Augusto Ribeiro Mendonça Neto disse ainda que
entregou dinheiro vivo a Tigrão, emissário de Renato Duque.
SÃO PAULO — Parte da propina
cobrada por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, das empresas que
prestavam serviços para a Petrobras foi paga na forma de doação oficial ao
Partido dos Trabalhadores. Segundo o executivo Augusto Ribeiro Mendonça Neto,
que negociou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, o valor alcançou
cerca de R$ 4 milhões entre 2008 e 2011 e foi pago por meio das empresas MPE Engenharia,
SOG Óleo e Gás e Setec Engenharia. Na prestação de contas do PT à Justiça
Eleitoral entre os anos de 2008 e 2011, há doações feitas pelas empresas
mencionadas por Mendonça Neto num total de R$ 3,6 milhões. A maior parte, cerca
de R$ 2,6 milhões, entrou no caixa do partido via a Setal Engenharia, que
também atende pelo nome de SOG Óleo e Gás S/A. As doações foram feitas ao longo
de 2009, 2010 e 2011. Outras duas empresas citadas no depoimento também
aparecem nas contas do PT. A empresa Setec Tecnologia S/A doou R$ 500 mil em
2010, mesmo valor da contribuição da PEM Engenharia, no mesmo ano.
O dinheiro foi desviado de obras
da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. No total, o desvio
alcançou entre R$ 70 e R$ 80 milhões. Mendonça Neto afirmou que houve duas
negociações separadas: uma com o ex-deputado federal José Janene (PP), que
morreu em 2010, e representava a diretoria de Abastecimento, comandada por
Paulo Roberto Costa. O valor da propina ficou em R$ 20 milhões. A segunda
tratativa foi feita com Renato Duque, diretor de Engenharia e com Pedro Barusco
Filho, gerente da área, e o valor da propina ficou entre R$ 50 milhões a R$ 60
milhões.
Segundo Mendonça Neto, foi Renato
Duque quem determinou que fosse feita doação para o PT. Ele detalhou ainda como
foi feita a distribuição da quantia. Disse que parte foi entregue também em
dinheiro vivo a um emissário de Duque conhecido como "Tigrão",
descrito como um homem em torno de 40 anos, moreno, com altura entre 1m70 e
1m80 e "meio gordinho". O dinheiro chegava num escritório do
executivo, na Chácara Santo Antonio, em São Paulo, por carro-forte e era
retirado por Tigrão. Foi Tigrão quem retirou a maior parte, mas também foram
feitas entregas a outros homens, também conhecidos por apelidos, como “Melância”
e “Eucalipto”. A terceira forma de pagar a propina, segundo ele, eram os
depósitos em contas no exterior, indicadas por Duque e pelo gerente Pedro
Barusco Filho. A conta usada era denominada Marinelo.
Os R$ 20 milhões da diretoria de
Costa, destinados ao PP, foram repassados entre março de 2009 a fevereiro de
2012. Os depósitos, neste caso, foram feitos nas contas de três empresas
controladas pelo doleiro Alberto Youssef : MO Consultoria, Rigidez e RCI. Numa
segunda obra, o Projeto Cabiúnas, o valor pago em propina foi de R$ 2 milhões.
Mendonça Neto disse que uma das
transferências feitas para a conta de Duque, a Marinelo, foi feita por meio de
uma empresa que mantém no Panamá. O valor foi de US$ 1 milhão. A propina total
da obra, afirmou, foi em torno de R$ 30 milhões e paga pelo consórcio formado
pela SOG Óleo e Gás ( vinculada ao grupo Setal), Promon Engenharia e Shanska.
As negociações com Duque e
Barusco, segundo ele, ocorreram em restaurantes do Hotel Ceasar Park em
Ipanema. Depois da determinação de doar parte da propina ao PT, Mendonça Neto
diz que procurou João Vaccari Neto, o tesoureiro do partido em São Paulo, para
saber como doar. Ele disse, porém, que o tesoureiro não foi informado que a
determinação para fazer a doação partiu do diretor da Petrobras.
Mendonça Neto disse que a
negociação com José Janene era dura. Relatou que, em algumas ocasiões, como na
negociação de um aditivo de contrato para obra da Refinaria Duque de Caxias
(Reduc), foi chamado ao escritório de Janene em São Paulo, onde foi intimidado
e ameaçado. Segundo ele, as demonstrações de poder eram “relevantes”. Ele conta
que, certa vez, estava numa sala de espera do escritório quando uma a porta da
sala ao lado se abriu, e Janene saiu agredindo “um outro cara”, colocando o sujeito
para fora.
O executivo contou ainda ter
pagado propinas em obras das refinarias Paulínia (Replan) e Henrique Lage
(Revap), incluindo aditivos.
Em nota, o PT afirmou que recebe
doações “em conformidade com a legislação eleitoral vigente”. E que “o próprio
depoente reconhece em seu depoimento que foi orientado pela secretaria de
Finanças do PT a efetuar as doações na conta bancária do partido”. A nota dia
ainda que os recibos das doações constam na prestação de contas apresentada ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para justificar a saída do
dinheiro na contabilidade do consórcio responsável pela obra na Repar foram
feitos contratos de falsas prestações de serviços com as empresas Legend,
Soterra, Power, SM Terraplanagem e Rockstar. A Rock Star Marketing, com sede em
Santana do Parnaíba, em São Paulo, foi uma das duas empresas - a outra é a JSM
Engenharia e Terraplenagem - que receberam R$ 49,1 milhões do esquema do
empresário Fernando Cavendish, da Delta, e do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Essas empresas também aparecem repassando dinheiro à MO Consultoria, do doleiro
Alberto Youssef. Em seu depoimento, Mendonça Neto afirmou que as empresas
intermediárias - não apenas a Rock Star - faziam parte do esquema da Delta e
eram controladas por "Assaf". A grafia do nome pode ter sido digitada
erroneamente na transcrição do depoimento dado À PF. Em 2012, na CPI que
investigou a Delta, Cavendish afirmou que o empresário Adir Assad, de origem
libanesa, era quem distribuía aos parlamentares o dinheiro desviado pela Delta
de contratos com o Dnit. Assad era dono de empresas de engenharia e
terraplenagem. Ele receberia o dinheiro das construtoras, pago para suas
empresas, e sacava na boca do caixa, para entregar aos políticos em espécie.
Outro executivo detalha depósitos no exterior, mas
nega doações.
O outro executivo da Toyo Setal,
Júlio Gerin de Almeida Camargo, admitiu nos dois depoimentos prestados à
Polícia Federal nos dias 31 de outubro e 3 de novembro o pagamento de R$ 35
milhões em propina a Duque e ao ex-gerente de Executivo de Engenharia e
Serviços Pedro Barusco. Camargo disse ainda que pagou a US$ 40 milhões a
Fernando Soares, vulgo Fernando Baiano, apontado como um dos operadores do
esquema do PMDB. As transferências foram feitas através de operações
triangulares em contas na Suiça, Uruguai, Brasil e China.
Em depoimento, o executivo também
confirmou que o repasse era feito a Paulo Roberto Costa diretamente através de
representantes da construtora Camargo Correa. De acordo com Julio Camargo, os
repasses a Duque eram feitos diretamente ao ex-diretor e ao gerente executivo
de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco, através de duas contas na Suiça e
uma no Uruguai. Em apenas dois contratos firmados para o Projeto Cabuínas 2 e o
consórcio Interpar, Camargo confirmou ter pago a Duque e Barusco outros R$ 15
milhões através de contas fora do país. Os repasses a Paulo Roberto eram feitos
através do doleiro Alberto Yousseff que indicava contas em Hong Kong e em
bancos chineses para depositar as quantias que equivaliam a 1% do valor dos
contratos firmado.
Camargo utilizava de empresas de
consultorias para oficializar os repasses das empreiteiras das comissões
firmadas com os dois ex-diretores da Petrobras. O empresário montou três
empresas - Treviso, Piemonte e Auguri - para receber “as comissões”. De acordo
com um dos depoimentos prestados, os consórcios vencedores das obras
depositavam as propinas em contas no banco uruguaio Interbotom e nos suíços Dredit
Suisse e Banque Cramer. Julio Camargo também confirmou o pagamento de propina
em espécies a Barusco e pessoas indicados por Duque e a Youssef, a pedido de
Paulo Roberto.
Ele disse ainda que o presidente
da UTC, Ricardo Pessoa, e o executivo da Odebrecht, Márcio Farias, comandaram a
distribuição de propina diretamente na construção de uma unidade de hidrogênio
do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Contudo, não detalhou os
valores.
Diferente de Mendonça, o delator
declarou que as doações feitas por suas empresas entre 2008 e 2012 a políticos
de onze partidos não foram propinas. Os recursos, que somam mais de R$ 4
milhões foram feitos por conta de relações amizades. Ele chega a citar o
ex-senador Romeu Tuma (PTB), morto em 2010, e o senador Delcídio Amaral
(PT-MS). O PT foi o partido que mais recebeu das três empresas de Camargo: R$
2,6 milhões. Em seguida, aparecem PTB, PR e PMDB.
O executivo declarou ainda que
não tinha conhecimento de cartel ao contrário do que declarou Mendonça. De
acordo com Augusto Ribeiro Mendonça Neto, que representou várias empresas desde
a década de 90, entre elas a Setal Engenharia, desde a década de 90 existia
cartel na estatal, mas que Renato Duque oficializou a divisão de obras da
estatal em 2004. Segundo ele, o cartel permaneceu até a saída de Duque da
Diretoria de Serviços da estatal.
O depoimento foi prestado à PF no
dia 29 de outubro. Em novembro, conforme antecipou o GLOBO, a Polícia Federal
passou a investigar o pagamento de propina a políticos inclusive na campanha de
2014. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a suspeita é que a doação
formal, declarada ao Tribunal Superior Eleitoral na última eleição, possa ter
sido transformada em "mera estratégia de lavagem de capitais".
Fonte: Agência O Globo.
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