segunda-feira, 15 de setembro de 2014

PRESIDENCIÁVEIS: - PROPOSTAS PARA EDUCAÇÃO

 EDUCAÇÃO: CONHEÇA AS PROPOSTAS DE AÉCIO, DILMA E MARINA.

Programas são amplos e difíceis de serem cumpridos, além de apresentarem frases e ideias genéricas, na opinião de especialistas.

Dos três principais candidatos à presidência, somente Marina Silva (PSB) lançou um programa definitivo de governo - e falta menos de um mês para as eleições. Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) planejam publicar o documento final nos próximos dias.

Mesmo assim, todos já têm propostas de educação para se analisar - ainda que, muitas vezes, elas só contenham frases genéricas. “Infelizmente o número de eleitores que realmente leem o programa de governo de cada um dos candidatos não é nem pequeno, é irrisório”, analisa Silvio Matos, especialista em marketing.

Por esse motivo, os estrategistas prefeririam apresentar ideias ao eleitorado, e não exatamente propostas estruturadas. “Já ouvi estrategistas políticos importantes dizerem que o texto ali colocado (nos seus programas) só será lido pelos concorrentes”.

João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp e ex-secretário adjunto do Estado de São Paulo, perde a paciência: “Ficaria satisfeito se um candidato dissesse: vou implementar o PNE”, referindo-se ao Plano Nacional de Educação, sancionado pela presidente neste ano e que deve ser cumprido pelo próximo presidente eleito, independentemente de quem for.

Os programas

O plano de governo do candidato Aécio Neves analisado pela reportagem foi cadastrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na forma de diretrizes. Na seção de educação, são 37 temas, que, segundo a porta-voz da campanha do candidato na área educacional, Maria Helena Guimarães, serão melhor abordadas e aprofundadas em um novo programa de governo, sem data prevista para divulgação. O Terra solicitou entrevistas com os porta-vozes das campanhas de educação de Marina e Dilma, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

Palma Filho diz que o programa de Aécio toca em assuntos prioritários e as diretrizes estão bem formuladas. No entanto, critica propostas “meio eleitoreiras” do tucano, “como dar dinheiro para voltar a estudar” - o que não está no programa, mas foi dito pelo candidato em entrevista. Além disso, há pontos genéricos no texto. “Precisa detalhar o que vai fazer. No fundo, isso aqui (diretrizes) acaba sendo genérico”, afirma.

A candidata Dilma Rousseff cadastrou no TSE um programa em texto corrido em que ressalta, na maior parte do conteúdo, as transformações durante os 12 anos de governo petista. Em seguida, em 17 páginas, lista propostas para o que chama de “um novo ciclo de mudanças”. Para Silvio Matos, o formato do material é confuso e gera dificuldade para se definir as “grandes verdades e convicções” da candidata. “Não há capítulos” e “fala um pouco de tudo”, diz.

Marina Silva publicou seu programa de governo em 29 de agosto e causou polêmica ao alterá-lo logo a seguir. No entanto, nenhuma mudança foi feita na parte destinada à educação.

A abertura do capítulo mostra uma “tríade impulsionadora do País” - educação, cultura e inovação. Palma Filho relata que Marina “faz um bom diagnóstico da educação”, mas que acaba construindo um programa muito amplo e difícil de ser cumprido em quatro anos.

Veja, a seguir, o que dizem os programas de educação dos três principais candidatos à presidência a respeito de temas como ensino superior, educação infantil, infraestrutura, professores e ensino de jovens e adultos.

AÉCIO NEVES (PSDB)

Professores

O programa de governo de Aécio Neves fala em incentivar a formação de professores e cita melhoria na remuneração inicial. Uma das propostas é a participação da União no financiamento e remuneração de professores da educação básica de Estados e municípios.

A porta-voz de educação de Aécio, Maria Helena Guimarães, explica que a formação de professores teria três pilares: melhorar o salário inicial dos professores, dobrando a complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); criar incentivos para que alunos concluintes do ensino médio com os melhores desempenhos ingressem no mercado, mecanismo que poderá ser por pontuação no vestibular ou Enem; e, por fim, manter os benefícios aos professores por meritocracia, mas vinculados ao desempenho geral da rede e não ao individual do professor.

Para Ganizei, o incentivo ao salário é importante, mas mais importante é como Aécio traduziria esse fomento em uma institucionalidade. “O plano está muito genérico. Hoje, já existem várias legislações relacionadas à isso. É mais do mesmo. O programa deveria ter referência à legislação vigente, com metas e dados da mudança”.

Educação em tempo integral e infraestrutura

O programa prevê a implantação da escola de tempo integral. Os especialistas criticam a falta de infraestrutura para tanto. Cardoso lembra que uma sala de ensino integral tira o espaço de outra sala do turno da tarde, diminuindo a quantidade de vagas. “Esse projeto esbarra na falta de estrutura, falta de professores e laboratórios. É uma diretriz eleitoreira, porque todos gostam da ideia”, opina. Maria Helena concorda com a crítica, mas explica que o ensino integral seria implantado primeiramente nas periferias das grandes cidades, com uma meta de atingir um milhão de alunos em locais onde se tem os maiores problemas com violência e abandono escolar.

Internet sem fio

Nas propostas de infraestrutura, o principal destaque é o incentivo à modernização das escolas, com instalação de bibliotecas e adequação térmica para o verão. O programa promete instalar conexão wi-fi para todos os estudantes, mas as estratégias e custos necessários para tanto não estão especificados. “Se os programas fossem de empresas privadas, teríamos as mesmas frases e após, o número de escolas onde o wi-fi já está presente, o número de escolas que seriam atingidas ainda e em quanto tempo”, diz.

Em entrevista Maria Helena esclarece que é possível realizar a diretriz em quatro anos, citando que isso já acontece com o programa que o MEC oferece atualmente - de cursos preparatórios online para o Enem, por meio da plataforma Geekie Lab - e explica que seria retirado o foco no Enem e colocado no ensino médio e séries do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Quanto aos gastos, Maria Helena diz que “isso é prioridade no governo (de Aécio)". "Não há limites para esse gasto, que pode sair de recursos para a educação e também do pré-sal”. O professor Ganizei discorda que a medida seja viável no primeiro mandato. “No Brasil inteiro não é viável, são mais de 100 mil escolas e, em algumas localidades, sequer tem rede. Talvez seja possível se essa política iniciar agora e tiver um prazo maior, de 10 anos por exemplo”.

Ensino superior

O programa fala na ampliação de vagas apenas na educação privada. O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), Paulo Rizzo, considera a diretriz privatização do ensino superior, e observa que a meta já faz parte do programa do PSDB que já vinha sendo implementado na época de Fernando Henrique Cardoso.

“Ele vai ter como prioridade o setor privado. Será presidente não para fazer política pública da educação, mas para favorecer negócios privados da educação”, opina.

Maria Helena Guimarães, porta-voz de educação da campanha de Aécio, explica que essa diretriz tem relação com os programas do governo atual Fies e Prouni. “Não significa que não iremos ampliar as vagas no público, mas a diretriz fala desses programas, que vamos manter e aperfeiçoar. No ensino superior brasileiro, 75% é privado, e 50% desse percentual é subsidiado pelo governo federal por meio desses programas. Em 2002, tínhamos 2 milhões de alunos no ensino privado e hoje temos 6 milhões”.

Alfabetização e educação infantil

Na educação inicial, o programa de Aécio Neves fala no apoio aos municípios na universalização da pré-escola até 2016, meta que já está determinada no Plano Nacional da Educação (PNE). O programa do candidato não cita de onde sairão os recursos para cumprir essa diretriz nem as estratégias para chegar lá. O mesmo ocorre na diretriz 13, que fala do compromisso com a erradicação do analfabetismo.

Maria Helena explica que o governo de Aécio pretende implantar uma certificação específica para a formação na educação infantil, mas que não seria obrigatória para todos os profissionais. Para o professor da Faculdade de Educação da Unicamp Pedro Ganizei, o PNE já recomenda a certificação nacional para os gestores dos sistemas de ensino. Ele acredtia que a preocupação principal deveria ser com a formação de docentes, para evitar que profissionais formados em outras áreas apenas passem na certificação. “Hoje, segundo a Constituição, em relação à educação infantil, cada sistema de ensino define qual é a competência daquele que coordena uma creche, qual formação ele terá. Mas a grande preocupação é a falta de professores, por isso é melhor pensar na formação inicial, garantindo a carreira”.

Jovens e adultos

Aécio pretende reformular o currículo do ensino médio, quando os alunos estudariam linguagem e raciocínio matemático e depois escolheriam as áreas que iriam aprofundar. Para o professor João Cardoso Palma Filho, membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, as medidas são importantes, mas para cumpri-las, é preciso mudar a lei. “Haverá também uma grande resistência dos sindicatos de professores, porque alguns podem perder aulas na mudança das disciplinas. Teria de mudar o sistema de remuneração do docente também e analisar mais itens além de apenas o currículo”, diz.

Entre eles, ele cita que a medida do aprofundamento na área de escolha do aluno seria impossível no ensino noturno, que tem 25 aulas por semana para 12 disciplinas, totalizando duas aulas para cada matéria, deixando pouco ou nenhum tempo para aprofundá-las. O programa de Aécio propõe a eliminação progressiva do ensino noturno para menores de 16 e para alunos que não trabalham. Segundo Maria Helena, a meta é migrar 3 milhões de alunos para o ensino diurno, além disso, para o jovem maior de 16 anos, seriam dadas bolsas de manutenção para que estudem durante o dia.

Ensino técnico

Rizzo alerta que, para priorizar e ampliar o ensino técnico, é preciso saber qual é a demanda para esse tipo de educação. “Já houve uma expansão grande nesse quesito nos últimos anos do ensino de nível técnico com os institutos federais, mas não há no Brasil um dado que aponte a real demanda para isso. As pessoas acham que os alunos que não fazem ensino superior farão o técnico, que é mais curto e logo entrará no mercado de trabalho. Mas não há garantia de que esse aluno terá empregabilidade”.

Outro programa proposto por Aécio é o Mutirão de Oportunidades, onde seriam pagos salários mínimos mensais a 20 milhões de brasileiros, de 18 a 29 anos, que abandonaram a escola. O foco inicial seria nos Estados com maior índice de abandono escolar, com meta de ampliar para todo o País em 10 anos. Além de finalizar o estudo, os jovens teriam acesso a cursos de qualificação profissional, com duração de seis meses a dois anos.

Os recursos, segundo Aécio, viriam do pré-sal e do Fundo Nacional da Educação. O programa se assemelha ao Poupança Jovem, implantando pelo candidato em Minas Gerais e será também ampliado para o restante do País até 2017. Neste programa, o jovem que tiver boas notas poderá retirar um bônus de R$ 3 mil ao concluir o ensino médio.

Para Cardoso, os programas têm um caráter eleitoreiro. “Esses programas vão na linha de dar uma ajuda para a pessoa estudar, mas é preciso saber se esse pessoal que saiu da escola há muito tempo está interessado em voltar. Não acredito muito em pagar para o aluno estudar, mas sim no interesse que ele precisa ter para terminar os estudos, que se consegue investindo na qualidade da educação”, opina.

DILMA ROUSSEF (PT)

Professores

O programa de Dilma toca, em uma frase, na questão dos salários e formação dos professores. O documento fala em “enfrentar o desafio de valorizar o professor, com melhores salários e melhor formação”. No entanto, não aponta qual seria o real aumento de remuneração, tampouco as formas a serem usadas para qualificar o profissional.

“Se ela fala que vai valorizar (o professor), eu acho ótimo. A dificuldade é dizer o que isso significa”, critica Pedro Ganzeli, professor do Departamento de Política, Administração e Sistemas Educacionais da Unicamp. Segundo ele, o programa poderia ao menos reforçar as metas do Plano Nacional da Educação (PNE), embora elas devam ser cumpridas por qualquer presidente eleito, independentemente de sua campanha eleitoral.

A meta 15 do PNE, por exemplo, estabelece que os docentes da Educação Básica tenham formação em cursos de nível superior na área de conhecimento em que atuam. A 16, por sua vez, inclui a pós-graduação para a metade dos professores como objetivo. Os salários e planos de carreira entram, respectivamente, nas metas 17 e 18.

Nada disso é detalhado no programa de Dilma.

Fonte: Reuters.


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