SCARCELA JORGE |
COMENTÁRIO
Scarcela JorgeESPERAR A CORAGEM E FIRMEZA DO PRESIDENTE.
Nobres:
Quando chegamos ao cabo de um ano marcado pelas
gigantescas mobilizações populares do primeiro semestre, que redundaram no
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, cabe uma reflexão
sobre o papel reservado ao homem a quem o destino jogou a responsabilidade de
conduzir o país, num dos momentos mais críticos que já vivenciamos. O vazamento
recente da deleção do lobista Claudio Melo Filho colocou o nome de Michel Temer
no centro da crise institucional que assusta o país. Do presidente esperamos,
acima de tudo, que não deixe suspeitas sobre sua conduta, que se dirija aos
brasileiros com respostas convincentes e com a postura de um líder capaz de
conduzir o país por esta difícil travessia até 2018, quando teremos novas
eleições presidenciais. Confiança e credibilidade são essenciais para que se
coloque um fim às turbulências políticas que intranqüilizam o Brasil. Do
presidente Michel Temer esperamos, com fé e esperança, que exerça com coragem e
transparência o papel a ele reservado pela história. Coragem para estar à frente no combate a um
modelo de fazer política fundada no clientelismo e no patrimonialismo que tanto
atraso nos tem custado e que pode, se não for rompido, nos condenar à triste
sina de eterno país do futuro. Coragem para dar início a um processo de
reconstrução do Estado brasileiro, gigante, burocrático, pesado, paquidérmico,
ineficiente. Um Estado faminto que deveria servir a nação e não dela se servir
e que, com uma carga de impostos sufocante, suga as riquezas produzidas pelos
brasileiros sem a devida contrapartida em serviços de qualidade. Coragem para
promover uma profunda reforma em nosso sistema educacional, tomado pelos
interesses corporativos e por uma militância ideológica nociva aos próprios
fundamentos da educação. Como prova de que algo está muito errado, dados que
acaba de ser divulgado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(Pisa) apontam que, embora tenha crescido substancialmente o investimento por
aluno nos últimos anos, a educação brasileira continua entre as piores do
mundo. Coragem para enfrentar as
resistências sindicais e defender a tão necessária mudança na legislação
trabalhista defasada e envelhecida. Não se trata de retirar direitos, mas de
aperfeiçoar a legislação para reduzir custos e melhorar a produtividade,
permitindo-se, por exemplo, que acordos coletivos possam valer como lei. Coragem
para negociar a reforma da Previdência com sensibilidade e senso de justiça
para não impor carga de sacrifícios apenas aos trabalhadores da iniciativa
privada. Afinal, esta maioria de brasileiros não tem o poder de pressão das
corporações estatais, com seus salários muitas vezes acima da média da
iniciativa privada e com suas aposentadorias privilegiadas. Pode parecer tarefa
grande demais para tão pouco tempo, mas o país tem pressa. Devemos ter
consciência de que essas e outras reformas a serem conduzidas por este governo
de transição não serão o bálsamo para todos os males do Brasil, mas certamente
recolocarão a nação nos trilhos após tantos anos de desleixo com a coisa
pública e de degradação institucional.
Antônio
Scarcela Jorge.
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