COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
RODÍZIO RUGOSO.
Nobres:
Além de demudar a bipolarização
dos últimos 20 anos, o atual quadro eleitoral da disputa pela Presidência da
República introduziu no vocabulário nacional um embate entre duas expressões: a
nova política e a velha política. Trata-se, evidentemente de um jogo de
palavras que não condiz com a realidade. Se quisermos adjetivar a política que
os brasileiros desejam e demonstraram inequivocamente nas manifestações de rua
do ano passado, as palavras adequadas devem ser decência, honestidade e
transparência. Isso não é novo, nem velho. É o que os brasileiros exigem de
seus governantes e representantes políticos. O que ficou evidenciado
particularmente a partir dos protestos de junho do ano passado é que os
políticos, de maneira geral, comprometeram-se com a mudança defendida nas ruas,
mas resistem em adotá-la na prática. O sinal mais claro da falta de vontade de
atender aos anseios populares é a pouca ou nenhuma disposição de levar adiante
uma proposta consistente de reforma política. Falta empenho até mesmo para
aprovar uma questão essencial para a moralização da política, como a proposta
de entidades civis, incluindo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de veto a
contribuições de empresas privadas para campanhas. Doações na expectativa de
posterior retorno sob a forma de incentivos fiscais, facilidades em licitações
e cargos públicos constituem-se hoje na principal brecha para deformação de uso
da máquina pública e para a corrupção. Nas condições atuais, candidatos a cargos eletivos raramente conseguem escapar
de acordos de conveniência para assegurar mais tempo no horário eleitoral
obrigatório. Além disso, dificilmente os eleitores asseguram maioria a quem
elegem para cargos executivos. Em consequência, os eleitos são forçados a
costurar acordos com líderes de partidos com os quais, muitas vezes, não têm
qualquer afinidade, na tentativa de assegurar condições de aprovar suas
propostas no Legislativo. Uma das consequências dessa prática é a transformação
da política num mero balcão de negociações, no qual o toma lá dá cá nada tem a
ver com os interesses dos eleitores. São comportamentos como esses que o país
não tem mais como tolerar. Independentemente de rótulos, o que os eleitores
almejam é política e políticos compromissados com a ética e o bem comum, com a
seriedade e a eficiência na gestão, além de transparência em todos os seus
atos, neste sentido é a inovada aspiração que objetiva o povo brasileiro.
Antônio Scarcela Jorge.
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