 2014

LADROAGEM DO "LULOPESTISMO" INSTITUCIONALIZADA

 EX-DIRETOR DA PETROBRAS CITOU NOMES DE 28 POLÍTICOS EM DELAÇÃO, DIZ JORNAL.

Paulo Roberto Costa revelou ao MPF lista de beneficiários de esquema.
Políticos citados por ex-diretor da Petrobras negam ter recebido propina.

Preso em março pela Operação Lava Jato, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou no acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) o nome de 28 políticos supostamente beneficiados pelo esquema de corrupção que atuava na Petrobras, segundo reportagem publicada na edição desta sexta-feira (19) do jornal "O Estado de S. Paulo".

A publicação afirma que entre os mencionados por Costa estão o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Mário Negromonte (Cidades); o governador do Acre, Tião Viana (PT); os ex-governadores Sérgio Cabral (Rio) e Eduardo Campos (Pernambuco), além de deputados e senadores de PT, PMDB, PSDB e PP (confira mais abaixo o que disseram os políticos citados).

De acordo com o jornal, nos depoimentos que prestou aos procuradores da República entre agosto e setembro para tentar reduzir sua eventual pena, Paulo Roberto Costa disse que Palocci pediu, em 2010, um repasse de R$ 2 milhões para a campanha da então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. À época, o ex-ministro era um dos três coordenadores da campanha petista ao Palácio do Planalto.

Palocci comandou o Ministério da Fazenda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, posteriormente, a Casa Civil na gestão Dilma. Ele encerrou sua última passagem pela Esplanada dos Ministérios em 2011, após a revelação de que teve o patrimônio multiplicado por 20 entre 2006 e 2010, período em que foi ministro da Fazenda e deputado federal pelo PT.

O que dizem os políticos.

ANTONIO PALOCCI (PT) – Por meio de sua assessoria de imprensa, Palocci negou "veementemente" as declarações do ex-dirigente da Petrobras. O advogado do ex-ministro, Guilherme Batochio, ressaltou ao jornal que “o próprio Paulo Roberto disse que não sabe se foi repassado dinheiro para Palocci e reconheceu que o ex-chefe da Casa Civil não lhe pediu nada”. Segundo o defensor, Palocci não conhece e nunca falou com Paulo Roberto Costa.

GLEISI HOFFMANN (PT) – Em nota oficial, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que as doações da sua campanha em 2010 constam da prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral e aprovada "sem qualquer ressalva". A ex-ministra da Casa Civil disse no texto que "não conhece e jamais manteve qualquer contato" com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Gleisi também afirma que desconhece os fatos referentes ao conteúdo da delação premiada e que "não sabe o contexto que seu nome foi citado, ou sequer se a citação existe de fato". "A senadora informa ainda que nada tem a temer sobre a investigação em curso e que seus sigilos fiscais, bancário e telefônico estão à disposição da Justiça", conclui.

HUMBERTO COSTA (PT) – Em comunicado divulgado nesta sexta, o senador Humberto Costa ressaltou que “não há qualquer fato novo” e que ele reitera estar “à disposição dos órgãos de investigação”, tendo disponibilizado seus sigilos bancário, fiscal e telefônico à CPI mista da Petrobras, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao ministro do STF Teori Zavascki por meio de ofícios encaminhados no dia 24 de novembro de 2014.

LINDBERGH FARIAS (PT) – O senador Lindbergh Farias disse que não existe "nenhuma acusação" de Paulo Roberto Costa contra ele. O senador também afirmou que não cometeu nenhuma ilegalidade e que acionará a Procuradoria da República "a fim de acelerar as investigações do caso".

TIÃO VIANA (PT) – O governador do Acre, Tião Viana, disse, por meio de nota oficial, "estranhar" a informação obtida pelo jornal, pois "não conhece e nunca teve qualquer tipo de relação com o Sr. Paulo Roberto Costa". "Qualquer ilação que venha atingir a responsabilidade do Governo do Acre ou a honra pessoal do governador, será tratada pelas vias judiciais garantidas pelo Estado democrático de direito", enfatizou.

DELCÍDIO AMARAL (PT) – A assessoria do senador Delcidio Amaral informou que os fatos delatados por Paulo Roberto Costa são "anteriores" ao seu mandato e que tomará as medidas judiciais cabíveis "com relação a mais esse vazamento ilegal e irresponsável" de informação.

CÂNDIDO VACAREZZA (PT) – Ao jornal "O Estado de S. Paulo", o deputado Cândido Vaccarezza negou as acusações. “Eu nunca recebi um centavo do Paulo Roberto Costa, nunca apresentei nenhuma empresa a ele e nunca levei nenhuma empresa para falar com o Paulo Roberto Costa. Não acredito que ele tenha dito isso, porque se ele disse é mentira”, disse. À equipe da TV Globo, o deputado Cândido Vaccarezza disse que não comentaria o assunto.

VANDER LOUBET (PT) – O deputado Vander Loubet, por meio de nota, se disse "surpreso" diante da menção de seu nome em notícia veiculada na imprensa. O parlamentar disse que não teve relação "institucional, política ou de outra natureza" com Paulo Roberto Costa e que está a disposição da Justiça para esclarecer os fatos "com a maior brevidade possível".

RENAN CALHEIROS (PMDB) – O senador Renan Calheiros disse por meio de um comunicado oficial que suas relações “com todos os diretores da estatal nunca ultrapassaram os limites institucionais”. “Não há chance alguma de o senador ter tratado de temas não republicanos com qualquer pessoa ou executivos desta ou de outra estatal”, informa o texto.

EDISON LOBÃO (PMDB) – O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou em nota que desconhece a inclusão de seu nome em depoimento de investigados pela Justiça e que jamais praticou irregularidade ou dela se beneficiou no exercício da vida pública. "Repele, portanto, com veemência, toda e qualquer tentativa de vincular o seu nome a supostos ilícitos ou falha de conduta", disse.

HENRIQUE EDUARDO ALVES (PMDB) – O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, afirmou que diversas “supostas listas” têm sido divulgadas, negando envolvimento. “Reitero que delação premiada é um instrumento que beneficia ao réu, não deve ser tomada como prova de verdade. Para isso, há a investigação séria dos órgãos competentes”, informou por meio de sua assessoria.

SÉRGIO CABRAL (PMDB) – O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral disse, por meio de nota oficial, que repudia qualquer menção a seu nome "em suposta lista ou fato relatado por Paulo Roberto Costa". Ele afirmou que sua relação com o ex-diretor sempre foi institucional e que jamais indicou ou interferiu em indicações de nomes para o governo federal ou decisões gerenciais da Petrobras.

ROSEANA SARNEY (PMDB) – O advogado da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, afirmou que sua cliente “não é alvo da Lava Jato” e que se trata de um “encontro fortuito”. Segundo ele, a ex-governadora teve seu nome ligado a Alberto Youssef após denúncia de suborno feita por Meire Poza, que era contadora do doleiro. "Eu, inclusive, já conversei com o Alberto, e ele disse que não conhece a Roseana, e que nunca fez negócios com ela", afirmou. O pai de Roseana, o senador José Sarney (PMDB-AP), disse não acreditar no envolvimento da filha.

VALDIR RAUPP (PMDB) – O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) informou por meio de nota que "estranha" a menção do nome dele por Paulo Roberto Costa, "posto que jamais recebeu qualquer espécie de vantagem, bem como  nunca tratou com envolvidos na referida operação". Segundo ele, todas doações a campanhas eleitorais "estão devidamente registradas e submetidas à Justiça Eleitoral". "É inadmissível e inaceitável  qualquer manobra para vincular o seu nome aos investigados na Operação Lava Jato", diz o texto.

ROMERO JUCÁ (PMDB) – Por meio de sua assessoria, o senador Romero Jucá negou qualquer envolvimento no esquema.

ALEXANDRE SANTOS (PMDB) – O deputado Alexandre José dos Santos disse a "O Estado de S. Paulo" que foi Paulo Roberto Costa quem pediu ajuda a ele para se aproximar do ex-prefeito de Itaboraí, Sérgio Soares. Segundo o deputado, Costa queria conversar com o ex-prefeito sobre o Comperj, complexo cujas obras também é alvo de investigações de superfaturamento. "Por que eu receberia alguma coisa dele Paulo Roberto Costa?", questionou o parlamentar.

EDUARDO CAMPOS (PSB) – Com relação a Eduardo Campos, que morreu em agosto, o PSB “reitera o seu posicionamento de extrema confiança em seu ex-presidente nacional”. “O ônus da prova é de quem acusa, portanto, o senhor Paulo Roberto Costa deve provar a sua denúncia, até porque ele cita um líder com reputação ilibada e que não está mais aqui para se defender”, diz o partido em comunicado.

SÉRGIO GUERRA (PSDB) – Em nota, o PSDB, partido que foi presidido por Sérgio Guerra, morto em março, afirmou que "já reiterou por diversas vezes" que defende que todas as denúncias sejam investigadas com o mesmo rigor, independentemente da filiação partidária dos envolvidos e dos cargos que ocupem. "A apresentação do relatório paralelo da CPMI, de autoria do PSDB, reforçou essa tese ao pedir o indiciamento de 59 pessoas e a abertura de inquérito policial contra outras 36, várias destas políticos, tratando os nomes citados da mesma forma, sem distinção de filiação partidária", afirmou o PSDB na nota.

CIRO NOGUEIRA (PP) – O presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), enviou ao jornal "O Estado de S. Paulo" a mesma carta encaminhada ao juiz federal Sérgio Moto, na qual diz que renuncia se houver qualquer “comprovação de vínculo financeiro, ilegal ou impróprio”.

MÁRIO NEGROMONTE (PP) – O ex-ministro Mário Negromonte (PP-BA) disse em nota que repudia "veementemente" a afirmação que inclui seu nome na relação divulgada pelo jornal. "As poucas vezes que estive com o Sr. Paulo Roberto Costa foi para tratar de assuntos institucionais e na presença de outras pessoas. Nunca tratei de assuntos relacionados a recursos e nunca recebi", afirmou.

JOÃO PIZZOLATTI (PP) – Ao jornal "O Estado de S. Paulo", a assessoria do deputado João Pizzolatti (PP-SC) informou que o parlamentar desconhece o inquérito.

NELSON MEURER (PP) – O deputado federal Nelson Meurer (PP-PR) afirmou que todas as doações recebidas para as eleições de 2010 "são oficiais e estão registradas na prestação de contas no TSE". Ele declarou que todas as doações de campanha, tanto em 2010, quanto em 2014, foram solicitadas diretamente ao PP e que nunca teve "contato com Paulo Roberto Costa ou mesmo Youssef". O deputado afirmou ainda que recebeu uma doação no valor de R$ 500 mil da empreiteira Queiroz Galvão, feita a pedido do PP. Meurer disse estar "tranquilo" de que a Justiça "não vai encontrar provas de algum ilícito".

SIMÃO SESSIM (PP) – O deputado Simão Sessim (PP-RJ) disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que não vai se manifestar sobre a lista.

BENEDITO DE LIRA (PP) – A assessoria do senador Benedito de Lira (PP-AL) informou que não tem informações sobre o conteúdo das denúncias e que não vai se manifestar.

LUIZ FERNANDO FARIA (PP) – O deputado federal Luiz Fernando Faria (PP-MG) disse em nota que os contatos mantidos com Paulo Roberto Costa se deram "exclusivamente por dever de ofício". Segundo o deputado, na qualidade de presidente da Comissão de Minas Energia em dois períodos, 2008 e 2011, e relator de um dos projetos do pré-sal (PL 5939/2009), o contato entre os dois era "inerente" ao exercício da função, para o "tratamento das questões institucionais, republicanas e de interesse nacional".

PEDRO CORRÊA (PP) – O advogado do ex-deputado Pedro Corrêa afirmou que ele cumpre pena de 7 anos e 2 meses em regime semiaberto no Centro de Ressocialização do Agreste, na cidade de Canhotinho, no interior de Pernambuco, e que está incomunicável, não tendo acesso a telefone.

ALINE CORRÊA (PP) – Por meio de nota, a deputada federal Aline Corrêa (PP-SP) informou que não tem "nenhuma relação" com o ex-diretor Paulo Roberto Costa e que as doações à sua campanha foram feitas de forma oficial e aprovadas pelos órgãos competentes. Ela também afirmou que está à disposição da Justiça para "todo e qualquer esclarecimento".

JOÃO OTÁVIO GERMANO (PP) – O deputado José Otávio Germano (PP-RS) afirmou em nota que vê com "tristeza e indignação" a presença do seu nome na relação de políticos que teriam sido citados nos depoimentos do ex-diretor da estatal. Ele admitiu que estivesse duas vezes com Paulo Roberto na sede da Petrobras na época em que presidia a Comissão de Minas e Energia da Câmara.

Dinheiro para campanhas.

O jornal "O Estado de S. Paulo" relatou que, na delação premiada, Costa afirmou que parte dos políticos que integravam o esquema de corrupção recebiam repasses de propinas com frequência.

O ex-diretor da Petrobras, que está em prisão domiciliar no Rio de Janeiro, revelou ao MPF que as parcelas de suborno chegaram a superar R$ 1 milhão. O dinheiro, destaca a reportagem, teria sido usado em campanhas eleitorais.

Em depoimento à Justiça Federal do Paraná em outubro, Costa também relatou que parte da propina cobrada de fornecedores da estatal foi usada na campanha eleitoral de 2010. Segundo ele, o dinheiro era direcionado a PT, PMDB e PP.

Na ocasião, ele disse ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato na primeira instância, que o PT recolhia para o seu caixa 100% da propina obtida em contratos das diretorias que a sigla administrava, como, por exemplo, as de Serviços, Gás e Energia e Exploração e Produção.

Conforme o ex-dirigente, se o contrato era de uma diretoria que pertencia ao PP, o PT ficava com dois terços do valor e o restante era repassado para a legenda aliada.

Da cota do PP, detalhou Costa à Justiça Federal, 60% eram repassados para a direção do partido, 20% eram usados para emitir notas fiscais e outros 20% eram divididos entre ele e o ex-deputado federal José Janene (PP), apontado como antigo operador do partido no esquema de corrupção que tinha tentáculos na Petrobras. Um dos réus do processo do mensalão do PT, Janene morreu em 2010, antes de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A relação de nomes de políticos mencionados por Costa na delação premiada reproduz a divisão partidária da propina que ele mesmo detalhou em outubro. Nas contas da reportagem de "O Estado de S. Paulo", o ex-diretor citou ao Ministério Público oito políticos do PT, oito do PMDB, dez do PP, um do PSDB e um do PSB.

Frequência dos subornos.

O delator do esquema de corrupção observou na delação premiada que, ao mesmo tempo em que ocorriam repasses regulares, outra fatia dos políticos recebia suborno esporadicamente, informou a publicação.

De acordo com o jornal, o ex-presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra – que morreu em março deste ano – teria pedido, em 2009, R$ 10 milhões para arquivar uma CPI da Petrobras no Senado.

O texto afirma ainda que, em relação a diversos políticos, Paulo Roberto Costa apenas mencionou os nomes, sem detalhar as cifras que teriam sido distribuídas a eles ou a seus partidos.

A reportagem ressalva que os nomes citados por Costa são exclusivamente de políticos que teriam sido beneficiados com propinas pagas por fornecedores da Petrobras à diretoria de Abastecimento, que ele comandou entre 2004 e 2012, nos governos Lula e Dilma.

Políticos mencionados por outros delatores, como o doleiro Alberto Youssef – suspeito de comandar o esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina desmontado pela Operação Lava Jato –, não estavam entre os listados por Paulo Roberto Costa.

Segundo o jornal, o ex-diretor da Petrobras disse que, em 2010, o esquema de corrupção que atuava na Petrobras repassou R$ 1 milhão para a campanha da senadora Gleisi Hoffmann, que comandou a Casa Civil de Dilma entre 2011 e 2014. O ex-diretor destacou a reportagem, teria recebido pedido do doleiro Alberto Youssef para ajudar na candidatura dela.

O líder do PT no Senado, diz o texto, também teria recebido R$ 1 milhão do esquema para sua campanha em 2010. A reportagem afirma que, de acordo com Costa, o dinheiro teria sido pedido pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco.

Costa - informa o jornal, também deu detalhes sobre o suposto envolvimento de outro petista no esquema: o senador Lindbergh Farias, que concorreu ao governo do Rio de Janeiro na eleição deste ano. De acordo com o ex-dirigente da Petrobras, ele trabalhou na campanha deste ano de Lindbergh e teria como uma de suas atribuições coletar doações com empreiteiras em nome do petista.

Do G1, em Brasília.

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