COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
PERSPECTIVA APAVORANTE.
Nobres
Para envolver o
quadro político e eleitoral brasileiro, é preciso considerar a falência das
formas de disputa, de representação e de governabilidade construídas em nossa
incipiente experiência democrática. A polarização eleitoral dos últimos 20
anos, entre PT e PSDB, empurrou ambos os partidos para composições à direita, o
que revelou, a par das diferenças de cada uma das experiências de governo,
simetrias políticas e morais perturbadoras. Os governos do PSDB e do PT podem
ser identificados por suas mais importantes conquistas: a estabilidade econômica
e as políticas inclusivas, respectivamente. Devem, entretanto, também ser
lembrados pela incapacidade radical de produzir reformas institucionais e por
seus métodos não republicanos de gestão. Uma combinação perigosa que conduziu
ambos os blocos políticos à vergonha dos seus mensalões (o primeiro deles,
tucano, ainda sem julgamento) e a dezenas de outros escândalos de corrupção.
O que temos no Brasil é uma máquina política vocacionada ao assalto do Erário. Ela não foi inventada pelos atuais partidos e é possível que exista desde Tomé de Souza. O fato é que os governos das últimas duas décadas não desmontaram esta máquina, pelo contrário: a azeitaram. O Estado brasileiro vem sendo colonizado por projetos particulares de poder.
De um lado, pelo fatiamento de suas estruturas entregues aos partidos como se fossem feudos; de outro, pela preponderância do corporativismo, pelo crescente descompromisso com a função pública e pela usina de privilégios montada nas cúpulas dos Poderes. De uma forma intuitiva, milhões de pessoas expressaram, em junho do ano passado, seu fastio diante dos resultados mais evidentes desta trajetória: a ineficiência dos serviços públicos e o cinismo diante da corrupção. Os protestos rejeitaram os partidos, o que foi interpretado por alguns como “despolitização” ou “fascismo”. Muito possivelmente, entretanto, o que havia ali era um sintoma no fundamental progressista e inovador de recusa a uma política onde já não cabiam mais sonhos. Os milhões que foram às ruas aspiravam por reformas e suas expectativas foram traduzidas por símbolos porque esta é a linguagem dos sonhos. Diante deles, a resposta do Estado oscilou entre as promessas e as balas de borracha. Marina Silva incorpora, em muito, os símbolos daquelas manifestações. Ela mesma é uma coleção de símbolos generosos, mulher, negra, floresta, planeta, integridade. Por isso, talvez Marina seja a configuração de uma ideia cujo tempo chegou. Algo assim como a esperança convocada, desta vez por ironia, a enfrentar o medo, discorremos assim.
O que temos no Brasil é uma máquina política vocacionada ao assalto do Erário. Ela não foi inventada pelos atuais partidos e é possível que exista desde Tomé de Souza. O fato é que os governos das últimas duas décadas não desmontaram esta máquina, pelo contrário: a azeitaram. O Estado brasileiro vem sendo colonizado por projetos particulares de poder.
De um lado, pelo fatiamento de suas estruturas entregues aos partidos como se fossem feudos; de outro, pela preponderância do corporativismo, pelo crescente descompromisso com a função pública e pela usina de privilégios montada nas cúpulas dos Poderes. De uma forma intuitiva, milhões de pessoas expressaram, em junho do ano passado, seu fastio diante dos resultados mais evidentes desta trajetória: a ineficiência dos serviços públicos e o cinismo diante da corrupção. Os protestos rejeitaram os partidos, o que foi interpretado por alguns como “despolitização” ou “fascismo”. Muito possivelmente, entretanto, o que havia ali era um sintoma no fundamental progressista e inovador de recusa a uma política onde já não cabiam mais sonhos. Os milhões que foram às ruas aspiravam por reformas e suas expectativas foram traduzidas por símbolos porque esta é a linguagem dos sonhos. Diante deles, a resposta do Estado oscilou entre as promessas e as balas de borracha. Marina Silva incorpora, em muito, os símbolos daquelas manifestações. Ela mesma é uma coleção de símbolos generosos, mulher, negra, floresta, planeta, integridade. Por isso, talvez Marina seja a configuração de uma ideia cujo tempo chegou. Algo assim como a esperança convocada, desta vez por ironia, a enfrentar o medo, discorremos assim.
Antônio Scarcela
Jorge.
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