SÃO PAULO, SP - O dólar fechou
acima de R$ 3 nesta quinta-feira (5), pressionado por incertezas sobre o ajuste
fiscal prometido pelo governo e por apostas de que Banco Central possa
interromper, no final do mês, seus leilões diários de contratos de swap cambial
(equivalentes a uma venda futura de dólares).
Na quarta (4), a moeda atingiu
esse valor ao longo do dia, mas a cotação cedeu um pouco no fechamento. O dólar
à vista, referência no mercado financeiro, subiu nesta quinta 0,86%, para R$
3,004, na quarta alta desta semana. É o maior nível desde 16 de agosto de 2004,
quando a moeda encerrou a R$ 3,014. Na semana, a valorização já é de 5,26%. O
dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, fechou em alta de
1,04%, a R$ 3,011, também pela quarta sessão seguida. O valor é o maior desde
13 de agosto de 2004, uma sexta-feira, quando a moeda fechou a R$ 3,021. Na
semana, o dólar comercial acumula alta de 5,43%.

"Há um time de agência de classificação
de risco no Brasil Standard & Poor´s já desembarcou e Fitch está a caminho,
reavaliando da nota do país. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda tenta fazer
o ajuste fiscal, mas a cena política não deixa", ressalta Fabiano Rufato,
gerente-sênior da mesa de câmbio da corretora Western Union.
O ajuste fiscal é um dos pontos
mais sensíveis no momento, após o Congresso devolver a medida provisória que
aumentava tributos pagos por empresas de vários setores, apresentada pelo
governo no fim da semana passada. Em relatório, Marco Aurélio Barbosa, analista
da CM Capital Markets, afirma que a equipe econômica poderia realizar um ajuste
fiscal de R$ 87 bilhões sem "passar pelo Congresso", pois 78% dos R$
111 bilhões pretendidos cabem ao Executivo. "Todavia, esses nada
desprezíveis R$ 24 bilhões, caso não sejam aprovados, podem ser decisivos para
que a nota de crédito do Brasil seja rebaixada", diz. O valor é necessário
para o governo atingir a meta de superavit primário, a economia feita para
pagar juros da dívida pública, de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste
ano.
JURO BÁSICO.
O aumento do juro básico (taxa
Selic) foi praticamente desconsiderado pelo mercado. Com a alta de juros, o
governo tenta controlar a inflação e, ao mesmo tempo, capturar mais
investidores estrangeiros em busca de uma remuneração mais alta.
O aumento dos juros, em tese,
deixa os títulos brasileiros, remunerados pela taxa, mais atraentes. "A
alta da Selic já estava no preço, pois a equipe econômica já tem dado um viés
de alta na taxa de juros há algum tempo", diz Fabiano Rufato.
NOTAS DE CRÉDITO.
Em setembro do ano passado a
agência de classificação de risco Moody's colocou a nota do país em perspectiva
negativa. Atualmente, o Brasil tem nota Baa2 na agência, o que indica grau de
investimento (selo de local seguro para se investir) com risco de calote
moderado. É o segundo acima do grau especulativo, de menor segurança para os
investidores (maior risco de calote).
Na Standard & Poor's, o país
tem nota BBB-, a última de grau de investimento na agência. Caso seja rebaixado
novamente por essa agência, o país passará ao grau especulativo na avaliação da
S&P. Na Fitch, a nota brasileira é de BBB, com perspectiva estável.
LEILÕES.
Além da preocupação com o ajuste
fiscal, a possibilidade de o Banco Central interromper suas atuações diárias no
mercado de câmbio faz com que os investidores testem novos patamares para a
moeda. Desde segunda (2), o BC tem feito leilões de rolagem com um volume menor
que o habitual, o que leva analistas a acreditar que serão renovados apenas 80%
do total de US$ 9,96 bilhões.
"Há uma incerteza sobre se o
BC vai ou não renovar o programa de swap cambial diário. Isso ocorre dentro da
nova diretriz que o próprio ministro Joaquim Levy havia falado, de que não
deixaria o câmbio artificialmente precificado. A tendência é que o real se
desvalorize", diz Carlos Pedroso, economista sênior do Banco de
Tokyo-Mitsubishi.
"Aparentemente, o Banco
Central está reforçando isso, à medida que não fez nenhuma intervenção no
mercado para segurar a moeda", complementa. O BC tem feito intervenções na
economia desde o final de 2013, para impedir um avanço expressivo da moeda
americana com a retirada dos estímulos à economia dos EUA e também com o
possível aumento da taxa de juros no país. O BC vendeu 2.000 contratos de swap
cambial. Foram vendidos 1.700 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 300 para
1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 98,3 milhões. O BC
também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de
abril. Até agora, foram rolados cerca de 14% do lote total, que corresponde a
US$ 9,964 bilhões.
Fonte: Folhapress.
Nenhum comentário:
Postar um comentário