COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
INTERESSE CORPORATIVISTA.
Nobres:
Toda a eleição vem sucedendo o
jogo de interesses “disputados” por aliados permanentes do corporativismo
político que transforma uma eleição como um balcão de negócios escusos e
corruptos por excelência. Vivenciamos a menos de um mês das eleições, a corrida
presidencial protagonizado por doadores de campanha, ativismo sindical e
militância paga, todos mobilizados para defender causas corporativistas. O
argumento de que é também assim que se faz democracia não se sustenta. O que há
como prática consagrada pela maioria dos partidos é um evidente exagero na
articulação de grupos que tentam se aproximar de algum dos lados em disputa. O
que acaba prevalecendo é o jogo de forças que desequilibra uma disputa
eleitoral em favor de quem pode mais pela imposição econômica, como ocorre com
os doadores, ou pela capacidade de expressar poder político, como é o caso das
centrais sindicais. É natural que a corrida provocada por uma eleição intensifique o uso de todos
os mecanismos presentes no confronto de ideias políticas. Mas não é razoável
que ações comandadas pelos que detêm alguma forma de influência acabem por
desvirtuar uma escolha que deveria ser a mais democrática possível. Um exemplo
dessa interferência é a manifestada nas atitudes de lideranças sindicais que
mobilizam quadros e recursos de entidades representativas dos trabalhadores
para fazer proselitismo político. Não se espera que entidades classistas devam
manter neutralidade diante das grandes questões nacionais. Mas é uma distorção
do sindicalismo a adesão explícita de dirigentes, que tentam estabelecer
vínculos entre suas entidades e determinados candidatos, com o uso de
estruturas sustentadas pelos associados e por contribuições do setor público. Candidatos,
partidos e ideias são contaminados por atitudes que mais confundem do que
esclarecem os eleitores. Nesse sentido, é igualmente condenável a tática de
campanha, repetida a cada pleito, que se socorre da militância artificial para
povoar as ruas e criar um falso clima de entusiasmo. São frequentes no
noticiário as informações sobre os gastos milionários de partidos com empresas
que se encarregam de arregimentar militantes remunerados. Os cabos eleitorais
de aluguel não são privilégio de determinados partidos e estão disseminados,
com as exceções de sempre, pela maioria das agremiações. São instrumentos à mão
de líderes que mantêm uma visão distorcida da democracia e que se sustentam nos
excessos das contribuições financeiras dos lobbys empresariais, classistas e
corporativos. O Brasil já se livrou de alguns hábitos eleitoreiros nocivos,
como os famigerados showmícios e parte da propaganda de rua que poluía as
cidades. Mas está longe de contemplar os interesses que de fato importam os dos
cidadãos que ainda esperam postura ética dos pretendentes a cargos públicos.
Vamos esperar, é que rogamos.
Antônio Scarcela Jorge.
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