MORO DIZ QUE CÂMARA APROVOU "EMENDAS DA MEIA-NOITE" EM PROJETO ANTICORRUPÇÃO.
O juiz federal Sérgio Moro, durante o debate temático no plenário do Senado sobre o Projeto de Lei 280/.
O juiz federal Sérgio Moro criticou hoje (1°) o
texto-base do Projeto de Lei (PL) 4.850/16, que trata das medidas de combate a
corrupção aprovado pela Câmara dos Deputados.
Moro disse que na votação foram aprovadas “emendas da
meia-noite” que criminalizam juízes e promotores sem que houvesse discussão ou
avaliação por parte da sociedade.
O texto foi aprovado madrugada de ontem (30) e foram
apresentadas 12 emendas ao projeto, que tinham sido rejeitadas pelo relator,
deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), além de 16 destaques a pontos do texto. Todas
os destaques foram aprovados pelos deputados e a matéria seguiu para o Senado.
Não quero censurar a Câmara de maneira nenhuma, mas
esse tipo de previsão no projeto da Câmara de crime de responsabilidade para
juízes e promotores teria que ser objeto de um debate, de uma reflexão maior
por parte do parlamento.
Essas emendas da meia-noite, que não permitem uma
avaliação por parte da sociedade, um debate mais aprofundado por parte do
parlamento, não são apropriadas tratando de temas assim tão sensíveis, disse.
Na opinião do juiz que comanda as investigações da
Lava Jato, do jeito que ficou o texto aprovado na Câmara, ele pode interferir
na independência da magistratura e na autonomia do Ministério Público.
Certamente não foi essa a intenção dos nossos
representantes do Parlamento, mas como diz o ditado: a lei tem suas próprias
pernas.
E da forma como foi colocada, sem que houvesse um
debate saudável com a sociedade, pode ter esse efeito deletério.
E aqui eu vou
dizer, não é nas garantias da magistratura, mas sim na liberdade dos cidadãos,
porque os cidadãos precisam de juízes independentes, disse.
Moro lamentou ainda que diversas medidas propostas
pelo Ministério Público no projeto original tenham ficado de fora do texto, enquanto
outras que não foram bem discutidas com a sociedade tenham entrado.
"É como eu disse, o que entristece é que várias
dessas medidas que não eram assim tão polêmicas e traziam institutos aprovados
e recomendados nas convenções da ONU a respeito de crime organizado e
corrupção, acabaram ficando de lado", afirmou.
Lei de Abuso de Autoridade.
Moro participa hoje de sessão temática no plenário do
Senado sobre o projeto que modifica o texto da Lei de Abuso de Autoridade (Lei
4.898/1965).
Participam também do debate o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o juiz federal titular da 10ª Vara
Federal Criminal de São Paulo, Sílvio Luís Ferreira da Rocha.
Após a fala dos convidados, os senadores se
posicionaram sobre o projeto em discussão. Lindbergh Faria (PT-RJ) defendeu que
uma nova lei contra o abuso de autoridade é uma “necessidade”.
O senador disse que “impressiona” e “preocupa” o “uso
abusivo de prisões preventivas para forçar delação, de interceptações
telefônicas, vazamentos”.
Na avaliação de Lindberg, há seletividade quando se
trata de investigações envolvendo agentes públicos.
As declarações do senador petista provocaram uma
resposta do juiz Sérgio Moro.
“Parece-me claro que a intenção que subjaz, não
digo em relação a todos, é de que o Projeto de Lei de Abuso de Autoridade seja
utilizado especificamente para criminalizar condutas de autoridades envolvidas
na Operação Lava Jato.
Para mim, ficou evidente, com o discurso do eminente
senador, que o propósito é exatamente esse, ao afirmar aqui categoricamente que
eu teria cometido atos de abuso de autoridade na condução dessa operação,
disse.
Lindbergh se manifestou e disse que sua intenção foi
apenas expressar que ninguém está acima da lei. Moro retrucou que nunca teve a
pretensão de estar acima da lei.
Fonte: G1 – DF.
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