segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2014

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.

EXAMINADORES DA “VERDADE”
Nobres:
A mais profunda doença da sociedade, ou das pessoas, é viver na mentira e alimentar-se dela. Com essa visão, a Comissão Nacional da Verdade tentou reconstituir o período amargo e brutal da ditadura implantada em 1964 e, assim, dar o alerta histórico sobre o que não deve se repetir jamais. Agora, em 4 mil páginas, o relatório final pouco acrescenta às verdades publicadas em 1985 no documento “Tortura Nunca Mais” (elaborado por grupos religiosos em São Paulo), mas as diferenças são fundamentais. Em plena convivência da liberdade, há ainda resquícios do espírito de ódio implantado em 1964. A amargura do ódio mata mais do que as epidemias e as guerras. Mata por dentro, rói as entranhas. Uma sociedade de semeadores de ódio sempre será doentia, violenta e totalitária, sem espaço para a convivência. Anos atrás, num mês de estupros e mortes diárias, o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, apelou aos criminosos pela TV: - Estupra. Estupra, mas não mata! Estávamos ainda desabituados ao raciocínio livre e não percebemos que aquilo era um convite ao horror! Hoje, outro é o convite. A partir do relatório da CNV, a presidente Dilma corretamente lembrou que “a verdade não é motivo para gerar ódio, acerto de contas ou revanche”, mas deve servir para a reconciliação nacional. Sim, pois basta a verdade como punição histórica. Fora disto, seria vingança. Se a vítima se vinga, imita o carrasco e se equipara a ele. Por outro lado a Lei de Anistia, do final de 1979, foi o início do que se completa, agora, com o relatório da CNV. Falta, apenas, que alguns segmentos da sociedade especialmente os que fazem do poder uma linha de conduta ideológica e ao mesmo tempo tentam sobressair-se de ações corruptas enraizadas na cultura de seus costumes e, concomitantemente, as Forças Armadas se guardem como instituições e reconheçam os erros dos seus chefes nos tempos em que o terror, inegavelmente foi política de Estado.
Antônio Scarcela Jorge.

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