SCARCELA JORGE |
COMENTÁRIO
Scarcela JorgeTALVEZ A ÚLTIMA CHANCE.
Nobres:
Aprovada a segunda
votação da PEC do Teto no Senado, e por conseguinte, a tramitação da proposta de emenda
constitucional desejada pelo governo como meio de controle dos gastos públicos,
exibe as peculiaridades da política brasileira atual: uma oposição fraca,
incapaz de se impor no Legislativo ou nas ruas, dá a oportunidade ao governo
federal de conseguir realizar as reformas necessárias, mas as maiores
dificuldades para Michel Temer surgem de dentro do próprio governo e derivam
das escolhas do presidente da República. A chance de ouro que Temer teve para
fazer o país avançar veio do esfacelamento das esquerdas. Derrotado
fragorosamente nas urnas de outubro, a presença do PT na cena política foi
drasticamente reduzida, graças à rejeição que a legenda cultivou durante os
desgovernos de Lula e Dilma, marcados pela corrupção. As divergências internas
sobre o rumo que o partido deve tomar consomem as energias que seus quadros
poderiam usar fazendo oposição. Outros partidos de linhagem esquerdista foram
igualmente levados pela enxurrada – com a possível exceção do Psol, que chegou
a disputar o segundo turno no Rio de Janeiro, mas também acabou derrotado. Enquanto
isso os manifestantes invadiram escolas e pretendiam realizar uma “primavera
secundarista” que murchou graças a decisões judiciais e, principalmente, à
oposição vinda da própria comunidade escolar e da opinião pública. Os gritos de
“fora, Temer” também não encontram acústica suficiente; seus protestos só
reúnem a militância tradicional que orbita o petismo e invariavelmente terminam
em violência e vandalismo, como ocorreu em Brasília em 29 de novembro e em
Curitiba no último domingo. A greve geral anunciada para 25 de novembro foi um
fiasco. O caminho está aberto para Temer conseguir realizar as reformas
impopulares, mas necessárias? Não necessariamente. A PEC do Teto foi aprovada, é verdade; no entanto, o governo
vive uma crise que não se deve a nenhum fator externo, mas à própria
incapacidade de saber distinguir entre o interesse público e o interesse
privado. Foi o caso de Geddel Vieira Lima, poderoso ministro da Secretaria de
Governo que buscou servir-se do cargo para defender o interesse particular de
ganhar vista privilegiada para a Baía de Todos os Santos do alto de um edifício
embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Encontrou a resistência do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, que preferiu
deixar o cargo e expôs a pressão que recebeu. Temer parece também não ter
percebido a seriedade do problema e enrolou o quanto pôde para, por fim,
aceitar uma carta de demissão de Geddel, quando já balançava a credibilidade
que o presidente procurava evocar junto à opinião pública. O episódio lembrou o
início de seu governo, quando Temer se viu obrigado a afastar quatro ministros,
todos eles enrolados na Lava Jato ou dispostos a “estancar a sangria” produzida
pela operação. Nem por isso abandonou seus auxiliares, dentre os quais o
senador Romero Jucá, o primeiro a cair, mas “absolvido” posteriormente com a
designação de líder do governo no Senado. E que não se esqueça de Renan
Calheiros, o presidente do Senado de quem Temer depende para conseguir fazer
passar qualquer medida de seu interesse no Congresso. Calheiros, Geddel, Jucá é
apoiado em gente desse quilate que Michel Temer espera deixar um legado para o
país? Em políticos que desfiguraram as Dez Medidas Contra a Corrupção, que
pretendiam fazer passar uma absurda lei sobre abuso de autoridade, e que agora
aparecem ao lado do próprio Temer em delações vazadas para a imprensa que
mostram as entranhas da relação entre políticos e empreiteiras? Mas o Ministro
Fux em ação inusitada anulou os dez mandamentos que em seu teor, reiteramos, foi
totalmente deformada. Se falhar, este governo não terá a quem culpar, a não ser
a si próprio.
Antônio Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário