Presidente Dilma liderava conselho da Petrobras à época de compra
polêmica.
Em 2007 e 2008, as descobertas do
pré-sal fizeram a Petrobras decolar como uma das principais vitrines do governo
brasileiro e se tornar uma das maiores petrolíferas do mundo. Passados seis
anos, porém, o cenário da empresa não inspira mais tanto otimismo.
O valor de mercado da estatal tem
recuado significativamente, e os problemas da empresa viraram uma dor de cabeça
para o governo Dilma Rousseff. O jornal britânico Financial Times chamou
a companhia de "um potencial não concretizado".
A crise mais recente envolve a
compra, em 2006, de 50% de uma refinaria de Pasadena (EUA), agora sob suspeita
de superfaturamento. Na época, Dilma era ministra da Casa Civil e presidente do
Conselho de Administração da estatal, que autorizou a compra.
Mas os obstáculos da empresa
envolvem também os preços dos combustíveis praticados no Brasil, seu alto grau
de endividamento e investigações sobre suposto recebimento de propina por
funcionários em negócios com a empresa holandesa SBM Offshore.
A BBC Brasil preparou uma lista
explicando os principais problemas vividos pela estatal:
Controle do preço dos combustíveis
Analistas apontam que uma das
principais causas dos problemas econômicos da Petrobras é o controle no preço
da gasolina e no diesel, exercido pelo governo para evitar um aumento da
inflação.
O Brasil consome mais petróleo do
que produz. Por isso, a Petrobras é obrigada a importar o produto, mas o valor
que paga pelo produto no mercado internacional não pode ser repassado
integralmente para os consumidores, pois isso geraria uma pressão
inflacionária. Isso, obviamente, afeta as contas da empresa.
"Os investidores veem o
papel do governo como uma interferência política na gestão da Petrobras",
explica à BBC Brasil Robert Wood, especialista em Brasil da consultoria
Economist Intelligence Unit.
Um reajuste nos preços dos
combustíveis deu fôlego aos resultados da estatal em 2013, ano em que lucrou
11% a mais que no ano anterior.
Mas seu endividamento (veja
abaixo) continua alto, mantendo a desconfiança de acionistas. "Em parte,
(a retomada da empresa) depende do ajuste no preço da gasolina e de uma
política que dê mais previsibilidade à gestão da empresa", opina Wood.
O Ministério das Minas e Energia
diz que a política de reajuste dos preços dos combustíveis é estabelecida pela
Petrobras. Por outro lado, autoridades insistem que a prioridade do governo é o
combate à inflação.
Endividamento
No ano passado, a agência de
classificação de risco Moody's rebaixou a nota da Petrobras, após a estatal
brasileira se tornar a mais endividada entre as grandes empresas de petróleo e
gás.
A dívida líquida da empresa subiu
50% em 2013 - de R$ 147,8 bilhões para R$ 221,6 bilhões.
Em relatório deste mês, a agência
calcula que a dívida total da estatal equivale a 3,8 vezes o seu Ebitda (medida
que representa o potencial de geração de caixa da empresa).
Isso tem a ver, segundo
analistas, com a política de controle dos preços dos combustíveis e com um
"plano ambicioso de investimentos", explica Wood.
Um exemplo disso é o fato de a
Petrobras ter vencido, como integrante de um consórcio com outras empresas, o
leilão do campo de Libra do pré-sal, a maior bacia petrolífera do país.
Libra deve exigir investimentos
de cerca US$ 80 bilhões nos dez primeiros anos, segundo estimativas de mercado.
O relatório da Moody’s diz que a
nota de crédito da Petrobras tem perspectiva "negativa", já que o
endividamento "deve chegar a níveis altos em 2014, significativamente mais
altos do que das demais empresas do setor, e só deve declinar a partir de 2015".
Isso é algo que "coloca em
xeque a capacidade de investimentos da empresa", diz Pires à BBC Brasil.
Em entrevista à GloboNews em
outubro do ano passado, a presidente da estatal, Graça Foster, disse que, no
caso específico de Libra, os investimentos de curto prazo são pequenos. E
ressaltou que suas dívidas estão sendo convertidas em investimento, que
resultarão em crescimento.
Mas recentemente, na divulgação
dos resultados da empresa, a presidente admitiu que a redução do endividamento
será uma missão difícil em 2014.
Casos Pasadena e SBM Offshore
Uma reportagem de O Estado de S.
Paulo apontou, na quarta-feira, que Dilma, como então presidente do Conselho de
Administração da estatal, em 2006, votou a favor da polêmica compra de 50% da
refinaria americana de Pasadena, por US$ 360 milhões. Depois, uma cláusula
contratual obrigou a Petrobras a comprar o restante da refinaria, por mais US$
820 milhões.
No total, portanto, foi
desembolsado US$ 1,18 bilhão. O problema é que a empresa que possuía a
refinaria anteriormente, a belga Astra Oil, havia adquirido a Pasadena por
apenas US$ 42,5 milhões em 2005.
O caso está sendo investigado
pela Polícia Federal e pelo Tribunal de Contas da União, e a oposição no
Congresso ameaça a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, em ano
eleitoral.
Em carta ao Estado, Dilma disse
que aceitou a compra com base em "informações incompletas" de um
"parecer técnica e juridicamente falho". Depois, agregou que "na
época o negócio parecia vantajoso". Questionada a respeito, a Petrobras
até o momento não comentou o caso.
Outra crise envolve denúncias de
suposto pagamento de propina a funcionários da Petrobras, por parte da empresa
holandesa SBM Offshore. As denúncias envolvem cerca de US$ 139 milhões, que
teriam sido pagos entre 2005 e 2011.
Uma comissão parlamentar externa
foi designada para analisar o caso, também investigado por Ministério Público e
Polícia Federal.
Perda de valor de mercado
Todos esses fatores têm gerado
uma percepção negativa da estatal, levando investidores a venderem a suas
ações. Isso faz a empresa perder o seu valor de mercado, representado pelo
preço de suas ações vezes o número de ações existentes.
O valor das ações, que chegou a
superar os R$ 30 em 2009, agora beira os R$ 13 – um dos níveis mais baixos
desde 2005, antes do período áureo do pré-sal.
O valor de mercado da empresa foi
o que apresentou a maior perda em valores absolutos entre as empresas
brasileiras listadas em Bolsa em 2013 – de US$ 124,7 bilhões no fim de 2012
para US$ 90,6 bilhões no fim de 2013 –, segundo levantamento da consultoria
Economática.
Para Adriano Pires, analista do
Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), mais do que uma dor de cabeça para
o governo, a Petrobras "virou uma dor de cabeça para seus
acionistas".
Razões para otimismo
Mas, mesmo nesses cenários,
analistas apontam pontos positivos importantes da Petrobras.
O relativo sucesso do leilão do
campo de Libra, no ano passado, despertou dúvidas sobre a geração de caixa da
empresa, mas é também uma de suas principais promessas de lucros.
"Os investidores
estrangeiros ainda respeitam a expertise da Petrobras na área de exploração
profunda, mas a questão da gestão vem à tona", argumenta Wood.
Em entrevistas recentes, Graça
Foster afirmou que a produção de petróleo pela empresa está em uma curva
ascendente e não descarta novos aumentos de combustível, que ajudem a recompor
o caixa da empresa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário