Paulo
Roberto Costa revelou ao MPF lista de beneficiários de esquema.
Políticos citados por ex-diretor da Petrobras negam ter recebido propina.
Políticos citados por ex-diretor da Petrobras negam ter recebido propina.
Preso em março pela Operação Lava
Jato, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa
revelou no acordo de
delação premiada com o Ministério Público Federal
(MPF) o nome de 28 políticos supostamente beneficiados pelo esquema de
corrupção que atuava na Petrobras, segundo reportagem publicada na edição desta
sexta-feira (19) do jornal "O Estado de S. Paulo".
A publicação afirma que entre os
mencionados por Costa estão o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Mário Negromonte
(Cidades); o governador do Acre, Tião Viana (PT); os ex-governadores Sérgio Cabral (Rio) e Eduardo Campos (Pernambuco), além de deputados e senadores de
PT, PMDB, PSDB e PP (confira mais abaixo o que disseram os políticos citados).
De acordo com o jornal, nos
depoimentos que prestou aos procuradores da República entre agosto e setembro
para tentar reduzir sua eventual pena, Paulo Roberto Costa disse que Palocci pediu, em 2010, um repasse de R$ 2 milhões para a
campanha da então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. À época, o ex-ministro era um dos três coordenadores da campanha
petista ao Palácio do Planalto.
Palocci comandou o Ministério da
Fazenda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e,
posteriormente, a Casa Civil na gestão Dilma. Ele encerrou
sua última passagem pela Esplanada dos Ministérios
em 2011, após a revelação de que teve o patrimônio multiplicado por 20 entre
2006 e 2010, período em que foi ministro da Fazenda e deputado federal pelo PT.
O que dizem os políticos.
ANTONIO PALOCCI (PT) – Por meio
de sua assessoria de imprensa, Palocci negou "veementemente" as
declarações do ex-dirigente da Petrobras. O advogado do ex-ministro, Guilherme
Batochio, ressaltou ao jornal que “o próprio Paulo Roberto disse que não sabe
se foi repassado dinheiro para Palocci e reconheceu que o ex-chefe da Casa
Civil não lhe pediu nada”. Segundo o defensor, Palocci não conhece e nunca
falou com Paulo Roberto Costa.
GLEISI HOFFMANN (PT) – Em nota
oficial, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que as doações da sua
campanha em 2010 constam da prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral e
aprovada "sem qualquer ressalva". A ex-ministra da Casa Civil disse
no texto que "não conhece e jamais manteve qualquer contato" com
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Gleisi também afirma que desconhece os
fatos referentes ao conteúdo da delação premiada e que "não sabe o
contexto que seu nome foi citado, ou sequer se a citação existe de fato".
"A senadora informa ainda que nada tem a temer sobre a investigação em
curso e que seus sigilos fiscais, bancário e telefônico estão à disposição da
Justiça", conclui.
HUMBERTO COSTA (PT) – Em
comunicado divulgado nesta sexta, o senador Humberto Costa ressaltou que “não
há qualquer fato novo” e que ele reitera estar “à disposição dos órgãos de
investigação”, tendo disponibilizado seus sigilos bancário, fiscal e telefônico
à CPI mista da Petrobras, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao
ministro do STF Teori Zavascki por meio de ofícios encaminhados no dia 24 de
novembro de 2014.
LINDBERGH FARIAS (PT) – O senador
Lindbergh Farias disse que não existe "nenhuma acusação" de Paulo
Roberto Costa contra ele. O senador também afirmou que não cometeu nenhuma
ilegalidade e que acionará a Procuradoria da República "a fim de acelerar
as investigações do caso".
TIÃO VIANA (PT) – O governador do
Acre, Tião Viana, disse, por meio de nota oficial, "estranhar" a
informação obtida pelo jornal, pois "não conhece e nunca teve qualquer
tipo de relação com o Sr. Paulo Roberto Costa". "Qualquer ilação que
venha atingir a responsabilidade do Governo do Acre ou a honra pessoal do
governador, será tratada pelas vias judiciais garantidas pelo Estado
democrático de direito", enfatizou.
DELCÍDIO AMARAL (PT) – A assessoria
do senador Delcidio Amaral informou que os fatos delatados por Paulo Roberto
Costa são "anteriores" ao seu mandato e que tomará as medidas
judiciais cabíveis "com relação a mais esse vazamento ilegal e
irresponsável" de informação.
CÂNDIDO VACAREZZA (PT) – Ao
jornal "O Estado de S. Paulo", o deputado Cândido Vaccarezza negou as
acusações. “Eu nunca recebi um centavo do Paulo Roberto Costa, nunca apresentei
nenhuma empresa a ele e nunca levei nenhuma empresa para falar com o Paulo
Roberto Costa. Não acredito que ele tenha dito isso, porque se ele disse é
mentira”, disse. À equipe da TV Globo, o deputado Cândido Vaccarezza disse que
não comentaria o assunto.
VANDER LOUBET (PT) – O deputado
Vander Loubet, por meio de nota, se disse "surpreso" diante da menção
de seu nome em notícia veiculada na imprensa. O parlamentar disse que não teve
relação "institucional, política ou de outra natureza" com Paulo
Roberto Costa e que está a disposição da Justiça para esclarecer os fatos
"com a maior brevidade possível".
RENAN CALHEIROS (PMDB) – O
senador Renan
Calheiros disse por meio de um comunicado
oficial que suas relações “com todos os diretores da estatal nunca
ultrapassaram os limites institucionais”. “Não há chance alguma de o senador
ter tratado de temas não republicanos com qualquer pessoa ou executivos desta
ou de outra estatal”, informa o texto.
EDISON LOBÃO (PMDB) – O ministro
de Minas e Energia, Edison Lobão, informou em nota que desconhece a inclusão de
seu nome em depoimento de investigados pela Justiça e que jamais praticou
irregularidade ou dela se beneficiou no exercício da vida pública.
"Repele, portanto, com veemência, toda e qualquer tentativa de vincular o
seu nome a supostos ilícitos ou falha de conduta", disse.
HENRIQUE EDUARDO ALVES (PMDB) – O
presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, afirmou que diversas
“supostas listas” têm sido divulgadas, negando envolvimento. “Reitero que
delação premiada é um instrumento que beneficia ao réu, não deve ser tomada
como prova de verdade. Para isso, há a investigação séria dos órgãos
competentes”, informou por meio de sua assessoria.
SÉRGIO CABRAL (PMDB) – O
ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral disse, por meio de nota oficial,
que repudia qualquer menção a seu nome "em suposta lista ou fato relatado
por Paulo Roberto Costa". Ele afirmou que sua relação com o ex-diretor
sempre foi institucional e que jamais indicou ou interferiu em indicações de
nomes para o governo federal ou decisões gerenciais da Petrobras.
ROSEANA SARNEY (PMDB) – O
advogado da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, Antônio Carlos de
Almeida Castro, Kakay, afirmou que sua cliente “não é alvo da Lava Jato” e que
se trata de um “encontro fortuito”. Segundo ele, a ex-governadora teve seu nome
ligado a Alberto Youssef após denúncia de suborno feita por Meire Poza, que era
contadora do doleiro. "Eu, inclusive, já conversei com o Alberto, e ele
disse que não conhece a Roseana, e que nunca fez negócios com ela", afirmou.
O pai de Roseana, o senador José Sarney
(PMDB-AP), disse não acreditar no
envolvimento da filha.
VALDIR RAUPP (PMDB) – O senador
Valdir Raupp (PMDB-RO) informou por meio de nota que "estranha" a
menção do nome dele por Paulo Roberto Costa, "posto que jamais recebeu
qualquer espécie de vantagem, bem como nunca tratou com envolvidos na
referida operação". Segundo ele, todas doações a campanhas eleitorais
"estão devidamente registradas e submetidas à Justiça Eleitoral".
"É inadmissível e inaceitável qualquer manobra para vincular o seu
nome aos investigados na Operação Lava Jato", diz o texto.
ROMERO JUCÁ (PMDB) – Por meio de
sua assessoria, o senador Romero Jucá negou qualquer envolvimento no esquema.
ALEXANDRE SANTOS (PMDB) – O
deputado Alexandre José dos Santos disse a "O Estado de S. Paulo" que
foi Paulo Roberto Costa quem pediu ajuda a ele para se aproximar do ex-prefeito
de Itaboraí, Sérgio Soares. Segundo o deputado, Costa queria conversar com o
ex-prefeito sobre o Comperj, complexo cujas obras também é alvo de
investigações de superfaturamento. "Por que eu receberia alguma coisa dele
Paulo Roberto Costa?", questionou o parlamentar.
EDUARDO CAMPOS (PSB) – Com
relação a Eduardo Campos, que morreu em agosto, o PSB “reitera o seu
posicionamento de extrema confiança em seu ex-presidente nacional”. “O ônus da
prova é de quem acusa, portanto, o senhor Paulo Roberto Costa deve provar a sua
denúncia, até porque ele cita um líder com reputação ilibada e que não está
mais aqui para se defender”, diz o partido em comunicado.
SÉRGIO GUERRA (PSDB) – Em nota, o
PSDB, partido que foi presidido por Sérgio Guerra, morto em março, afirmou que
"já reiterou por diversas vezes" que defende que todas as denúncias
sejam investigadas com o mesmo rigor, independentemente da filiação partidária
dos envolvidos e dos cargos que ocupem. "A apresentação do relatório paralelo
da CPMI, de autoria do PSDB, reforçou essa tese ao pedir o indiciamento de 59
pessoas e a abertura de inquérito policial contra outras 36, várias destas
políticos, tratando os nomes citados da mesma forma, sem distinção de filiação
partidária", afirmou o PSDB na nota.
CIRO NOGUEIRA (PP) – O presidente
nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), enviou ao jornal "O Estado de S.
Paulo" a mesma carta encaminhada ao juiz federal Sérgio Moto, na qual diz
que renuncia se houver qualquer “comprovação de vínculo financeiro, ilegal ou
impróprio”.
MÁRIO NEGROMONTE (PP) – O
ex-ministro Mário Negromonte (PP-BA) disse em nota que repudia
"veementemente" a afirmação que inclui seu nome na relação divulgada
pelo jornal. "As poucas vezes que estive com o Sr. Paulo Roberto Costa foi
para tratar de assuntos institucionais e na presença de outras pessoas. Nunca
tratei de assuntos relacionados a recursos e nunca recebi", afirmou.
JOÃO PIZZOLATTI (PP) – Ao jornal
"O Estado de S. Paulo", a assessoria do deputado João Pizzolatti
(PP-SC) informou que o parlamentar desconhece o inquérito.
NELSON MEURER (PP) – O deputado
federal Nelson Meurer (PP-PR) afirmou que todas as doações recebidas para as
eleições de 2010 "são oficiais e estão registradas na prestação de contas
no TSE". Ele declarou que todas as doações de campanha, tanto em 2010,
quanto em 2014, foram solicitadas diretamente ao PP e que nunca teve
"contato com Paulo Roberto Costa ou mesmo Youssef". O deputado
afirmou ainda que recebeu uma doação no valor de R$ 500 mil da empreiteira
Queiroz Galvão, feita a pedido do PP. Meurer disse estar "tranquilo"
de que a Justiça "não vai encontrar provas de algum ilícito".
SIMÃO SESSIM (PP) – O deputado
Simão Sessim (PP-RJ) disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que não
vai se manifestar sobre a lista.
BENEDITO DE LIRA (PP) – A
assessoria do senador Benedito de Lira (PP-AL) informou que não tem informações
sobre o conteúdo das denúncias e que não vai se manifestar.
LUIZ FERNANDO FARIA (PP) – O
deputado federal Luiz Fernando Faria (PP-MG) disse em nota que os contatos
mantidos com Paulo Roberto Costa se deram "exclusivamente por dever de
ofício". Segundo o deputado, na qualidade de presidente da Comissão de
Minas Energia em dois períodos, 2008 e 2011, e relator de um dos projetos do pré-sal
(PL 5939/2009), o contato entre os dois era "inerente" ao exercício
da função, para o "tratamento das questões institucionais, republicanas e
de interesse nacional".
PEDRO CORRÊA (PP) – O advogado do
ex-deputado Pedro Corrêa afirmou que ele cumpre pena de 7 anos e 2 meses em
regime semiaberto no Centro de Ressocialização do Agreste, na cidade de
Canhotinho, no interior de Pernambuco, e que está incomunicável, não tendo
acesso a telefone.
ALINE CORRÊA (PP) – Por meio de
nota, a deputada federal Aline Corrêa (PP-SP) informou que não tem
"nenhuma relação" com o ex-diretor Paulo Roberto Costa e que as
doações à sua campanha foram feitas de forma oficial e aprovadas pelos órgãos
competentes. Ela também afirmou que está à disposição da Justiça para "todo
e qualquer esclarecimento".
JOÃO OTÁVIO GERMANO (PP) – O
deputado José Otávio Germano (PP-RS) afirmou em nota que vê com "tristeza
e indignação" a presença do seu nome na relação de políticos que teriam
sido citados nos depoimentos do ex-diretor da estatal. Ele admitiu que estivesse
duas vezes com Paulo Roberto na sede da Petrobras na época em que presidia a
Comissão de Minas e Energia da Câmara.
Dinheiro para campanhas.
O jornal "O Estado de S.
Paulo" relatou que, na delação premiada, Costa afirmou que parte dos políticos
que integravam o esquema de corrupção recebiam repasses de propinas com
frequência.
O ex-diretor da Petrobras, que
está em prisão domiciliar no Rio de Janeiro, revelou ao MPF que as parcelas de
suborno chegaram a superar R$ 1 milhão. O dinheiro, destaca a reportagem, teria
sido usado em campanhas eleitorais.
Em depoimento
à Justiça Federal do Paraná em outubro, Costa
também relatou que parte da propina cobrada de fornecedores da estatal foi
usada na campanha eleitoral de 2010. Segundo ele, o dinheiro era direcionado a
PT, PMDB e PP.
Na ocasião, ele disse ao juiz
federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato na primeira
instância, que o PT recolhia para o seu caixa 100% da propina obtida em
contratos das diretorias que a sigla administrava, como, por exemplo, as de
Serviços, Gás e Energia e Exploração e Produção.
Conforme o ex-dirigente, se o
contrato era de uma diretoria que pertencia ao PP, o PT ficava com dois terços
do valor e o restante era repassado para a legenda aliada.
Da cota do PP, detalhou Costa à
Justiça Federal, 60% eram repassados para a direção do partido, 20% eram usados
para emitir notas fiscais e outros 20% eram divididos entre ele e o ex-deputado
federal José Janene (PP), apontado como antigo operador do partido no esquema
de corrupção que tinha tentáculos na Petrobras. Um dos réus do processo do
mensalão do PT, Janene
morreu em 2010, antes de ser julgado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).
A relação de nomes de políticos
mencionados por Costa na delação premiada reproduz a divisão partidária da
propina que ele mesmo detalhou em outubro. Nas contas da reportagem de "O
Estado de S. Paulo", o ex-diretor citou ao Ministério Público oito
políticos do PT, oito do PMDB, dez do PP, um do PSDB e um do PSB.
Frequência dos subornos.
O delator do esquema de corrupção
observou na delação premiada que, ao mesmo tempo em que ocorriam repasses
regulares, outra fatia dos políticos recebia suborno esporadicamente, informou
a publicação.
De acordo com o jornal, o
ex-presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra – que morreu em
março deste ano – teria pedido, em
2009, R$ 10 milhões para arquivar uma CPI da Petrobras no Senado.
O texto afirma ainda que, em
relação a diversos políticos, Paulo Roberto Costa apenas mencionou os nomes,
sem detalhar as cifras que teriam sido distribuídas a eles ou a seus partidos.
A reportagem ressalva que os
nomes citados por Costa são exclusivamente de políticos que teriam sido
beneficiados com propinas pagas por fornecedores da Petrobras à diretoria de
Abastecimento, que ele comandou entre 2004 e 2012, nos governos Lula e Dilma.
Políticos mencionados por outros
delatores, como o doleiro Alberto Youssef – suspeito de comandar o esquema de
lavagem de dinheiro e pagamento de propina desmontado pela Operação Lava Jato
–, não estavam entre os listados por Paulo Roberto Costa.
Segundo o jornal, o ex-diretor da
Petrobras disse que, em 2010, o esquema de corrupção que atuava na Petrobras
repassou R$ 1 milhão para a campanha da senadora Gleisi
Hoffmann, que comandou a Casa Civil de
Dilma entre 2011 e 2014. O ex-diretor destacou a reportagem, teria recebido
pedido do doleiro Alberto Youssef para ajudar na candidatura dela.
O líder do PT no Senado, diz o
texto, também teria recebido R$ 1 milhão do esquema para sua campanha em 2010.
A reportagem afirma que, de acordo com Costa, o dinheiro teria sido pedido pelo
empresário Mário Barbosa Beltrão, presidente da Associação das Empresas do
Estado de Pernambuco.
Costa - informa o jornal, também
deu detalhes sobre o suposto envolvimento de outro petista no esquema: o
senador Lindbergh Farias, que concorreu ao governo do Rio de Janeiro na eleição
deste ano. De acordo com o ex-dirigente da Petrobras, ele trabalhou na campanha
deste ano de Lindbergh e teria como uma de suas atribuições coletar doações com
empreiteiras em nome do petista.
Do G1, em Brasília.
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