CONTO DO PROFESSOR ANTÔNIO ROBERTO
...TEM BOI NA LINHA...
Dias atrás encontrei no portão de minha
casa alguns protótipos de ingressos de circo. Prometiam desconto no preço das
entradas mediante apresentação daqueles papeis. Joguei-os fora e segui absorto,
de repente ao dobrar a primeira esquina deparei-me com três palhaços sentados
no chão à sombra das acácias. Alegres, em papo animado separavam as
ditas propagandas para jogarem nas entradas das casas. Observei-os rapidamente.
Todos pintados e usavam modernos tênis, perucas de plásticos e estavam
relativamente bem vestidos. Dias antes eu vira uma camionete cheia de anões
vestidos da mesma forma. Mais uma vez mergulhei no passado e lá estava eu no
começo dos anos sessenta.
Hoje tem
espetáculo? Tem “sinsinhor”. Às oito horas da noite? É sinsinhor. E arrocha
“negada”! EHHH! Arrocha negada! EHHH!
E o
palhaço o que é? É ladrão de “muié”! E o palhaço na rua? É ladrão de perua!
Arrocha negada! EHHH!
Oi nasce o Sol esconde a Lua. “Oia” o palhaço no meio da rua. Arrocha negada! EHHH!
Oi nasce o Sol esconde a Lua. “Oia” o palhaço no meio da rua. Arrocha negada! EHHH!
E lá vinha
equilibrando-se nas pernas de pau com um “megafone” de lata, seguido por uma
turma de meninos. Meninos que “gritavam o palhaço” e eram marcados com uma
tinta para entrarem de graça no circo. E lá vinha ele, um "cara
pintada" a repetir: Hoje no Grande Circo do Fadiga a estreia sensacional
do Grande Espetáculo com equilibristas, trapezistas, dramas e o grande palhaço
Fadiga. Não percam logo mais ás oito horas da noite. Hoje tem espetáculo? Tem
sinsinhor! Às oito horas da noite? É sinsinhor! Arrocha negada! EHHH!
E para lá
acorreu toda a nossa geração. O Grande Circo não passava de um pequeno palco
rodeado por uma empanada sem cobertura e cercado por uma vigiada cerca de arame
para prevenir dos penetras. Quem não tinha namorada aproveitava para paquerar.
Mas a atenção maior era para as batidas de metal que anunciavam a proximidade
do inicio do Grande Espetáculo.
Um
indivíduo entrou no picadeiro e pediu silencio para a plateia que lotava todas
as cadeiras e todos os “puleiros” (arquibancadas), além dos que estavam em pé.
Com os senhores e senhoras de Nova Russas o grande palhaço Fadiga! O grande
palhaço Fadiga! Fadiga! Cadê você? Insistia o homem que seria o coadjuvante do
Fadiga.
Depois de uma
fingida relutância ele entrou. Entrou e “ganhou” a todos. Risos e mais risos.
Risos de todas as idades. Ali estava o talento. Talento que nos fez rir durante
meses. Talento que fazia dos mais simples improvisos uma grande hilaridade.
A estação chuvosa
chegou, mas, o circo já estava coberto. As chuvas copiosas caiam enquanto
riamos. “Tem boi na linha tem, tem, tem”.
“Tem
boi na linha Catarina vem no trem” Cantava a atriz V8.
“Fadiga tu num te alembra do dia qui nóis casou”. Fadiga: A festa foi no
terreiro qui até as véia dançou.
Fadiga tu num te alembra do dia qui nóis casou! Fadiga: “A rede veia
comeu foi fogo foi com nóis dois prá lá e prá cá”...
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