O QUE O SEU MESTRE
MANDAR.
Ricardo Noblat.
Dilma não tem outro caminho a não ser o apontado por Lula. Reclame à
vontade. Diga que continuará governando de olho em sua biografia. Não tem jeito.
A presidente Dilma Rousseff tem
duas opções: achar que o pior já passou, e que o tempo se encarregará de
arrefecer a rejeição da maioria dos brasileiros ao seu governo, a se levar em
conta não só as multidões que ocuparam, ontem, as ruas, mas também pesquisas de
opinião pública prestes a sair do forno. Ou então adotar medidas que convençam
o distinto público de que ela está disposta de fato a mudar. Como e mudar para
quê, não sei.
Lula se queixa abertamente do que aponta como indisposição de
Dilma para conversar, e até mesmo para ouvir conselhos. Engrossou com ela a
semana passada durante reunião no Palácio da Alvorada. Quem estava por lá jura
que Lula bateu forte com a mão na mesa e levantou a voz com Dilma, cobrando
dela que reformasse o quanto antes o ministério medíocre que montou. Dilma
também gritou. Se dependesse de Lula, Dilma reservaria a Aloízio Mercadante
(PT-SP) apenas a chefia da Casa Civil da presidência, sem que se metesse com a
coordenação política do governo. Dilma mandaria embora da coordenação política
o ministro Pepe Vargas (PT-RS), das Relações Institucionais, considerado por
Lula como fraco. E o substituiria pelo ministro Jaques Wagner (PT-BA), da
Defesa. Não ficaria só nisso. Dilma seduziria o PMDB com a oferta de mais um ou
dois ministérios, de modo a que se tornasse mais difícil para ele abandoná-la. E
restabeleceria relações com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Renan, mais do que
Eduardo, aumentou a distância de Dilma. E ela não pode se dar a esse luxo. A
equipe de comunicação do governo deveria ser totalmente revista, segundo Lula.
É com o marqueteiro João Santana que Dilma ainda troca ideias. Pois ela tem
cultivado o isolamento. Para refletir, informam alguns dos seus porta-vozes.
Por desconfiança com os que a assediam, admite gente ligada a Lula. Um dos
ministros do governo afirma que Dilma parece perdida. Ou está mesmo. É tudo o que
não é possível, observa Lula. Dilma deveria ser humilde a ponto de fazer um
pronunciamento à Nação pedindo desculpas pelos erros que cometeu. E explicando
com mais clareza e sem truques o ajuste fiscal que está sendo obrigada a
promover. João Santana dará um jeito de ser um pronunciamento melhor do que o
mais recente, recepcionado por um panelaço... Quanto ao resto... - Dilma não
poderia cair na tentação de amenizar o arrocho fiscal para satisfazer as
tendências mais à esquerda do PT e de outros partidos. E que continuasse
circulando pelo país, de preferência em áreas capazes de tratá-la bem, à espera
dos resultados da política econômica do ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Por
fim, se Dilma fosse de rezar, que rezasse. Em momentos de aperto severo, Lula
reza. Desculpa-se por ter escolhido Dilma para sucedê-lo, mas argumenta que não
tinha outro nome. Antonio Palocci e José Dirceu, nomes naturais, haviam se
danado com o mensalão Arrepende-se de não ter acertado com ela sua volta como
candidato a presidente da República no ano passado. Imaginou que Dilma deixaria
a cadeira para ele. Enganou-se. Como se vê, a receita de Lula para que Dilma se
recupere é a mais convencional possível.
Aplicado a ele talvez desse certo, mas
por ser Lula quem é. Dilma não tem outro caminho a não ser o apontado por Lula.
Reclame à vontade. Diga que continuará governando de olho em sua biografia. Não
tem jeito. Fará o que seu mestre mandar. O contrário seria o imponderável.
*Ricardo José
Delgado Noblat – jornalista de renome internacional.
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