PT recebia 1% dos contratos, diz
ex-presidente da Andrade Gutierrez.
Otávio Marques de Azevedo voltou a
falar do assunto ao juiz Sérgio Moro.
Executivo
que foi preso na Lava Jato fez delação premiada e foi solto.
O ex-presidente
do Grupo Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo voltou a dizer nesta quinta-feira
(28) que a companhia pagava ao Partido dos Trabalhadores (PT) 1% de todos os
contratos que fechava com o governo federal.
Segundo ele, isso começou a
acontecer a partir de 2008, após uma reunião com o então presidente da legenda,
Ricardo Berzoini.
Ele e Paulo
Roberto Dalmazzo, também ex-funcionário da Andrade Gutierrez, foram os últimos
réus a prestarem depoimentos no processo que apura o envolvimento da
empreiteira no esquema de desvios da Petrobras, descoberto na Operação Lava
Jato.
Os dois são delatores na Operação Lava Jato. Os dois respondem por crimes
como organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de capitais.
Durante uma hora
e meia, Azevedo contou sobre os repasses feitos nesse período ao PT.
Segundo
ele, o diretor da Construtora Andrade Gutierrez, Flávio Gomes Machado, foi quem
o procurou primeiro, para dizer que estava sendo pressionado pelo então
tesoureiro do PT, Paulo Ferrreira, para que a empresa contribuísse com a
legenda.
A reunião,
conforme Azevedo aconteceu em São Paulo, e teve a participação de Berzoini,
Ferreira e de João Vaccari, que mais tarde assumiria a tesouraria do PT.
"A posição
colocada pelo Ricardo Berzoini foi de que nós éramos grandes parceiros do
governo, que nós tínhamos uma participação muito importante nos projetos do
governo e que eles pediam uma colaboração eleitoral de 1% de todos os projetos
federais que a Andrade estaria executando e que já tinha executado, de 2003
para a frente, projetos inclusive até já terminados. E também dos projetos já
futuros".
Esta é pelo
menos a segunda vez que Otávio Marques de Azevedo fala à Justiça sobre essa
reunião.
Em abril deste ano, em outro processo derivado da Lava Jato, mas que
corre na Justiça Federal do Rio de Janeiro, ele também comentou o caso.
Azevedo afirmou
que considerou a reunião desagradável. Disse ainda que ao questionar Berzoini
sobre qual benefício a empresa ganharia ao dar dinheiro para o partido, ouviu
que eles não iriam atuar a favor da Andrade Gutierrez.
"Falou que
não tinham obrigação de nada, que não iam atuar no sentido de atuar a aumentar
ou diminuir qualquer coisa, ou seja, era simplesmente uma atitude de apoiamento
a um partido político que estava no governo", afirmou.
Mais à frente,
Azevedo também comentou que em 2008 as cobranças não eram tão freqüentes.
No
entanto, a partir de 2010, Vaccari já tinha assumido a tesouraria e começou a
fazer cobranças de forma mais persistente, segundo o executivo.
"A Andrade
era conhecida como má pagadora desses compromissos.
Então, isso
gerava muita reação do Vaccari, por isso ele ia sempre cobrando, mas o fato é
que foi pago", diz.
Ainda de acordo
com Azevedo, a única obra da qual Vaccari foi incisiva ao fazer uma cobrança
foi a da Usina de Belo Monte.
"Primeiro
porque era muito dinheiro, segundo porque estava fora do acordo do Berzoini.
Belo Monte era uma empresa privada, não estava no acordo.
Porém, como foi
feito um entendimento à parte sobre Belo Monte e o Vaccari era o cobrador
também, então ele vinha cobrando Belo Monte também.
Executivo diz
que não sabia da ilegalidade.
Azevedo afirmou
durante a audiência que não sabia da ilegalidade que estava cometendo.
Ele disse que
por ele só passaram as doações legais feitas aos partidos.
"Eu não tinha a
percepção de que eu estaria cometendo um delito em relação a isso.
“A verdade é que
eu pessoalmente fui pressionado a aceitar aquele entendimento em 2008, porém, a
contribuição se enquadrava dentro de um processo legal, forma”, pontuou.
Embora fosse o
presidente da holding, o executivo disse que cabia aos diretores de cada área
definir outros valores, sobretudo os repasses feitos aos partidos em períodos
em que não havia eleição.
Apesar disso,
ele diz que não entende por qual razão a empresa acabou adotando a prática.
"Em nenhum
momento nos foi oferecido um trampolim de relacionamento, porque, inclusive,
sinceramente, acho que o grupo não precisava desse tipo de
relacionamento", garantiu.
Ainda de acordo
com Azevedo, em nenhum momento foi feita qualquer ameaça à empresa, mesmo com a
suposta fama de mau-pagador dos compromissos.
Outro lado.
À época do
depoimento de Otávio Marques do Azevedo, ex-ministro Ricardo Berzoini disse que
esteve na Andrade Gutierrez como presidente nacional do PT, solicitando
contribuição formal e legal, sem nenhuma vinculação com obras ou contratos,
para pagar dívidas partidárias.
E que as
contribuições da empresa estão registradas nas prestações de contas do PT
apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nesta
segunda-feira (25), quando Flávio Gomes Machado Filho falou sobre o mesmo
assunto da reunião, o ex-presidente do PT disse que não iria comentar o
assunto, pois não tinha conhecimento das declarações.
O advogado de
João Vaccari Neto afirmou em abril que as informações trazidas pelos delatores
Otávio Azevedo e Flávio Barra não procedem.
E que como tesoureiro
do PT, solicitava doações ao partido, que eram depositadas em contas bancárias
e declaradas às autoridades competentes.
O PT tem dito
que todas as doações foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral.
Próximos passos.
Após as oitivas,
o processo deve entrar na fase de apresentação dos argumentos finais, tanto do
Ministério Público Federal, quanto das defesas.
Os réus podem
ser condenados ou absolvidos, e o juiz não tem a obrigação de cumprir
totalmente os acordos firmados pelos delatores.
A Andrade
Gutierrez também já reconheceu a culpa pelas irregularidades apontadas nos
processos aos quais os funcionários respondem na Justiça.
A empreiteira
firmou um acordo de leniência com diversas autoridades e se comprometeu a pagar
multa civil de R$ 1 bilhão, parcelada em 10 vezes.
Processo
suspenso.
Este processo
chegou a ser suspenso por quatro meses justamente pela negociação dos acordos
de colaboração entre os réus e a Procuradoria Geral da República (PGR).
A 14ª fase da
Operação Lava Jato focou as investigações na Andrade Gutierrez e na Odebrecht,
que são as maiores empreiteiras do país.
De acordo com o
Ministério Público Federal (MPF), as duas empresas agiam de forma mais
sofisticada no esquema de corrupção e fraudes de licitações da Petrobras.
Esse
diferencial, conforme o MPF, estava no pagamento de propina a diretores da
estatal via contas bancárias no exterior. Na quinta-feira (28) serão ouvidos
Otávio Marques de Azevedo e Paulo Roberto Dalmazzo, também ex-executivos da
Andrade Gutierrez.
Os executivos
são suspeitos de pagar propina em contratos como o do Centro Integrado de Processamento
de Dados (CIPD) do Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), no Rio de
Janeiro; no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj); na Refinaria de
Paulínia (Replan); no gasoduto Gasduc III, em Cachoeiras do Macau (RJ); no
gasoduto Urucu-Manaus; na Refinaria Landulpho Alves (RLAM); na Refinaria
Gabriel Passos (Regap); e no Terminal de Regaseificação da Bahia.
A empresa
afirma, por meio de nota oficial, que tem compromisso de colaborar com a
Justiça.
“A Andrade
Gutierrez mantém o compromisso de colaborar com a Justiça.
Além disto, tem
feito propostas concretas para dar mais transparência e eficiência nas relações
entre setores públicos e privados.”
Fonte: G1 – PR.
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