Jorge Hage, que pediu demissão nesta semana, investigou o desvio de
dinheiro público por 10 anos.
Nesta semana o ministro Jorge
Hage, que já anunciou sua demissão da Controladoria-Geral da União, terminou um
relatório que comprova: o Brasil teve prejuízo, sim, com a compra pela
Petrobras da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Na quinta-feira, o ministro
recebeu em Brasília o repórter Eduardo Faustini, conhecido como repórter
secreto, porque não pode mostrar o rosto.
Jorge Hage é ministro-chefe da
Controladoria Geral da União, a CGU - um dos órgãos do governo responsável por
combater a corrupção no país. Por mais de dez anos, ele investigou esquemas,
cartéis, quadrilhas e escândalos e criou um verdadeiro mapa de casos de desvio
de dinheiro público no Brasil. “A essa altura, após 12 anos, eu não me assusto
mais com nada”, diz Hage.
TRANSCRITO
POR ENTREVISTA NO “FANTÁSTICO” – REDE GLOBO.
O repórter Eduardo Faustini foi
até Brasília para uma entrevista exclusiva com o ministro, que nesta semana
pediu demissão.
Fantástico: O Brasil pode se
livrar da corrupção ou pelo menos baixar bastante?
Jorge Hage: Baixar bastante o
nível. Hoje os corruptos já passaram a pensar duas vezes antes de praticar o
ato ilícito. Começou a acabar a impunidade. Já tem gente presa, já tem gente
indo para a cadeia, na área administrativa nós já expulsamos da administração
federal mais de cinco mil servidores, diretores, dirigentes. No site da CGU já
tem mais de quatro mil empresas impedidas de contratar com o poder público ou
suspensas temporariamente. E já tem mais de 2,5 mil ONGs impedidas de receber
dinheiro de convênio, que era outro ralo por onde saía muito dinheiro.
Nesta semana a CPMI que investiga
denúncias de corrupção na Petrobras apresentou o relatório final e não indiciou
ninguém. Um dos casos investigados foi o da refinaria de Pasadena. Segundo o
relator da CPMI, o deputado petista Marcos Maia, a compra da refinaria foi um
negócio razoável para o Brasil, mas a conclusão da CGU é um pouco diferente.
“Também a partir de denúncias,
passamos a investigar as condições da primeira e da segunda etapa da compra da
refinaria de Pasadena. O relatório está concluído, foi concluído essa semana, a
Petrobras já se manifestou sobre ele. Infelizmente não podemos aceitar a
maioria das justificativas, estamos confirmando que houve prejuízo e estamos
abrindo os processos contra os responsáveis”, afirma Hage.
O Fantástico teve acesso exclusivo
a informações do relatório da CGU sobre o caso de Pasadena e confirmou que a
CGU vai abrir processos contra uma dezena de funcionários de vários escalões da
Petrobras.
O ministro também falou sobre o
quadro "Cadê o dinheiro que estava aqui", em que o repórter Eduardo
Faustini, o repórter secreto que não pode mostrar o rosto, denuncia o desvio de
dinheiro público em qualquer canto do Brasil.
“A corrupção causa males em todos
os níveis e em todos os tamanhos. Não importa que ela seja de bilhões ou que
ela seja alguns milhares lá na ponta, em uma prefeitura onde nós costumamos
fiscalizar. E você tem mostrado, em excelentes programas, como a corrupção
mata. Mata porque impede que funcione o serviço de saúde, porque impede que
funcione o equipamento no hospital lá da pequena cidade, porque tira merenda da
boca das crianças. Essa pequena corrupção, nós também atuamos nela. Atuamos em
todas as pontas dentro das possibilidades que temos”, ressalta.
Prestes a deixar o cargo no
próximo dia 31, o ministro Jorge Hage responde a uma última pergunta:
Fantástico: Que recado você pode
deixar para aquele que está desviando dinheiro público, que está mexendo nesse
dinheiro que é dos brasileirinhos, que é da merenda, da saúde, da educação?
Jorge Hage: Que esse bandido de
colarinho branco, quem sabe amanhã ele pode acordar 6h com a PF na porta dele.
Cadê o dinheiro que estava aqui?
Na estreia do quadro, no mês passado, o repórter secreto esteve na cidade de
Anajatuba, no Maranhão, e revelou um esquema de empresas-fantasma usado para
desviar dinheiro dos cofres da prefeitura.
O repórter secreto descobriu o
responsável por essas empresas, e todo mundo quis perguntar a mesma coisa: mas
afinal, senhor Fabiano Bezerra, cadê o dinheiro que estava aqui?
O dinheiro começou a aparecer. Foram
cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em endereços de pessoas ligadas ao
esquema. Foram apreendidos documentos, computadores, talões de cheques com
folhas em branco assinadas pelos laranjas de Fabiano, além de jóias, uma
coleção de relógios importados e uma arma.
A investigação também revelou que
as empresas-fantasma tinham contratos com muitas outras prefeituras além de
Anajatuba. “Tanto na empresa A4 quando na FF Produções, esses contratos chegam
a mais de R$ 30 milhões, envolvendo pelo menos 30 prefeituras”, afirma o
promotor público Marco Aurélio Rodrigues.
Fonte: Agência O Globo.
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