quinta-feira, 25 de setembro de 2014

IMPERATIVO CORRUPTO DO BRASIL"

 EIKE BATISTA E MAIS SETE SÃO DENUNCIADOS EM SÃO PAULO POR FORMAÇÃO DE QUADRILHA.

Executivos também são acusados de indução de investidores a erro e falsidade ideológica.

RIO e SÃO PAULO - O Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo ofereceu denúncia contra o empresário Eike Batista e outros sete executivos ligados à OGPAR (ex-OGX) pelos crimes de formação de quadrilha, indução de investidores a erro, falsidade ideológica e manipulação do mercado de capitais. A decisão é assinada pela procuradora Karen Louise Jeanette Kahn.

Segundo estimativa do órgão federal, o prejuízo ao mercado financeiro é superior a R$ 14,4 bilhões devido à desvalorização registrada entre os anos de 2010 e 2013. Eike e os ex-diretores são acusados de induzir ao erro os investidores ao anunciarem informações irreais sobre a situação da empresa do ramo de Petróleo & Gás.

A denúncia já foi distribuída e, nos próximos dias, deve ser analisada por um dos juízes da 2ª Vara Criminal de São Paulo, especializada em crimes de lavagem de dinheiro. De acordo com a Justiça, o empresário e seu advogado ainda não foram notificados.

FALSIDADE IDEOLÓGICA E FORMAÇÃO DE QUADRILHA.

Além de Eike, a denúncia cita os seguintes executivos, todos ligados à ex-OGX e acusados dos mesmos quatro crimes: Paulo Mendonça (ex-diretor presidente da OGX e ex-diretor de produção e exploração); Marcelo Faber Torres e Roberto Bernardes Monteiro (ex-diretores financeiros e de relações com investidores); Reinaldo José Belotti Vargas (ex-diretor de produção); Paulo de Tarso Martins Guimarães (ex-diretor de exploração); Luís Eduardo Guimarães Carneiro (ex-presidente da OGX e OSX, empresa de Eike responsável pelo suporte de infraestrutura da OGX); e José Roberto Penna Chaves Favaret (ex-diretor jurídico).

"Todos cometeram crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, incluindo delitos contra o mercado de capitais", esclarece o documento do MPF-SP.

De acordo com o documento, o crime de formação de quadrilha, que ainda não havia sido considerado nas duas denúncias anteriores, ocorreu porque Eike e os executivos diretamente ligados à operação da petroleira sabiam dos problemas, e teriam omitido informações do mercado.

"Eike Batista, ao dirigir a OGX, quer na qualidade de seu presidente, controlador e Administrador do Conselho, uniu­se, em conluio e unidade de desígnios, aos demais diretores e administradores da companhia, ora denunciados, sendo produtor dos resultados falsos produzidos em seu âmbito e divulgados ao público investidor. Portanto, associando­se a estes, para a prática dos ilícitos retro mencionados, incidiu na conduta criminosa de formação de quadrilha ou bando", afirma a denúncia.

Já a acusação de falsidade ideológica é relacionada aos fatos relevantes e comunicados à imprensa divulgados entre 2009 e 2013 pela companhia. A OGX, segundo o MPF-SP, divulgou 55 fatos relevantes sobre estimativas de grande volume de extração de gás e petróleo em poços localizados nas bacias de Campos e Santos.

O documento afirma que, na fase inicial, seria "impossível determinar um fator de recuperação que possibilite conhecer volume de óleo recuperável", segundo informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, "xerife" do mercado) e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), citadas pela procuradoria.

"Por esta razão, ideologicamente falsos se revelaram todos os fatos relevantes e notícias anteriormente elencadas", destaca o texto.

Procurada, a assessoria de imprensa da OGPar informou que não pode se pronunciar pelos ex-diretores, nem por Eike Batista. A empresa não vai comentar o suposto envolvimento de Reinaldo Belotti, único dos acusados ainda na companhia.

O ex-presidente da OGX, Luiz Eduardo Carneiro, hoje presidente da Sete Brasil, informou, via assessoria de imprensa, que também não vai comentar a denúncia. O ex-diretor jurídico José Roberto Favaret, atualmente um dos sócios do escritório de advocacia Villomer Amaral, não atendeu às ligações da reportagem.

O GLOBO ainda não localizou os outros acusados pelo MPF.
SIGILO FISCAL SERÁ QUEBRADO

No Rio, a Justiça Federal vai determinar a quebra de sigilo fiscal de Eike Batista, afirmou o juiz Flávio Roberto de Souza, titular da 3ª Vara Criminal. A decisão atende à solicitação do MPF do Rio e da Polícia Federal (PF). O pedido está ligado a um inquérito aberto no mês passado pela PF, que investiga o empresário pelo crime de lavagem de dinheiro.

Segundo o magistrado, o pedido originado na Polícia Federal pretende apurar o destino do lucro de R$ 122 milhões que Eike teria obtido em duas vendas de ações realizadas em 2013. As operações são alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que resultou na abertura de inquéritos no MPF e na polícia.

Este mês, o empresário foi denunciado pelo crime de uso de informação privilegiada (Insider trading) pelo Ministério Público Federal em São Paulo e no Rio. Neste último, houve ainda denúncia pelo crime de manipulação de mercado.

O objetivo é entender a evolução patrimonial de Eike Batista nos últimos anos. Os dados registrados nas declarações à Receita Federal podem ajudar na compreensão da origem e do destino dos recursos movimentados por ele, explicou o juiz.

ADVOGADO DIZ QUE EIKE ‘NÃO TEME NADA’

A defesa de Eike é categórica em afirmar que ele “não teme absolutamente nada”:

A situação fiscal de Eike Batista e de suas empresas é completamente regular, afirmou o advogado Sérgio Bermudês.
O juiz Flávio Roberto de Souza se reúne hoje com o Ministério Público para definir mais detalhes quanto à abrangência do pedido que será enviado à Receita Federal.

Serão solicitados todos os dados das declarações dos últimos cinco anos do empresário. Toda e qualquer informação relativa às movimentações financeiras realizadas por Eike no banco de dados da Receita pode ajudar na apuração dos fatos em investigação, contou o juiz.

Em maio deste ano, o magistrado assinou um conjunto de três medidas cautelares que pediram o sequestro de bens do criador do grupo X no valor de até R$ 122 milhões, além da quebra de sigilos fiscal e telemático (internet) de Eike. Naquele momento, explicou o juiz, a demanda à Receita se limitava a verificar se havia investigações em curso no Fisco contra o empresário. Outro objetivo era obter da CVM dados sobre processos administrativos ligados a Eike.

Agora, a medida será bem mais ampla. Além de apurar ganhos, perdas e movimentações de recursos, os dados podem levar à investigação de outros crimes, disse o titular da 3ª Vara Criminal.

Na noite desta terça-feira, a Justiça de São Paulo decidiu pelo envio da denúncia oferecida pelo MPF-SP contra o empresário para o Rio, disse Bermudês. Segundo o advogado, o Ministério Público precisará acolher o documento assinado pela procuradora Karen Louise Jeanette Kahn, em São Paulo.

A Comissão de Valores Mobiliários já abriu 11 processos administrativos sancionadores relacionados a Eike. Em maio eram nove. A CVM não se pronuncia a respeito das investigações em curso. Se irregularidades forem comprovadas, as penalidades previstas em lei vão de advertência à cassação de autorização ou registro para atuar no mercado de capitais, passando por multas.

Neste caso, a legislação prevê que a multa não ultrapasse R$ 500 mil, porém a autarquia pode determinar o pagamento do equivalente à metade do valor da emissão ou operação irregular, ou um valor que represente três vezes o montante da vantagem obtida ou da perda evitada como resultado do ato ilícito.

JUSTIÇA AINDA VAI AVALIAR BLOQUEIO DE BENS

A definição do valor de R$ 122 milhões, levantado pelo MPF do Rio em maio, veio do quanto Eike teria obtido de lucro em duas operações distintas de vendas de ações realizadas no ano passado, por meio do fundo Centennial Asset Minig Fund LLC.
A primeira aconteceu entre 24 de maio e 10 de junho, com papéis da OGX (atual OGPAR, em recuperação judicial), antes da divulgação de fato relevante em 1º de julho de 2013, quando veio à público a informação de que os poços da petroleira do grupo não tinham o volume de óleo inicialmente estimado.

A outra ocorreu entre 27 de agosto e 3 de setembro, envolvendo ações da OGX e da OSX (empresa de construção naval, também em recuperação judicial).


O MPF já foi notificado sobre o montante obtido e, posteriormente, o juiz vai avaliar se determinará o bloqueio de bens móveis e imóveis do empresário, para alcançar R$ 1,5 bilhão. O arresto poderá incluir bens dos filhos mais velhos de Eike, Thor e Ohlin, e de sua mulher, Flávia Sampaio.

Fonte: Agência Globo.


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