ABSURDO POR QUÊ?
Valmir Pontes Filho.
Tenho ouvido de muita gente,
respeitabilíssima inclusive, a afirmação de que é um "absurdo"
falar-se em impeachment da atual Presidente da República. Afinal, dizem, ela
foi eleita legitimamente (mesmo diante das deslavadas mentiras assacadas
durante a campanha) há poucos meses. Países existem em que o instituto do
recall ("rechamamento") de exercentes de mandatos políticos é
absolutamente normal, satisfeitos alguns formais e rígidos requisitos.
No Brasil, lamentavelmente, isto
não existe, Mas está constitucionalmente previsto, todavia, o impedimento,
razão pela qual a utilização desse instrumento, expressamente previsto pela
própria Constituição, jamais pode ser encarado como algo "golpista".
Tal caminho é cabível, sim, desde que se prove, de maneira inequívoca, a
prática, pela Presidente, de um crime de responsabilidade durante o seu atual
mandato. Isto em processo no qual se lhe garanta a mais ampla defesa e o
contraditório. Provado que nenhum crime (de responsabilidade) ela cometeu, a
Câmara sequer autorizaria a continuidade do processo de impeachment. Não se trataria, pois, de algo
aventuresco, como o seria, a desdúvidas, a derrubada do governo por um
movimento militar. Qualquer movimento castrense neste sentido é que seria, sim,
politicamente intolerável e juridicamente inadmissível. Quaisquer soluções
buscadas à margem da Constituição nunca devem nos iludir, por dois erros não
provocam um acerto. Já vi esse filme, meus caros, e ele não tem bom enredo!
Causou-me indignação, portanto, a fala do Ministro Rossetto, em cadeia nacional
de rádio e TV. Fez ele referência (tornou-se um "mantra") a uma
suposta "campanha do ódio", quando é certo que as manifestações de
domingo, além de espontâneas, foram absolutamente pacíficas. Exceto por conta de um grupelho
radical que, visando a causar tumultos em São Paulo, foi preso com substâncias
inflamáveis e isqueiros. Ódio parece ter S. Exa., mas contra todos que pensem
diferentemente dele. De outra banda, além de prometer medidas contra a "corrupção
e a impunidade" - que, na verdade, deveriam ter sido tomadas há tempos -
poderia o Ministro Cardoso (jurista de escol e por quem tenho pessoal admiração
intelectual) ter feito, em nome do Governo, um mea culpa. Humildade não faz mal
a ninguém! Ainda que velho (idoso é mais
"politicamente correto", não é? rs), continuo a ter fé e esperança
num Brasil melhor. Confio na juventude que, não
amolentada pelo medo nem corrompida pelos sórdidos exemplos que lhe são
oferecidos, quer algo saudável para o nosso país. Não quero sair do Brasil, mas
morar num Brasil melhor. Perdoem-me se pareço ingênuo. Prefiro sê-lo do que
desperançado.
*VALMIR
PONTES FILHO.
Advogado.
EM CONSIDERAÇÃO:
Nenhum comentário:
Postar um comentário