COMENTÁRIO
SCARCELA JORGE
EQUÍVOCO DA PRESIDENTE.
Nobres: - O Brasil real e o país imaginado estiveram
presentes, lado a lado, na sessão de abertura da ONU, em Nova York, nos vários
aspectos abordados no discurso da presidente da República. Disse a senhora
Dilma Rousseff que os brasileiros percebem os avanços sociais representados
pelo que definiu como “uma sociedade inclusiva”. Ao mesmo tempo, exaltou no
pronunciamento uma política econômica que teria controlado gastos públicos,
estabilizado a inflação, proporcionando crescimento e produzido também nas
palavras da presidente “uma economia moderna”. Para as lideranças presentes à
solenidade, o Brasil apresentado seria uma nação que, apesar da crise mundial,
projetou-se à condição de sétima economia mundial. Trata-se de um retrato que
deveria ser relativizado. É da tradição que o discurso inaugural da sessão da ONU, concedido a um
brasileiro, seja uma oportunidade única de exaltação das virtudes do país. Mas,
desta vez, o quadro exibido não teve muita conexão com a realidade. Acerta a
presidente ao destacar que o Brasil pode contabilizar conquistas importantes,
decorrentes de políticas sociais implementadas não só pelos últimos dois
governos, mas há evidente exagero em ressaltar as qualidades de uma política
econômica que vem fracassando na tentativa de reverter resultados pouco
animadores. O Brasil que retira famílias da miséria é o mesmo país incapaz de superar
dificuldades estruturais, nem sempre resultantes do cenário internacional.
Nações sem nosso potencial econômico já começaram a reagir aos estragos da
quebradeira de seis anos atrás, enquanto continuamos estagnados. Ao contrário
do que afirmou a presidente na ONU, ainda somos relapsos no enfrentamento das
deficiências da infraestrutura e no atendimento de expectativas básicas de quem
produz. O sentimento de parcela expressiva do Brasil privado, que não apareceu
no discurso de tom eleitoral na ONU, é de perda de confiança nas políticas
oficiais e de insegurança em relação a projetos de médio e longo prazo. A
economia travada pelos erros governamentais e pela desconfiança do setor
produtivo poderia ter aparecido em nome da fidelidade aos números e à
realidade, sem muitos retoques em Nova York. Também é lamentável que, no
discurso e em coletiva, a presidente tenha reafirmado a condução errática da
política externa brasileira, ao condenar as ações militares contra os bárbaros
do Estado Islâmico e, para surpresa da comunidade internacional, defender que
os extremistas sejam tratados com diplomacia. Pelo conjunto, a presença do
Brasil no evento pode ser resumida como uma sucessão de compressões e
equívocos.
*Antônio Scarcela Jorge
Jornalista.
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