PADILHA CONCENTRAVA ARRECADAÇÕES DO PMDB NA CÂMARA, DIZ DELATOR.
Segundo Cláudio Melo, Temer e Moreira Franco
também comandavam núcleo do PMDB na Câmara.
Os três negam afirmações de
ex-diretor da Odebrecht.
Nas negociações
para o acordo de delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da
Odebrecht Cláudio Melo Filho afirma que o núcleo político organizado do PMDB na
Câmara era historicamente liderado pelo presidente Michel Temer, quando ainda
era deputado federal.
Esse núcleo era
formado também por Eliseu Padilha, hoje ministro-chefe da Casa Civil e Moreira
Franco, outro com cargo de destaque no Palácio do Planalto.
“Pelo que pude
perceber ao longo dos anos, a pessoa mais destacada desse grupo para falar com
agentes privados e centralizar as arrecadações financeiras é Eliseu Padilha,
conhecido pelo codinome ‘primo’, disse Cláudio nos termos de confidencialidade espécie
de pré-delação que antecede a assinatura do acordo com o Ministério Público
Federal (MPF).
“Ele atua como
verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu
nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo
político do PMDB para posteriores repasses internos”, afirmou.
Eliseu Padilha
disse que a acusação é mentirosa e que não foi candidato em 2014. O ministro
afirmou que nunca tratou de arrecadação para deputados ou para quem quer que
seja.
Cláudio Melo
Filho também disse às autoridades que Geddel Vieira Lima, de codinome “babel”,
ex-secretário de governo de Temer, “também possui influência dentro do grupo,
interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de
pagamentos”.
O ex-diretor
falou que na ocasião do aniversário de cinquenta anos de Geddel, em março de
2009, “demos, em nome da Odebrecht, um presente relevante a ele. Compramos um
relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi enviado juntamente com um
cartão assinado por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e eu”.
Ele falou também
das reclamações de Geddel. “Apesar dos pagamentos freqüentes, sempre me disse
que poderíamos ser mais generosos com ele. Geddel sempre me dizia que se
considerava um ‘amigo da empresa’ e que isso precisava ser mais bem refletido
financeiramente”, afirmou.
Cláudio diz que
em 2006, a pedido de Geddel, foram realizados pagamentos por meio de
contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via caixa dois.
Os pagamentos
realizados atingiram R$ 1 milhão aproximadamente, disse. “Durante a disputa de
Geddel ao cargo de governador da Bahia na campanha de 2010, a pedido de Geddel,
solicitei ocorreu um pagamento entre R$
1 milhão e R$ 1,5 milhão.
Geddel Vieira
Lima informou que estranha qualquer citação do nome dele nessa delação e que as
doações da Odebrecht foram declaradas na Justiça Eleitoral.
O ex-diretor
também falou sobre a proximidade com Moreira Franco, conhecido pelo codinome
“angorá”. “Eu conheço Wellington Moreira Franco há muitos anos, pois possuo
parentesco distante com ele”, afirmou.
Cláudio lembra
que, em algumas oportunidades, se reuniu com Moreira Franco para tratar sobre
temas afeitos à aviação civil. Na época, Moreira era secretário da área.
Cláudio conta
ainda que acredita que há uma ação orquestrada entre Moreira e Eliseu Padilha
para captação de recursos para o seu grupo do PMDB, porque Moreira solicitou
apoio de contribuição financeira, mas transferiu a responsabilidade pelo
recebimento para Padilha.
O ministro
Moreira Franco chamou de mentira o relato de Melo Filho e disse que jamais
falou de política ou de recursos para o PMDB com ele.
O ex-diretor da
Odebrecht afirmou que de forma mais recente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de
codinome “caranguejo”, ganhou bastante espaço dentro desse núcleo do PMDB,
muito em razão do poder que tinha de influenciar seus pares, o que era uma
poderosa moeda de troca na hora de negociar a sua atuação como parlamentar.
Cláudio
apresentou uma planilha com 17 pagamentos para o ex-presidente da Câmara,
totalizando R$ 10,5 milhões.
Também disse que,
nas vezes em que se reuniu com Cunha sobre assuntos legislativos de interesse
da empresa, sabia que os pagamentos feitos o “creditavam uma situação
confortável e que seriam um elemento de atendimento às questões da Odebrecht”.
Uma das medidas
provisórias que atendeu aos interesses da Odebrecht é a 613, de 2013. O texto
do governo Dilma concedia desonerações tributárias aos produtores de etanol e à
indústria química e petroquímica, áreas que a Odebrecht também atua.
Parlamentares do PMDB ajudaram na aprovação da MP.
Em e-mails a
Marcelo Odebrecht, Cláudio relata como estava a tramitação na Câmara e a ajuda
que vinha recebendo de parlamentares, entre eles Eduardo Cunha.
Ele escreve
"vencemos na comissão. Pancadaria geral!!! Perdi uma emenda que atendia a
Agro, uma empresa da Odebrecht. Segue agora à tarde para plenário, devendo ser
votada amanhã. Seguindo para o Senado. Ontem o carang (caranguejo, o codinome
de Cunha), chegou em minha casa as 00h45... Pode imaginar isso!!!?? Dona
Cláudia quase me mata!!! Vamos em frente!!!”
A defesa de
Eduardo Cunha informou que só vai se manifestar depois de ter acesso à delação
e lembrou que essa peça deveria ter seu sigilo resguardado pelo Ministério
Público.
Fonte:
G1 – DF.
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