COMENTÁRIO
SCARCELA JORGE
SCARCELA JORGE
SULCARÁ NA FALÊNCIA.
Nobres:
Não nos induza
a achaque, de forma alguma tentar minimizar a sordidez e a autocracia petista.
Muito pelo contrário, ainda que soe imperdoável repetir o mesmo erro e no
futuro revele-se educativo sofrer como estamos sofrendo, a falta de limites
éticos do PT continua indiscutível. Sendo ainda mais direto, o Partido dos Trabalhadores
acabou como liderança capaz de atrair as massas via retóricas morais. E quem o
diz é a própria esquerda, ao enxergar na Rede uma oportunidade de recomeçar,
agora que finalmente conseguiram arrombar o cofre e deixar a terra arrasada.
Ainda que leve um tempo para a consumação deste fato, sua fragmentação moral,
as retumbantes prisões que ainda estão por vir, além da crise econômica sem
prazo para acabar, desde agora nos permitem cogitar sobre o amanhã. É razoável
conjeturar um Brasil diferente apenas pela derrocada de Lula e seus comparsas?
Melhor com certeza, mas diferente não me parece provável. Se o petismo deixa
alguma lição válida, é justamente sobre como o Estado pode se tornar facilmente
manipulável nas mãos de um grupo organizado e desconhecedor de escrúpulos. Basta
acompanhar os jornais. Deixando de lado alguns atores constitucionalmente
autônomos, como por exemplo, a Polícia Federal e o Ministério Público, são
inacreditáveis o nível de contaminação política em mecanismos designados a
fiscalizar. Mesmo na Justiça, haja vista o Supremo, as indicações promovem uma
promiscuidade difícil de ser contornada e decisiva para o acobertamento de
crimes de má gestão. Isto sem falar em CGU, AGU, Tribunais de Contas municipais
ou estaduais. A fórmula é simples, se corruptos ou ainda pessoas suscetíveis a
condutas criminosas e politicagem estiverem aparelhando um sistema, não fará
sentido esperar que dificultem seus próprios interesses. Fato este, aliás, que
ganhou publicidade, felizmente através de um bom exemplo, com a reação do TCU
ao vergonhoso socorro do governo às empreiteiras envolvidas na Lava Jato.
Avaliando que a Medida Provisória 703 dificultará seu dever de fiscalizar, os
Ministros parecem decididos a boicotá-la, ignorando todos os acordos que forem
encaminhados ao Tribunal. Em resumo, do jeito que está o país precisa torcer
para que pessoas comprometidas com a lisura e o interesse público estejam na hora
certa e no lugar certo, sob pena de tornar-se refém de si mesmo. Certamente é
grande a nossa responsabilidade pelo que tem acontecido, e a morte prematura de
um futuro alvissareiro não só pode como deve recair sobre quem ignora a
política e suas artimanhas, reluta em fiscalizar seus governantes, ou tem
receio de debater para não ferir suscetibilidades. Arredondando com boa
vontade, cada um de nós. Convenhamos, seria difícil para qualquer comunidade
manter distância da cena pública, e, portanto negligenciar seus próprios
interesses, sem sofrer graves conseqüências. Até na hora de criticar políticos
o fazemos como se não fossem nossos representantes legítimos, às vezes
conhecidos, vizinhos e amigos. Por outro lado, para minimizar a crise moral, o
debate sobre o voto obrigatório, a reeleição, inclusive o sistema de governo,
deveria ser retomado de maneira mais ampla e demorado. E o mesmo vale para a
reforma partidária e a insensatez generalizada de integrantes das médias e
pequenas cidades que desconhecem a gravidade nacional, onde transitam futuros
condenados como se estivesse aqui, no futuro paraíso da hipocrisia e objetam a
mentira, rir da “palhaçada que eles são os próprios protagonistas. Mas, além
destes aspectos, é fundamental repensarmos uma engrenagem que possibilite ao
organismo estatal produzir anticorpos mais eficientes e, a sociedade a estas
alturas, não pode mais esperar.
Antônio Scarcela Jorge.
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